Divico: o herói necessário

O mito de Divico nasceu há quase 200 anos, em uma época de escassez de heróis. O líder do povo helvético dos Tigurinos deixou sua marca na história com seus atos de bravura e seus discursos irreverentes a respeito de Júlio César.
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Os helvécios recebem reféns, mas não os entregam: essas são as palavras que Júlio César atribuiu ao combativo tigurino Divico no final do século II a.C. Divico e sua tribo reivindicavam então a área que se estendia ao longo do atual Jura até o Lago Genebra. Sob crescente pressão dos povos do norte, eles partiram em busca de novas terras. Essa busca os levou às regiões que hoje compõem a Borgonha e o sul da França. Os Tigurinos, um subgrupo dos Helvécios, atravessam assim o território de outros povos de maneira nada pacífica. Eles eram considerados belicosos.
Em 107 a.C., os romanos e os helvécios finalmente entram em confronto em Agen, no sul da França. As tropas romanas haviam respondido aos pedidos de ajuda dos povos ali residentes, que agora estavam sob ameaça, mas também em seu próprio interesse: queriam conter os anseios expansionistas dos povos nórdicos e proteger as fronteiras de seu império. A batalha que se seguiu, contudo, terminaria em humilhação para as bem equipadas tropas romanas, durante a qual seu comandante, o cônsul Lúcio Cássio Longino, foi morto.

Foi somente em junho de 58 a.C. que um grave revés às margens do Saône levou os helvécios à mesa de negociações. Júlio César lhes dá uma lição dolorosa e sangrenta. Segundo seu relato, talvez um pouco propagandístico, seus homens construíram em pouco tempo uma ponte sobre o rio para perseguir ainda mais os derrotados helvécios. Por sua vez, os adversários tentaram chegar à outra margem usando meios improvisados, como canoas e feixes de madeira.
Realmente impressionados, os helvécios se mostram então prontos para conversar. Durante as negociações posteriores, Divico não deixou de lembrar que os helvécios haviam aprendido com seus pais e ancestrais que as batalhas são vencidas mais pela bravura do que pela astúcia. De fato, a sorte estava do lado dos helvécios nos confrontos precedentes.

Sua atitude ousada e seus discursos às vezes irreverentes em relação ao procônsul romano e futuro autocrata Júlio César fizeram de Divico um dos primeiros “Guilherme Tell”. Ele morreu como herói em julho do ano de 58 a.C. no campo de batalha de Bibracte, onde os Tigurinos, juntamente com outras tribos helvéticas, lutaram contra a supremacia romana e foram derrotados. Embora a esfera de influência dos povos helvéticos tenha sido permanentemente prejudicada por esse confronto, Divico tornou-se ao menos uma lenda.
Assim como Guilherme Tell, cuja vida é contada em várias versões desde o século XV, Divico também tinha a estatura de um herói nacional. Sua aura era tal que Conrad Ferdinand Meyer não hesitou em situar o cenário da batalha de Agen na Suíça, conforme atesta o poema Das Joch am Leman, escrito em 1882.
Se a história de Divico, ao contrário da de seu homólogo da Suíça central, foi por muito tempo conhecida por um público mais acadêmico, isso se deve ao fato de que o estudo dos escritos de Júlio César em latim sobre a Guerra das Gálias era obrigatório na universidade. No entanto, ambos os relatos certamente deixaram uma impressão imperecível e reconfortante nos corações suíços.
Adaptação: Karleno Bocarro
Katrin Brunner é uma jornalista independente, especializada em história e cronista de Niederweningen.

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