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Dois suíços abrem as portas de Guantánamo

Entrada virtual do "Campo Delta", em Guantanamo Bay. zone*interdite

Dois artistas suíços de Berlim reconstroem na Internet a prisão de Guantánamo. O site se tornou uma sensação pelo realismo.

Batizado de “Zone*Interdite”, ele é um projeto de estética da informação e permite colocar os visitantes como um “espião” dentro do campo.

“Zone*Interdite” é um projeto de estética da informação e permite colocar os visitantes como um “espião” dentro do campo.

“Nossa percepção do mundo é cheia de lacunas. As observações que fazemos seguem regras que não foram fixadas por nós e…dessa forma acabamos sempre chegando em zonas proibidas”, escrevem os artistas no site.

Instalados em Berlim, capital da Alemanha reunificada, Christoph Wachter e Mathias Jud descobriram através da leitura as zonas de controles militares herdadas da época da Guerra Fria. Fascinados, os dois suíços originários de Zurique começaram a partir de 2000 a reunir informações sobre o tema.

No início, os dois queriam “desenvolver sua própria visão do mundo”. Hoje, qualquer pessoa no mundo pode conhecê-la ou até mesmo contribuir com novas informações graças à Internet.

O site lista 1.200 zonas militares espalhadas no globo e também oferece duas visitas virtuais. Uma abre as portas de um campo de treinamento para terroristas islâmicos no Sudão e o outra exibe a famosa prisão de Guantánamo, onde o exército americano detém desde 2002 membros supostos da rede terrorista Al-Qaeda.

Buracos negros

“Ilhas, zonas e muitas vezes até mesmo cidades inteiras desaparecem, transformadas em bastiões do poder, em buracos-negros”, constatam os dois artistas.

Eles encontraram uma crítica original da atual política de encarceramento arbitrário executada por vários governos. “O que importa é que nossa força de representação individual não tem buracos-negros. Nossa fantasia preenche os vazios associando-lhes fragmentos”, escrevem.

O site oferece fotos, testemunhos, trocas e também um espaço para a troca de informações entre os visitantes do fórum de discussão, um espaço aberto democraticamente a qualquer um.

Muitas vezes os fragmentos de informações ultra-secretas foram recolhidos legalmente na Internet, como é o caso de reportagens publicadas na mídia internacional, no álbum privado de fotos de um veterano do exército americano publicado na web ou até mesmo no site do Departamento de Defesa dos EUA.

Mais realista que a natureza

A grande atração do site é a reconstituição em três dimensões da prisão de Guantánamo. A visita começa com uma foto aérea da Windmill Beach, a praia da base americana na ilha de Cuba. Ao atravessar a porta de entrada, o usuário passeia pelos alojamentos e pode até entrar numa das famosas celas onde vivem os supostos terroristas.

Tecnicamente, o percurso requer um pouco de paciência e também um computador de última geração. O site está ligado com o motor de procura Google, o que possibilita o acesso a novas informações durante cada visita.

A abundância de informações e imagens mostram que, apesar do caráter secreto da prisão, seus mínimos detalhes terminam conhecido através da imprensa. Sobretudo a utilização em massa das tecnologias de informação permite a qualquer um de tirar e publicar fotos, mesmo que elas tenham sido feitas durante missões militares secretas.

Projeto útil

Se para uns, o site é uma forma de banalização ou mesmo de voyeurismo, Christoph Wachter e Mathias Jud acreditam que com seu trabalho estão “vencendo a nossa cegueira parcial”. Como eles próprios afirmam, seu objetivo é “suprimir essas zonas de não-pensamento, onde se impede o acesso e se proíbe qualquer forma de reflexão”.

O site foi criado graças ao enorme fluxo de informação recebidos eletrônicamente. Os dados foram reutilizados e reinterpretados, permitindo criar novas informações e até mesmo obras de arte originais. Para Manon Schick, porta-voz da Amnesty International, o trabalho dos dois artistas suíços merece aplausos:

– Eles dão mais visibilidade aos horrores da prisão em Guantánamo. Assim eles também contribuem para aumentar a consciência da existência de um lugar sem direitos, completamente fora do direito internacional.

Para a organização não-governamental, o desprezo do governo americano pela crítica internacional é preocupante:

– Há pouco tempo especialistas da ONU tiveram de cancelar uma visita a Guantánamo, pois os americanos não autorizaram nem o contato pessoal com alguns dos 500 prisioneiros.

swissinfo, Isabelle Eichenberger

O centro de detenção de Guantánamo foi aberto em janeiro de 2002 e seus prisioneiros, originários de mais de 35 países, foram capturados em sua maioria no outono boreal de 2001, no Afeganistão.
Mais da metade dos cerca de 500 prisioneiros mantidos em Guantánamo (Cuba) não cometeu qualquer ato hostil contra os Estados Unidos e 93%, em princípio, não foram capturados pelas forças americanas ou aliadas. As informações constam em relatório publicado em fevereiro por dois advogados de prisioneiros.

– Christoph Wachter nasceu em Zurique em 1966 e vive em Berlim desde 1991. Ele expôs várias vezes na Suíça e na Alemanha e recebeu várias bolsas de estudo da cidade e do cantão de Zurique.

– Ele lançou o projeto intitulado “Zone*Interdite” em 2000.

– Mathias Jud nasceu em 1974 em Zurique e divide o tempo entre a maior cidade suíça e Berlim.

– Ele estudou química orgânica na Escola Politécnica de Zurique e trabalha como pesquisador em biologia molecular.

– Ele é fundador e proprietário da saibo.ch, uma agência de design gráfico, mídia e comunicação, que se especializou em animações em terceira dimensão.

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