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Eusébio, “patrimônio nacional” e rei sem império

Encontro de reis: Pelé e Eusébio durante o Euro 2004. Keystone

Eusébio participa neste sábado de uma sessão de autógafros e de um jantar de gala em Zurique. Às vésperas da Eurocopa, o encontro com o "embaixador da seleção de Portugal" é uma festa para os 170 mil portugueses na Suíça.

Para eles, Eusébio da Silva Ferreira, a „Pantera Negra”, dispensa apresentações. A primeira estrela portuguesa do futebol mundial foi um africano.

Eusébio foi “a estrela” da Copa do Mundo de 1966, da qual foi artilheiro com nove gols. Nos anos de 1960, ele conduziu o Benfica de Lisboa ao Olimpo do futebol europeu. Com o seu clube, conquistou 11 vezes o campeonato português.

Seu azar foi ser africano e ter chegado ao auge da carreira com 20 anos de antecedência e, ainda por cima, durante a ditadura de António de Oliveira Salazar (1932-1968).

Sua fama mundial vem das quartas-de-final da Copa de 1966. Portugal perdia de 3 a 0 para a Coréia do Norte. Com quatro gols na vitória de 5 a 3, Eusébio virou o placar quase sozinho.

Numa referência a Pelé, que havia sido contundido pelos portugueses e eliminado na primeira fase com o Brasil, os jornais deram a manchete: “O rei está morto, viva o rei”. Precipitaram-se. A Copa na Inglaterra foi a única de Eusébio, ainda que ele tenha marcado 42 gols em 64 jogos pela seleção.

Temido pelos melhores goleiros

„Diante dele, os melhores goleiros do mundo tremiam nas pernas”, disse certa vez o “kaiser” Franz Beckenbauer. No mais tardar em 2 de maio de 1962, ele se imortalizou nos gramados europeus: na final da Copa dos Campeões da Europa, marcou os dois gols decisivos da vitória do Benfica por 5 a 3 sobre o Real Madrid.

Nascido em 25 de janeiro de 1942, no bairro da Mafalala, na periferia de Lourenço Marques, então capital de Moçambique, Eusébio Ferreira da Silva aprendeu a jogar futebol “descalço e com uma bola amarrada de restos de pano”.

Olheiros do Benfica descobriram seu talento em 1960. Durante uma década e meia, ele foi a garantia de sucesso do clube. Ele não dançava em campo como Pelé. Seus gols foram descritos como verdadeiras “rajadas, que empalideciam os adversários”.

O “escravo do futebol”

A “Panterra Negra” virou até história em quadrinho. Mas sua genialidade em campo, 383 gols em 365 jogos pelo Benfica, não foi devidamente recompensada. Inclusive a ascenção social lhe foi negada.

Até hoje persiste a acusação de que Eusébio foi literalmente explorado pelos cartolas do Benfica, que ele chamava de “senhores”. Ele não ganhava muito mais do que o caseiro do clube. Em 1° de junho um cartaz dele será vendido por 1,5 milhão de euros na Suiça. É mais do que ele ganhou na ativa. Ofertas de outros clubes europeus eram rebatidas com a exigência de quantias astronômicas pelo seu passe.

Três vezes o „escravo do futebol” – como se lê no Léxico de Jogadores Famosos – pediu a Salazar, para deixar o país. Três vezes o pedido foi negado: Eusébio é “patrimônio nacional”, teria dito o presidente ditador.

„Negro na ditadura dos brancos”

O livro “Jahrhundert-Fußball im Fußball-Jahrhundert” (Futebol do século no século do futebol) documenta de forma drástica o tratamento aviltante dado ao craque: “Na ditadura dos brancos, o negro não valia nada. Ele era o menino tolo, o triste palhaço no circo, o preso na gaiola de ouro”.

O “rei sem império”, como escreveu o jornalista alemão Frank Menke, nunca viu as coisas assim: “Benfica é minha vida, Eusébio e Benfica, Benfica e Eusébio são inseparáveis”. Somente depois de ele ter ultrapassado seu zênite, pôde ir embora.

Saiu do Benfica pela porta dos fundos. Foi para a América do Norte e Central. Terminou sua carreira em 1978 no New Jersey Americans. Até hoje atua como conselheiro e representante do Benfica e „embaixador da seleção de Portugal”.

Quase tudo já foi dito sobre Eursébio. Mas nunca é demais lembrar sua carreira de sucesso em condições adversas. A primeira estrela portuguesa do futebol mundial foi um africano.

swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)

Eusébio da Silva Ferreira, nascido em 25 de Janeiro de 1942, em Lourenço Marques (Moçambique) é considerado um dos melhores jogadores de Portugal de todos os tempos. Marcou 733 golos em jogos oficiais e 1137 golos na carreira.

Equipas

1957-1960: Sporting Clube de Lourenço Marques
960-1975: Benfica (317 golos em 301 partidas)
1975 Boston Minutemen (EUA)
1976: CF Monterrey (México)
1976: Toronto Croatia (Canadá)
1977: Las Vegas Quicksilver (EUA)
1979: União FCI Tomar

Títulos

Bicampeão europeu de clubes: 1961, 1962;
Campeonatos nacionais:
60/61, 62/63, 63/64, 64/65, 66/67, 67/68, 68/69, 70/71, 71/72, 72/73 e 74/75
Taça de Portugal: 61/62, 63/64, 68/69, 69/70 e 71/72
Campeão da Taça de Honra: 1963, 1965, 1968, 1973 e 1975
Liga Norte-Americana: 1976
Liga Mexicana: 1976
Vice-campeão europeu: 62/63, 64/65 e 67/68
Bota de Ouro: 1967/68 e 1972/73 .
Melhor jogador da Europa: 1966
Melhor marcador da Copa do Mundo de 1966 (9 golos)

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