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Diáspora quer influenciar destino do Haiti

Haiti uma solidariedade a reconstruir. Keystone

Ainda sob choque, os haitianos residentes na Suíça já pensam no futuro e pretendem ter maior influência para tirar o Haiti da miséria.

Essa participação foi discutida recentemente em uma mesa-redonda em Porto Príncipe e ela poderá ser acelerada pelo impacto do terremoto.

Dada a grande dificuldade de entrar em contato com a ilha devastada, a pequena comunidade haitiana na Suíça (aproximadamente mil pessoas) ainda tem poucas notícias de suas famílias no Haiti, dias depois do terremoto que atingiu a capital, o oeste e o sul do país.

Os raros contatos e as notícias passam geralmente por outros membros da diáspora, em particular os que estão nos Estados Unidos, mais numerosos.

Neste sábado (16), muitos deles vão se reunir em Lausanne (oeste da Suíça) para se consolar, trocar informações, refletir sobre a melhor maneira de organizar a ajuda e pensar no futuro.

Por enquanto, Jean-Wilfrid Fils-Aimé, secretário-geral do Clube Haitiano da Suíça, considera preferível apoiar a estrutura suíça em casos de catástrofe, ou seja, a Rede da Bondade (que recolhe recursos destinados às ONGs parceiras), e não lançar iniciativas autônomas difíceis de organizar.

Depois que a fase de urgência passar e o trabalho de profissionais da ajuda humanitária terminar, a diáspora tem um grande papel a desempenhar, segundo Aimé, engenheiro de profissão.

O peso da diáspora

“Não podemos deixar esse país à deriva. A diáspora deve pesar sobre a orientação que tomará a reconstrução. Esse é nosso maior desejo”, afirma

Jean-Wilfrid Fils-Aimé, que vai multiplicar os contatos nos Estados Unidos e no Canadá, onde vive a maioria dos 2 milhões de haitianos da diáspora (para uma população de quase 9 milhões de habitantes) para elaborar projetos comuns.

De fato, a diáspora, principalmente pessoas da classe média haitiana, já desempenha um papel determinante para a sobrevivência de uma população em que 80% vivem com menos de dois dólares por dia.

Em 2008, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os haitianos do estrangeiro enviaram 1,8 bilhão de dólares ao país, ou seja, o dobro da ajuda internacional. Um apoio que diminuiu com a crise, mas que deverá aumentar novamente depois da catástrofe de terça-feira.

“Um envolvimento maior da diáspora – que ajuda não somente as famílias, mas toda a comunidade a que pertence – já está na ordem do dia no Haiti”, explica o sociólogo Charles Ridoré, uma das grandes figuras da comunidade haitiana na Suiça.

Primeira reunião

“Participei em outubro passado de uma mesa-redonda em Porto Príncipe sobre as relações entre a diáspora e pátria-mãe. Discutimos o papel, o espaço dessa relação e os obstáculos para o futuro. Estava presente nessa reunião Edwin Paraison – que tornou-se ministro encarregado da diáspora – e que defendeu um maior envolvimento dos haitianos do estrangeiro”, conta Charles Ridoré, ex-responsável da ONG Ação de Quaresma.

“A diáspora considera-se um saco sem fundo que só serve para mandar dinheiro”, acrescenta Ridoré. “Mas sua maior participação é vista como concorrência incômoda por alguns habitantes. O diálogo deverá resolver esses problemas e o terremoto pode acelerar esse processo.”

Um primeiro obstáculo foi superado pelo Parlamento em fim de mandato, que adotou uma resolução permitindo aos haitianos ter dupla nacionalidade e, portanto, poder se engajar no país sem dificuldades administrativas, segundo Charles Ridoré, que precisa que a lei de aplicação deverá ser elaborada depois das próximas eleições legislativas e presidenciais.

Outra personalidade da comunidade haitiana na Suíça, Marie-Lourdes Desardouin tem a mesma opinião. “Não podemos continuar assim. A diáspora tem um grande papel a desempenhar”, afirma a vereadora cidade de Vernier, no estado (cantão) de Genebra.

Jovens se mobilizam

“Como vejo com minha filha, a jovem geração também tem muita vontade de se engajar e já trabalha muito bem em rede. Pretendemos organizar um evento no final de semana em Vernier em solidariedade com a ilha, com um grupo de hip-hop, formado por nossos jovens.”

Enquanto isso, essa enfermeira procura saber o que aconteceu com seus familiares, que ficaram no país, e do hospital e da escola que sua associação Anmwe pou Ayiti (socorro para o Haïti, em crioulo) apoia no sul do país, também atingido pelo terremoto.

Por sua vez, Jean-Wilfrid Fils-Aimé sublinha que a ajuda da diáspora será destinada aos sobreviventes que perderam tudo. “Não existe seguro para as casas e elas geralmente são a única riqueza para os que tem uma casa e nela investiram todas as economias.”

No dia a dia

Sua esposa Lorvelie lembra o estado de espírito de uma população em luta permanente pela sobrevivência. “A maioria dos haitianos não tem capacidade de pensar no futuro porque as necessidades básicas – alimentação, saúde, educação – não são satisfeitas. Todos vivem no dia a dia.”

Segundo Charles Ridoré, essa realidade é particularmente chocante em Porto Príncipe. “A capital atraiu um êxodo dos haitianos mais pobres, mais marginalizados, inclusive no plano moral. Os laços de solidariedade foram rompidos”, explica o sociólogo.

E Charles Ridoré conclui: “Teme-se que o terremoto agrave esse estado de espírito e a miséria absoluta em que viviam antes de terça-feira. No campo, em contrapartida, o espírito de ajuda mútua continua vivo.”

Frédéric Burnand, Genebra, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

A Rede da Bondade, órgão de coleta de fundos da rádio e televisão suíça ( SSR idée suisse), que financia vários projetos no Haiti, abriu uma conta em favor das vítimas do terremoto.

A organização pretende, com ajuda de seus parceiros suíços de ajuda humanitária, pretende reforçar a ajudar de urgência à reconstrução.

As doações pode ser feitas através da conta postal l10-15000-6 com a menção «Haiti», ou via Internet.

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