Como será o olhar dos arqueólogos do futuro para os objetos do nosso cotidiano? O Museu Romano de Lausanne-Vidy oferece algumas respostas possíveis no contexto de uma exposição "Regresso ao Futuro Anterior". Para além do seu aspecto engraçado e singular, esta exposição convida a uma reflexão sobre a arqueologia.
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Sou o principal responsável pela tradução, revisão e publicação de artigos para a SWI swissinfo.ch. Ocasionalmente, também escrevo resenhas de imprensa e artigos originais sobre "curiosidades suíças" - as coisas que tornam a único esse país.
Depois de estudar história e estudos religiosos, comecei minha carreira jornalística na Rádio Friburgo. Depois de um período na Agência Telegráfica Suíça, entrei para a SWI swissinfo.ch em 2000, onde me especializei em política federal e história. Agora, traduzo, reviso e produzo artigos.
A exposição temporária oferece nada menos do que uma viagem no tempo. Para entrar no clima, o público é convidado a passar por uma espécie de cabine espaço-temporal. As portas fecham-se em 2023 e abrem-se, alguns instantes depois, para uma sala de exposição do ano… 4023.
À primeira vista, nada de muito surpreendente. Vitrines repletas de objetos facilmente reconhecíveis sucedem-se em um cenário inteiramente branco. É de fato no momento que se leem as explicações relativas a cada objeto que surge o elemento surpresa. Por exemplo, soquetes de cartuchos de fuzil são apresentados como garrafas em miniatura. Ou simples moedas que se transformam em “discos de bifaces indígenas”.
Toda a exposição joga com esse deslocamento entre nosso conhecimento dos objetos de nosso cotidiano e sua interpretação por arqueólogos do futuro.
Mas uma vez terminada a diversão, a exposição levanta uma verdadeira questão. Se a interpretação errônea que hipotéticos arqueólogos do futuro fazem de nossos objetos pode parecer crível, então que credibilidade pode ser dada à interpretação que nossos arqueólogos de hoje fazem dos objetos do passado?
“A exposição sugere justamente mostrar os limites da interpretação arqueológica”, declara a arqueóloga Sophie Weber, curadora do Museu Romano de Vidy-Lausanne. “A arqueologia é uma ciência humana, não uma ciência exata. É forçosamente empírica e subjetiva; é o discurso de um ser humano que é forçosamente condicionado por seu tempo e por sua experiência”.
“A intenção não é denegrir, mas mostrar até que ponto a sondagem arqueológica deve ser minuciosa e que é preciso ser humilde em relação às interpretações”, continua. Os lacustres constituem um excelente exemplo. No passado, deduzia-se, pela presença de estacas de madeira nos lagos, que suas casas eram construídas sobre a água. Mas hoje se sabe que as casas foram construídas nas margens e que as estacas ficaram submersas devido à subida das águas”.
A interpretação dos vestígios arqueológicos é mais ou menos fácil em função da existência de outras fontes. Por exemplo, é bastante fácil compreender o significado de uma peça de cerâmica que representa a queda de Ícaro, porque o relato desse mito grego chegou até nós sob uma forma escrita. Em contrapartida, compreender o significado ou a finalidade de uma pintura rupestre pré-histórica é mais complicado.
Rumo a uma sociedade amnésica
Antes de entrar na cápsula espaço-temporal, a exposição “Regresso ao Futuro Anterior” aborda também o tema da vida útil de nossos objetos. Devido aos materiais utilizados – plástico, material sintético – muitos deles resistirão mal às investidas do tempo, muito menos do que os objetos feitos de metal, cerâmica ou vidro.
Soma-se a isso o fato de que os documentos que permitem esclarecer seu contexto também se tornam mais frágeis. “O pergaminho de outrora resiste muito melhor ao passar dos séculos do que o papel atual, feito de celulose. E isso sem contar todo o problema da durabilidade das mídias digitais”, alerta Sophie Weber.
“Nunca produzimos tantos objetos e informações, mas tenho a impressão de que restarão menos vestígios do que antes”, acrescenta. “Eis o verdadeiro paradoxo do nosso tempo. Estamos a caminho direto para uma sociedade amnésica”.
Esta exposição foi criada há duas décadas por Laurent Flutsch, antigo diretor do museu, mas também um humorista muito conhecido na Suíça francófona, notadamente nas ondas da rádio RTS.
Situado perto da margem do Lago de Genebra, o museu alberga os restos de uma rica residência romana e apresenta em sua exposição permanente o material arqueológico descoberto nos antigos sítios de Lausanne (Lousonna).
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