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Estévia paraguaia e argentina adoça bebida suíça

Umberto Leonetti com a bebida que criou e folhas de estévia. swissinfo.ch

O extrato dessa planta utilizada pelos indígenas sul-americanos é 30 vezes mais doce do que o açúcar, mas não engorda e nem provoca cáries. O suíço Umberto Leonetti aproveitou essas propriedades para lançar uma bebida adoçada com estévia.

Porém, em 2007, teve que suspender a produção de seu refrigerante natural porque a estévia estava proibida. Um ano depois, as autoridades suíças lhe deram uma licença especial para usar o adoçante natural.

Essa medida tornou o pequeno empresário o primeiro na Europa a utilizar esta “maravilhosa planta” sul-americana como aditivo, mas ainda não como alimento.

A autorização da Secretaria Federal de Saúde Pública (OFSP) é uma jogada estratégica segundo Udo Kienle: “a Suíça se transforma assim em um campo de experimentação para testar a aceitação dos consumidores”, afirma o pesquisador da Universidade de Hohenheim (Alemanha), que estuda e estévia há 20 anos.

Leonetti, por sua vez, não precisa de estratégia de mercado. Nos primeiros cinco meses depois que recebeu a autorização da OFSP, fabricou 40 mil garrafas da bebida Storms One e pretende dobrar a produção este ano.

A demanda vem aumentando de tal maneira que ele já não produz artesanalmente e passou a engarrafar o produto na Bischofszell, a fábrica de engarrafamento mais moderna da Europa. “Antes enchíamos e tapávamos as garrafas manualmente e até meus filhos pequenos ajudavam a colar as etiquetas”, explica à swisinfo.

Males que vêm para bem

A autoridade de saúde do estado de Friburgo que havia obrigado Leonetti a parar a produção, justificara a proibição com o argumento de que “não havia estudos científicos suficientes sobre os efeitos da estévia”.

“Essa proibição nos fez mais bem do que mal. Paramos a produção, a imprensa começou a falar e recebemos muitas mensagens de solidariedade”, afirma Leonetti, dono da empresa formada por cinco pessoas.

Mesmo se a demanda pela bebida aumenta a cada dia, Leonetti por enquanto não pensa em cifras. “Investi todas as minhas economias na empresa, os bancos me negaram crédito porque achavam meu negócio muito arriscado. Mas já faz muito tempo que não temo o fracasso.”

Durante o embargo, o empresário criou Superschorle, uma refrigerante natural feito à base de suco de maçã, muito apreciado sobretudo pelos esportistas. “Faço isso por convicção, quero fabricar produtos saudáveis”, acrescenta.

Mesmo que a proibição tenha provocado prejuízos em dinheiro, tempo e energia, o que mais o molestou foram “as pedras que colocam no caminho dos produtos naturais, quando o mercado está repleto de produtos sintéticos provavelmente prejudiciais para a saúde do consumidor.”

Cultivada por pequenos agricultores sul-americanos

A estévia que usa procede de pequenas cooperativas de agricultores na Argentina e no Paraguai, onde Leonetti e seu fornecedor francês aplicam critérios ecológicos e sociais do comércio equitativo.

“De um quilo de folhas dessa planta se obtém 100 gramas do extrato. A importação ainda é pequena, mas aumentará”, afirma. Ele tem razão porque empresas como Rivella, que produz um refrigerante a partir de soro de leite, e a rede de supermercados Migros têm grande interesse no adoçante natural.

Em 2008, especialistas internacionais concluíram que se pode consumir, sem problemas, até 4 miligramas de extrato de estévia por kilo de peso. Além dessa dose, pode provocar queda da pressão arterial e hipoglicemia (nível de açúcar no sangue inferior ao normal). Como exemplo, uma grama de extrato adoça um litro e meio de bebida.

Com base nesse estudo, a OFSP deu a Leonetti uma autorização especial, o que significa que o uso do aditivo continua restrito. Quem quiser lançar um novo produto no mercado elaborado com extrato dessa planta precisa de uma autorização especial.

A UE espera e na Suíça aumentam os consumidores

Apesar dessa restrição, o caso de Leonetti abriu um precedente e o princípio para uma regulamentação geral. A Suíça espera uma regulamentação da União Europeia, que ainda não autoriza o uso da estévia.

Enquanto isso, na Suíça cresce o número de consumidores de Storms One entre os diabéticos, a começar pelo próprio Leonetti. “Na descrição dos produtos que consumia antes via-se somente números e siglas que eu não entendia. Por isso decidi fazer minha própria bebida, sem açúcar.”

Leonetti não é engenheiro de alimentos nem nada parecido, apenas “alguém que quer aproveitar o imenso potencial que nos oferece a natureza. Ele se considera “um empresário em seu tempo livre” que ganha sua vida como chefe de projetos de informática.

Storms One, vendida na Suíça nas lojas de produtos biológicos, é uma bebida pasteurizada que contém cassis do sul da Itália, sal do Himalaia e estévia paraguaia e argentina, entre outros ingredientes e aromas naturais.

É uma mescla de diferentes culturas e países, como seu criador: filho de trabalhadores imigrantes italianos, Leonetti nasceu em Murten (estado de Friburgo) e fala francês, alemão, italiano e espanhol.

“Como meus produtos são uma mescla de ingredientes, eu sou uma mescla de culturas e, no entanto, tanto eles como eu somos muito suíços.”

Rosa Amelia Fierro, swissinfo.ch

A Stevia rebaudiana Bertoni é uma planta usada pelos indígenas sulamericanos desde os tempos imemoriais.

É parecida com a hortelã e mede entre 50 e 100 centímetros.

Sua folhas contém sete glucídios diferentes dos quais especialmente dois – Esteviosina e Rebaudiosina A – determinam seu sabor tão doce e a ausência de calorias.

O extrato não provoca cáries e é adequado para diabéticos.

É usado especialmente na América do Sul, Japão e outros países asiáticos; está proibido na União Europeia e nos Estados Unidos.

A estévia foi classsificada pela primeira vez em 1887, no Paraguai, pelo botânico suíço Moisés Bertoni.

Um quilo de cristais de estévia, produzido a partir de 12 quilos de folhas, custa atualmente até 70 euros.

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