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Franco suíço sobe com a crise financeira

Sede do Banco Central Suíço (BNS), em Berna. swissinfo.ch

Quinta-feira (06/11) o Banco Central Suíço (BNS) baixou novamente a taxa de referência.

A medida é destinada a atenuar as conseqüências da crise financeira sobre a economia, mas também pode contribuir para conter a alta do franco suíço que voltou a ser um valor refúgio com a crise financeira.

Nem os atentados do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos tinham perturbado tanto a moeda única européia como a crise financeira. Em menos de uma semana, o euro perdeu quase dez centavos em relação ao franco suíço, ou seja, mais de 5%.

Dia 27 de outubro, o euro chegava ao menor valor histórico a 1,45 franco, mas fortaleceu-se um pouco quinta-feira (06/11), depois da decisão do Banco Central Suíço (BNS).

Mesmo assim, desde o final de 2002 não havia cotações tão baixas do euro, quando o euro caiu de 1,60 para 1,45 franco. Essa situação permaneceu estável até o final de 2003. A partir daí a moeda européia começou a subir para chegar a 1,68 em outubro de 2007. Em pouco mais de um ano, portanto, o euro perdeu 15% de seu valor para o franco suíço.

Duplo fator

Essa queda repentina se explica por dois fatores, segundo Sergio Rossi, professor de macroeconomia e economia monetária na Universidade de Friburgo.

“Por um lado, a conjuntura na Suíça e na zona euro teve evoluções diferentes, na medida em que a EU já entrou em recessão. Por outro, o risco de inflação é menor devido a queda do preço do petróleo e de outras matérias primas e isso permitiu ao Banco Central Europeu reduzir as taxas de juros.”

Para Sergio Rossi, os poupadores em euro investem em francos suíços por causa da recessão, mas também em razão da estabilidade política e econômica da Suíça. Isso vem ocorrendo, mesmo com taxas de juros inferiores na Suíça em relação à União Européia. Em plena crise internacional, o franco recupera sua posição de líder. É uma posição privilegiada cujas conseqüências a médio prazo são difíceis de prever porque os mercados estão muito instáveis.

Turismo em baixa

A consolidação do franco suíço significa inicialmente exportações suíças mais caras e, portanto, menos concorrenciais no mercado europeu, especialmente em certos setores como a indústria de máquinas e de instrumentos de precisão, explica Sergio Rossi.

Além disso, a alta do franco suíço também pode frear o fluxo de turistas para a Suíça. Mesmo se a estação de inverno ainda tem previsões positivas – graças ao atraso do setor em relação à evolução conjuntural – a longo prazo a situação é menos entusiasmante. Esse problema não é só ligado ao encarecimento da oferta, mas também à redução do orçamento para as férias.

Dito isto, a queda do euro não é ruim para toda a economia suíça. As importações serão facilitadas porque, pelo menos em teoria, elas reduzirão os preços no mercado interno, sem contar a situação dos trabalhadores europeus fronteiriços, sobretudo franceses, que perderam poder aquisitivo nos últimos anos.

Taxas de juros

Resta saber qual dos dois lados dessa moeda pesará mais. Para evitar o risco de uma queda importante das exportações e do turismo, com conseqüências como o aumento do desemprego, a única arma do Banco Central – pelo menos a curto prazo – e diminuir a taxa de juros referencial.

Antes da decisão de quinta-feira (06/11), Sergio Rossi achava que o Banco Central devia baixar de pelo 0,5% a taxa de referência para a política monetária, acompanhando as decisões tomadas na zona euro. Isso para relativizar a diferença dos juros entre os dois espaços monetários. A mesma medida já foi adotada pelos Estados Unidos nove vezes desde o começo da crise.

Se essa estratégia não for suficiente para atenuar o fluxo de capitais em direção da Suíça, o governo federal poderia intervir para compensar a alta do franco e os problemas decorrentes, explica o professor da Universidade de Friburgo. Uma forma seria estimular as empresas suíças a exportar através de subsídios. Essa estratégia, contudo, poderia desagradar Bruxelas por falsa concorrência.

Futuro não tão incerto

Mesmo se a crise norte-americana atingiu em cheio todas as praças financeiras, as conseqüências deverão ser menos graves para a Suíça do que para os outros países, estima Sergio Rossi.

“A União Européia pagará mais caro porque sua política única tem muita tendência a baixar os preços e cuidar menos da estabilidade conjuntural. Ademais, o pacto fiscal de estabilidade concebido para tornar o euro mais credível, impede os déficits públicos excessivos reduzindo a margem de manobra dos governos.”

Portanto, contrariamente a outros países, a Suíça pode se sair melhor. “Quando o setor bancário estiver estabilizado e quando forem divulgados os balanços anuais do UBS e do Crédit Suisse (ndr.: os dois maiores bancos suíços), teremos bases mais sólidas, esperando ter aprendido alguma coisa dessa crise”, afirma o professor.

Sergio Rossi considera que “se a Suíça também tiver uma recessão, ela será branda e passageira. Dito isto, o governo deveria ter um plano conjuntural, por exemplo, reduzindo impostos para os contribuintes de menor renda ou renovando certas infra-estruturas.”

Essas medidas são importantes, “mas não indispensáveis para reativar a economia suíça porque, com a qualidade e precisão nos produtos, sairemos antes dos outros da tormenta.”


swissinfo, Stefania Summermatter

Em 1° de janeiro de 1999, o euro foi criado. A nova moeda européia só podia inicialmente ser usada em contas bancárias, cartões de crédito e operações financeiras entre bancos.

Três anos mais tarde, a nova moeda entrou em circulação com cédulas e moedas que substituíram as diversas divisas nacionais dos países que correspondiam aos critérios de adoção da moeda única.

Introduzido inicialmente em 12 países, o euro está em circulação atualmente em 15 dos 27 países da UE. Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Holanda, Portugal e Eslovênia.

A partir de janeiro de 2009, o euro substituirá também a coroa eslovaca.

O governo e o Banco Central Suíço (BNS) elaboraram um plano de ajuda ao UBS que acumulou perdas de 60 bilhões de francos na crise hipotecária dos Estados Unidos.

O governo liberou 6 bilhões de francos para reforçar a base de fundos próprios do UBS, conversíveis em ações. O Estado passa a deter aproximadamente 9,3% do capital acionário do maior banco suíço.

O montante provém de reservas do governo e não pesará no orçamento federal. O crédito é visto como investimento e deverá dar lucro de 700 milhões de francos por ano devido uma taxa de juros de 12,5%.

O BNS colocará à disposição 62 bilhões de francos na criação de um fundo que absorverá os créditos podres detidos pelo banco, praticamente sem valor.

Esses recursos serão financiados em dólares pela Reserva Federal dos Estados Unidos e por empréstimos no mercado.

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