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Diogo, a “cara de Portugal” na Suíça

Diogo, durante o jogo Portugal 3 x 1 República Tcheca, em Genebra. SR DRS

Durante um mês, o torcedor português Diogo Cotta e um fã holandês foram acompanhados passo a passo pelos repórteres da rádio suíça DRS3 no país co-anfitrião da Euro 2008.

Diogo vive em Lisboa, adora futebol e joga com os amigos todas as terças-feiras. Ele torce para que Portugal vença a Alemanha e passe às semifinais, mas diz que “os alemães têm a vitória no sangue”.

Antes de embarcar de volta à capital portuguesa, nesta terça-feira à noite, ele falou com swissinfo sobre sua experiência na Suíça, a seleção portuguesa e sobre suas expectativas em relação ao jogo de Portugal contra a Alemanha, na Basiléia.

Como foi a experiência de ser a “cara de Portugal na Suíça” para a rádio DRS?

A experiência na Suíça foi inesquecível. O futebol ficou inesperadamente em segundo plano e posso dizer que foi uma experiência pessoal bastante enriquecedora. Viajei por muitas cidades que, para um europeu do sul, nada têm a ver com aquilo com que estou habituado. Nesse sentido, são interessantes só por serem diferentes. Para além do mais, tive a oportunidade de ver neve pela primeira vez na vida.

Você disse em sua chegada que via a Suíça como um país muito organizado. Isso se confirmou na Euro?

Na cidade onde mais tempo estive, na Basiléia, acho que a organização falhou em alguns aspectos. A realidade é que eles construíram demasiadas zonas para fãs, o que fez com que as pessoas se espalhassem demasiado, não possibilitando a existência de um verdadeiro clima de festa. Naturalmente, o mau tempo não ajudou, mas julgo que eles simplesmente se equivocaram nas expectativas quanto ao número de visitantes.

E o jogo na Basiléia? Portugal ganha da Alemanha e consegue chegar até a final?

Em relação a Portugal não estou excessivamente confiante. Julgo que tem com certeza hipóteses de chegar às meias-finais, mas vai ser preciso alguma sorte. A maior fraqueza da equipa são os lances de bola parada, livres e cantos, sendo que essa é uma característica em que os alemães são normalmente fortes. Depois existe obviamente uma enorme diferença entre a experiência e a cultura das duas equipas. A Alemanha tem a vitória no sangue e Portugal só nos últimos 12 anos tem vindo a construir uma história digna no futebol de selecções.

A equipa é muito diferente daquela que esteve no Mundial e metade dos jogadores tem pouca ou nenhuma experiência internacional, o que nesses torneios de poucos jogos é fundamental. Ainda assim, existe ali muito talento e se conseguirem materializá-lo mais vezes em golos, temos uma hipótese.

Qual é o seu palpite para o jogo?

O meu desejo é que Portugal ganhe 3-0, mas a minha expectativa realista é que perca 1-2.

O que você diz sobre o “circo” envolvendo contratos de jogadores, como Cristiano Ronaldo ou Deco, o do próprio técnico Scolari, em plena Eurocopa?

Esse circo não é algo que me surpreenda. Toda a organização do futebol português não se dá ao respeito, nesta como noutras matérias. Os jogadores, que muitas vezes não são mais do que crianças, que nunca pensaram em nada na vida se não em futebol, são meras marionetes de agentes, treinadores e dirigentes. Em todo o caso, na Suíça não acompanhei diariamente os jornais e é matéria que cada vez menos me interessa. Simplesmente já não espero melhora.

Em que a Euro 2008 é diferente da Eurocopa 2004 em Portugal?

É difícil responder. Durante o mês em que o torneio decorreu em Portugal, eu estava a terminar o meu curso universitário, o que significa que não pude participar da mesma maneira como aconteceu na Suíça. Não seria justo fazer comparações. De qualquer maneira, é óbvio que existia uma euforia latente nas ruas. Era verão e Portugal estava a conseguir ultrapassar todas as etapas. Lembro-me de haver mais gente, mas pode ser impressão.

O que você achou do clima nos estádios da Euro na Suíça?

Vi um jogo no estádio, Portugal contra República Checa. Gostei bastante, porque, sendo os estádios na Suíça muito pequenos, o espectador está mesmo em cima do jogo. Qualquer pessoa que perceba minimamente do jogo, sabe que isso é uma experiência bastante interessante. Aqueles que na televisão parecem robôs estão ali, logo ali, e percebe-se quão difícil é controlar uma bola, ou fazer um passe de 40 metros, ou correr a alta velocidade com a bola controlada. Mais do que tudo, percebe-se que o futebol contemporâneo é um desporto altamente complicado, onde cada jogador tem dois ou três segundos para pensar e 1 ou 2 metros para jogar.

Você festejou com os portugueses na Suíça?

Não festejei muito com portugueses. Festejei com os meus amigos, que é como acontece habitualmente. Não tenho muita paciência para grandes concentrações de pessoas que não sabem fazer mais do que gritar. Adoro ver futebol e adoro jogar futebol, mas não encontro muitas vezes pessoas com que me apeteça discutir futebol.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

Diogo Cotta, 27 anos, é filósofo e trabalha na Universidade de Lisboa.

Diogo confirmou clichês que se tem na Suíça em relação a Portugal?

“Sinceramente, não tenho na cabeça um ‘clichê de Portugal’, antes um ‘clichê geral dos países do sul da Europa’, de que eles são mais temperamentais do que nós suíços. Diogo não corresponde a esse clichê no sentido de que não é machão. E ele sempre foi muito pontual! Ele até chegava cedo demais! Ele me disse que isso não é típico para um português. E que não é típico que alguém com vinte e sete anos more sozinho. Mas um clichê ele preenche: ele é muito comunicativo. Ele com certeza conta mais histórias do que um suíço. E ele é um gentlemen – sempre carregou meu equipamento de rádio …”

Andrea Fehr, repórter da rádio DRS3, que acompanhou Diogo na Suíça

DRS3 (www.drs3.ch) é uma emissora de rádio suíça, que transmite programas em alemão especialmente para o público jovem. A rádio faz parte da Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão (SRG, na sigla em alemão), grupo multimídia de direito público ao qual pertence também a swissinfo.ch.

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SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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