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Felipe Nasr diz que terá orgulho de representar o Brasil em um carro suíço

Despedida da GP2, categoria em que ganhou, em 2014, na Espanha, Áustria, Inglaterra e Bélgica. Paolo Pellegrini

O piloto brasileiro Felipe Nasr já tem um bom plano para o ano novo: representar o Brasil na Fórmula 1. Em 2015 ele será o titular da escuderia suíça Sauber, ao lado do sueco Marcus Ericsson.

Mais do que um plano, a entrada na categoria representa a realização de um sonho, que começou a acalentar aos 7 anos, quando andou de kart pela primeira vez. “Depois de dar umas voltas, já sabia que era aquilo que eu queria fazer.” Ele lembra-se que  quando brincava com seus carrinhos ou andava de bicicleta sonhava com a Fórmula 1. 

Aos 22 anos, o piloto, nascido em Brasília, tem agora um contrato de dois anos com a Sauber e parece ser um bom começo na categoria: a escuderia  já introduziu na Fórmula 1 o finlandês Kimi Raikkonen, o alemão Sebastian Vettel e o brasileiro Felipe Massa, que renovou recentemente seu contrato com a Williams, fazendo com que o Brasil tenha dois pilotos na Formula 1 em 2015 – dois Felipes.

Isso pode ser bom para quem gosta do esporte. Segundo alguns especialistas, a Fórmula 1 perdeu um pouco do glamour de outros tempos, quando disputas acirradas de grandes pilotos aumentavam a adrenalina das torcidas. Tempos de Alain Proust e Ayrton Senna, por exemplo. “Quando Senna e Prost corriam eu tinha um ano de idade…”, explica Felipe.  Para ele, a chegada da internet e dos smartphones aumentaram ainda mais o carisma  e o investimento no esporte.  

O piloto lembra também a importância da Fórmula 1 no desenvolvimento de novas tecnologias, que chegam ao mercado consumidor. “A cada ano que passa a Fórmula 1 vai se superando e trazendo novidades em materiais e métodos de produção”, explica Felipe. É verdade. Até mesmo quem não acompanha o esporte já foi beneficiado por ele. Muitas das tecnologias utilizadas nas pistas vão para as ruas anos depois: sistemas de freios, câmbio automático e direção multifuncional são alguns dos exemplos.

Desde 2012 Felipe Nasr compete na GP2, categoria criada em 2005 e que tem carros similares aos da Fórmula 1. Este ano, com a equipe inglesa Williams, foi sua melhor temporada: venceu na Espanha, na Áustria, na Inglaterra e na Bélgica.

Na última prova, em Abu Dabi, o piloto se despediu em grande estilo: chegou em  2° lugar, embora o resultado não tenha sido suficiente para mantê-lo na vice-liderança.

Agora, é se preparar para a nova temporada de 2015, que começa com os treinos em fevereiro em Jerez de la Frontera, na Espanha. Antes disso Felipe já começa a trabalhar com a nova equipe para o novo carro.

Entre uma viagem e outra, Felipe respondeu, por e-mail, algumas perguntas para swissinfo.ch.

swissinfo.ch: Você se sente preparado para representar o Brasil na F1?

 Felipe Nasr: É o que a gente faz desde que começa a correr de Kart: sempre treinando, estudando e absorvendo tudo para quando chegar a hora. Acabei de fazer um ano como piloto de testes e piloto reserva da equipe Willians de F1. Aprendi muito mais ainda. Quando chegar na Austrália (primeiro GP, em março de 2015), eu estarei preparado para continuar aprendendo e, claro, levar as cores do Brasil com muito orgulho.

swissinfo.ch: É a realização de um sonho?

FN: Isso mesmo. Eu tinha 7 anos de idade quando meu pai me levou para andar de kart pela primeira vez. Quando parei, depois de dar umas voltas, já sabia que era aquilo mesmo que eu queria fazer. Antes era só sonho. Desde que a gente brinca de carrinho, monta Lego ou anda de bicicleta a gente já vai sonhando acordado com a Fórmula 1.

swissinfo.ch: Começar a correr em uma equipe como a Sauber é um bom começo?

FN: Um ótimo começo. A Sauber é conhecida por dar oportunidade a jovens pilotos e ajudá-los em suas carreiras. Foi assim com o (Michael) Schumacher, que começou a correr com a Sauber no Campeonato de GT (grand tourer), e com o (Kimi) Raikkonen, (Felipe) Massa, (Robert) Kubica e (Sebastian) Vettel, que começaram a correr com a Sauber na F1. Além de um bom começo é também uma enorme responsabilidade.

swissinfo.ch: A equipe tem reivindicado, ao lado da Lotus e Force India, uma atenção especial da organização da Fórmula 1 quanto às verbas. Como isso pode interferir na sua carreira?

FN: Essa parte fora da pista deixo para o meu empresário Steve Robertson discutir, se preocupar e decidir. Procuro me concentrar no que tenho de fazer na pista e fora dela também, mas só para me preparar melhor para as corridas.

swissinfo.ch: Você acha que as chamadas equipes menores precisam de mais suporte tecnológico e financeiro para que possam competir em igualdade de condições com as grandes?

FN: A Fórmula 1 não é uma categoria monomarca, portanto as diferenças sempre vão existir. Como em tudo na vida, claro que com mais dinheiro você pode ter mais pessoas capazes, pode desenvolver novas coisas e atrair mais dinheiro. Veja o caso da Williams em 2013, por exemplo, que fez apenas 5 pontos no campeonato. Em 2014, mudou algumas coisas na sua estrutura, fez contrato com um novo motor, arrumou um patrocinador forte e pronto… Chegou em 3º lugar no campeonato com 320 pontos!!

swissinfo.ch: Você chegou a pensar em esperar mais um pouco para entrar para a Fórmula1? Esperar pela oportunidade de correr por uma equipe maior, por exemplo.

Felipe Nasr: Não. Na Fórmula 1 você não pode ficar parado. Tem de ir sempre seguindo em frente e depois, como já disse, a Sauber tem tradição em dar oportunidade, apoio e base para os novos pilotos.

 swissinfo.ch: Quais foram os grandes aprendizados na GP2?

FN: Acho que o ponto fundamental foi ter entendido e aprendido a mexer com os pneus da Pirelli, que são muito parecidos com os da Fórmula 1.

swissinfo.ch: Na sua opinião, qual a importância da GP2 para a carreira do piloto?

FN: É mais um degrau importante. Mantém o piloto em atividade e é o que existe de mais próximo à Fórmula 1 em termos de dimensões, e as provas são nos mesmos finais de semana que as da Fórmula 1. Quer dizer: nos deixa por perto o tempo todo.

 swissinfo.ch: O que acha do carro que vai correr. Você acha que estará alinhado aos outros da competição?

FN: O carro para 2015 ainda está sendo projetado e fica difícil dizer. Mas a ideia é essa mesmo de toda a equipe Sauber: produzir um carro capaz de marcar pontos com alguma constância e de conquistar um ou dois pódios.

swissinfo.ch: Na sua opinião, quais são os desafios da Fórmula 1 no que se refere à tecnologia.

FN: Os mesmos que temos para os carros de rua: serem mais eficientes, mais velozes e mais seguros. A cada ano que passa a F1 vai se superando e trazendo novidades em materiais e métodos de produção que vão ajudando em várias áreas técnicas.

swissinfo.ch: Hoje há uma discussão sobre o futuro da Fórmula 1. Fala-se da necessidade de repensá-la não só para atrair um público mais jovem mas também para tornar o esporte mais rentável.

FN: A F1 é um ótimo tema para conversas e discussões. É isso que faz dela insubstituível e sempre atual. A rentabilidade está diretamente ligada a esse fato de  ser assunto em qualquer roda. Quanto mais gente interessada, mais patrocinadores, mais dinheiro e mais rentabilidade para todos os envolvidos.

swissinfo: Qual é o seu ídolo no esporte?

FN: Cresci assistindo ao (Michael) Schumacher a ganhar corridas e, claro, a gente vai sempre querendo ver o cara ganhar. Depois assisti a muitos vídeos das corridas do Ayrton Senna e aprendi a admirar o seu talento, estilo e tenho uma enorme admiração por ele e por todas alegrias que deu ao Brasil. Mas o meu ídolo, na verdade, mesmo não tendo sido piloto, mas que sempre foi dono de equipe de corrida de automóvel, é o meu pai.

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Christian Fittipaldi

Este conteúdo foi publicado em Em 1992, Gabriel Barbosa entrevistou o piloto Christian Fittipaldi, que na época era piloto de Fórmula 1 e morava na Suíça. Arquivo da Rádio Suíça Internacional.

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swissinfo: Você pretende morar na Suíça?

FN: Na verdade vou continuar morando na Inglaterra por enquanto. Estou lá desde 2010 e já acostumado. Como a mudança para a Fórmula 1 é muito grande, vou deixar para pensar em mudar de casa e de país mais para a frente. A gente aprende logo no automobilismo que é preciso mudar uma coisa só de cada vez.

swissinfo: Que idiomas você fala?

FN: Português, Inglês e Italiano, já que no início da carreira, em 2009, morei em Novara, no norte da Itália.

swissinfo: O que mais o fascina na F1?

FN: Puxa vida! É tanta coisa: cada um dos detalhes, dos desafios, cada uma das inovações, das ideias… Acelerar um carro tão perfeito é uma sensação impossível de descrever. Ver aquele montão de gente torcendo é uma sensação muito boa… Não dá para escolher uma coisa só e não dá para parar de falar disso também.

swissinfo: E a família?

FN: Tenho meu pai, Samir; minha mãe, Eliane, e minha irmã, Flávia, que é dois anos mais velha do que eu e é arquiteta. A família é enorme: tenho ainda duas avós, quatro tios e tias, uma porção de primos e primas. Uma família de origem libanesa por parte do meu pai e  uma família de origem portuguesa por parte da minha mãe.

swissinfo: Você tem namorada?

FN: Nesse momento não.

swissinfo: Seus pais resistiram à ideia de você tornar-se piloto ou o estimularam?

FN: Deixaram que eu tomasse a decisão e me apoiam totalmente.

swissinfo: Qual carro você tem? Você gosta de dirigir no dia a dia? Já levou multa?

FN: Em Brasília tenho uma BMW Serie 3 de 1998 que era do meu pai. Na Inglaterra não tenho carro, mas adoro dirigir, sim. Multa? Multa? Que eu me lembre nunca levei uma…não.

swissinfo: Qual seu passatempo preferido?

FN: Adoro pescar. Toda vez que posso vou pescar em rio, mar, represa ou lago. E como não como peixe, me divirto soltando o que pesco de volta.

swissinfo: Como você se prepara física e emocionalmente para as corridas?

FN: O condicionamento físico é permanente. Faço academia praticamente todos os dias e sigo um programa específico criado por um profissional especializado em automobilismo que cuida também da minha alimentação. É claro que com a chegada à Fórmula 1 algumas coisas irão mudar. Com a  maior duração das provas, por exemplo, vamos fazer adaptações. Agora a pressão faz parte da vida de um piloto e se ele for se estressar é melhor nem começar a pensar em seguir a profissão.

swissinfo: E nos dias que antecedem a corrida?

FN: É tudo programado como para um atleta de qualquer outro esporte, respeitando as particularidades físicas de cada um naturalmente.

swissinfo: Qual o seu conselho para quem quer entrar para o esporte?

FN: Só faça se tiver certeza de que é isso mesmo que você quer. E se dedique muito e sempre, como tantos já fizeram e fazem.

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