Brasileiro pode fazer supletivo na Suíça

O Instituto Terra Brasilis, em Zurique, possibilita a brasileiros radicados na Suíça concluir o 1° e 2° grau. O Ministério da Educação do Brasil e embaixada apóiam o programa.
Além do supletivo, Terra Brasilis também alfabetiza adultos que, no Brasil, nunca tiveram oportunidade de freqüentar uma escola.
Vera termina o exercício e mostra com orgulho os resultados para a professora. O caderno de caligrafia mostra que sua ortografia está cada vez melhor. Nas centenas de frases reescritas com cuidado, percebe-se que essa brasileira originária de Recife não esquece as lições de casa. Afinal, Vera valoriza seu próprio esforço. Nada mal, para quem era analfabeta antes de chegar na Suíça.
Há mais de nove anos vivendo em Zurique, depois de casar-se com um suíço, Vera é um exemplo do grupo de estrangeiros bem integrados no país. Para não depender do marido, ela tem sua própria fonte de renda através do emprego de servente num asilo para idosos.
Devido ao seu caráter aberto e espontâneo, tão diferente do comportamento distante dos funcionários suíços, ela acabou cativando o carinho dos habitantes e pacientes. Além dessa característica, sua competência terminou por convencer os superiores a promover a brasileira como chefe de equipe. Porém antes de assumir o cargo, Vera precisa aprender a ler e a escrever.
Alfabetização em Zurique
“No Brasil eu sempre consegui me virar bem como analfabeta, porém agora quero aproveitar essa oportunidade para me tornar independente e não precisar mais da ajuda das pessoas”, explica Vera quanto a sua decisão de voltar à escola. A brasileira freqüenta uma vez por semana as aulas oferecidas no Instituto Terra Brasilis.
Criado em agosto de 2003, o instituto é uma pequena sala localizada num prédio comercial de um bairro na zona industrial de Zurique. Ela não contém mais do que o necessário para o ensino: duas mesas, cadeiras, um armário contendo livros, pastas e cartilhas e mapas do mundo e do Brasil pregados nas paredes.
Na sala trabalham cinco professoras, incluindo Danielle Jeanrenaud, fundadora do Instituto Terra Brasilis. Essa jovem paulistana fez o magistério e formou-se posteriormente em pedagogia. No Brasil ela trabalhava com educação infantil até o momento de imigrar para a Suíça, há quatro anos atrás. Depois de decepcionar-se com o sistema escolar suíço, que na sua opinião é repressor e pouco adequado para crianças, Danielle decidiu começar dar aulas de português para estrangeiros.
Mercado em expansão
Porém no contato com outros brasileiros em Zurique, a paulistana descobriu que existia um mercado muito pouco atendido para essa comunidade estrangeira. “É incrível a quantidade de pessoas do nosso país que, apesar de viverem no exterior, gostariam de voltar à escola”, conta Danielle. “Não só elas querem aumentar sua auto-estima, terminando o primeiro ou segundo grau, mas também aproveitar a vida na Suíça para finalmente aprender a ler e escrever”.
Dessa forma, a professora paulistana começou a trazer material do Brasil como cartilhas de ortografia e livros didáticos, a dar aulas particulares, além de criar suas próprias apostilas. Atualmente o Instituto Terra Brasilis tem dez alunos, número que também pode variar durante o ano, chegando até vinte. Cada um deles recebe aulas particulares na sala e também exercícios para serem resolvidos em casa. “Normalmente oferecemos uma aula por semana, porém alguns chegam a necessitar até três”.
A duração do curso varia de acordo com o nível de conhecimento das pessoas. “Alguns precisam de apenas seis meses, pois já tem uma base e são rápidos para aprender; outros já demonstram mais dificuldades de aprendizagem e também falta de tempo para se dedicar aos estudos”, acrescenta a professora paulistana.
Sem apoio financeiro do governo estadual ou brasileiro, o Instituto Terra Brasilis é financiado através das mensalidades dos próprios alunos. Por quatro aulas particulares ao mês, eles pagam em média 250 francos suíços.
Supletivo de primeiro e segundo grau
Além da alfabetização, o corpo docente de cinco professores também decidiu investir nos cursos de supletivo para primeiro e segundo grau, hoje denominados de Ensino Fundamental e Ensino Médio respectivamente, correspondente ao ensino ministrado no Brasil. Os interessados não são apenas os brasileiros que sonham em voltar ao país e precisam de uma formação básica, mas também aqueles que gostariam apenas de aprender para a vida.
“Muitos dos nossos alunos querem realmente entender melhor o mundo em que vivem, como saber onde está a Iugoslávia, participar de conversas, poder realizar uma conta e descobrir até mesmo suas próprias origens”, explica Danielle. “Trata-se de algo para o próprio ego”.
Para concretizar a idéia, ela esteve no Brasil em março e entrou em contato com o Ministério da Educação do Brasil. Se tudo der certo, a partir de agosto, o Instituto Terra Brasilis estará credenciado para oferecer os cursos supletivos. Caso haja um número mínimo de interessados, o governo brasileiro irá trazer para a suíça uma equipe que fará a aplicação das provas. Esta ocorrerá provavelmente na própria escola em Zurique.
Se depender da aplicação dos alunos, o projeto promete ser um sucesso. Uma das mais recentes alunas do Instituto Terra Brasilis vêm até do exterior. “Essa brasileira, que já freqüenta aulas do supletivo no Brasil, vai passar três meses na Suíça a convite do namorado. Ele nos ligou para encomendar três aulas particulares por semana, pois não quer que ela perca tempo durante as férias”, conclui Danielle Jeanrenaud.
swissinfo, Alexander Thoele

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