Suíça ainda precisa melhorar na proteção climática
Os eleitores rejeitaram em um plebiscito a revisão da Lei de CO2, um dos pilares da política climática do país. O caminho para a neutralidade climática se torna ainda mais longo. Porém a Suíça está bem posicionada internacionalmente.
Um novo imposto sobre passagens aéreas, aumento da taxa de CO2 sobre combustíveis fósseis e um possível aumento no preço da gasolina e do diesel: essas eram algumas das ideias aprovadas pelo Parlamento federal ao aprovar a nova lei, mas que não encontraram apoio do eleitorado devido aos custos implícitos.
Ao rejeitar a nova lei de CO2 no referendo do último domingo (13.06), o eleitorado rejeitou medidas de redução de emissões com as quais o governo tentaria alcançar os objetivos firmados com o Acordo do Clima de Paris.
Apesar do resultado negativo, o país continuará a perseguir o objetivo da neutralidade climática, embora seja mais difícil de alcançá-la, declarou no início da semana a ministra suíça do Meio Ambiente, Simonetta Sommaruga. União Europeia, Estados Unidos e China são responsáveis pela metade das emissões mundiais de gás de efeito estufa. Uma centena de outros países também anunciaram sua intenção de atingir uma meta de “zero” em emissões líquidas até 2050 ou 2060.
Como a Suíça está em comparação com outros países?
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Uma pessoa na Suíça emite tanto gases como dois brasileiros
A Suíça emitiu cerca de 46 milhões de toneladas de CO2 em 2019, o que representa aproximadamente 0,1% das emissões globais. Em média, uma pessoa na Suíça emite o mesmo que dois brasileiros (4,4 toneladas de CO2 por ano).
Os números apresentados levam em conta apenas as emissões geradas a nível nacional. Se as emissões “importadas” também forem levadas em conta, o impacto de um suíço ou suíça aumenta para 14 toneladas de CO2 por ano (média mundial: seis toneladas). No ranking mundial, liderado por luxemburgueses, a Suíça ocupa a 15ª posição.
Energia solar é meta para 2050
A Suíça se comprometeu a reduzir suas emissões pela metade até 2030 (em comparação com os níveis de 1990) e a alcançar a neutralidade climática até 2050. A estratégia a longo prazo é reduzir as emissões de meios de transportes, edifícios e indústria em quase 90%. Parte da redução será alcançada através do financiamento de projetos climáticos no exterior.
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Emissões difíceis de evitar, dentre elas na agricultura e tratamento de resíduos, serão compensadas com tecnologias de captura e armazenamento de CO2. O vídeo a seguir mostra a primeira usina do mundo capaz de capturar e processar dióxido de carbono no ar. Ela foi aberta em 2017 nas proximidades de Zurique:
O aumento das necessidades de energia necessária para a eletrificação do transporte e aquecimento dos lares será possível graças ao desenvolvimento das energias renováveis, especialmente a fotovoltaica, afirmam as autoridades federais. No espaço de trinta anos, quando a Suíça tiver desativado todas suas usinas atômicas, espera-se que a luz solar seja capaz de gerar 45% da eletricidade consumida no país (hoje, 4%).
Mercado de CO2 na China e energia eólica nos EUA
Os países da União Europeia são mais ambiciosos a médio prazo: planeja cortar em até 55% suas emissões até 2030, comparados aos números de 1990. A Lei Climática Europeia, um elemento central do acordo, prevê ações em todos os setores, especialmente no transporte, energia, agricultura e construção civil.
Um dos instrumentos mais importantes para atingir as metas é o comércio de certificados de emissões, no qual a Suíça participa desde 2020. Atualmente aplicada à produção de eletricidade, indústria e aviação doméstica, ela poderia ser estendida ao transporte rodoviário e aquecimento de lares.
A China também investe na comercialização de certificados para começar a limitar suas emissões até 2030 – e a neutralidade climática até 2060. Lançado no início de fevereiro, a maior plataforma de comércio de emissões do mundo ainda só envolve empresas de energia. De fato, 60% da energia da China e gerada através do carvão. No futuro, o mercado de CO2 será estendido a outras indústrias como fábricas de cimento e aço.
Os Estados Unidos voltaram a fazer parte do Acordo de Paris e agora pretende reduzir as emissões na base de 50 a 52% em relação aos níveis de 2005. O presidente Joe Biden planeja investir dois bilhões de dólares na modernização de construções e produção de veículos “limpos”, dentre outras medidas. O governo também quer incentivar a produção de energia renovável através da construção de novos parques eólicos offshore.
Suíça com deveres a fazer
A taxa de CO2 da Suíça sobre combustíveis fósseis – atualmente de 96 francos por tonelada – está entre as mais elevadas do mundo, afirma Climate Action TrackerLink externo (CAT), uma associação independente que monitora as políticas climáticas em todo o mundo.
Porém o compromisso da Suíça é considerado “insuficiente”. Segundo a CAT, as medidas atualmente em vigor no país resultarão em uma redução de 26 a 31% das emissões até 2030, o que aumento o risco de não atingir as metas propostas. E detalhe: o país falhou em alcançar as metas para 2020.
Em comparação internacional, no entanto, a Suíça tem resultados mais satisfatórios do que a maioria dos países europeus e nações industrializadas. No Índice de Desempenho em Mudança Climática, que leva em conta a política climática, a Suíça ocupa o 14º lugar entre os 61 países. Embora não tenha atingido suas metas, ainda está entre os países que reduziram suas emissões ao longo dos últimos 30 anos.
Temperatura no final do século
Se as palavras forem seguidas de ações, até o final do século a temperatura média do planeta deverá ser 2,4°C mais alta do que nos tempos pré-industriais. É o que prevê o relatório da CAT. O objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a dois graus Celsius não seria, portanto, atingido.
No entanto, Sonia Seneviratne, uma climatologista suíça de renome internacional e co-autora dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, está confiante. Atingir o objetivo de Paris “não é impossível”, afirma. “Embora tenhamos perdido tempo por causa da epidemia de Covid-19, a situação na frente política melhorou com a mudança de governo nos Estados Unidos. A conferência climática COP 26 em Glasgow será decisiva”.
Adaptação: Alexander Thoele
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