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O arquitecto Bruno Vidal fez de Genève a sua casa

Bruno Vidal em uma praça de Lisboa
Bruno Vidal em uma praça de Lisboa. swissinfo.ch

Bruno Vidal chegou a Genève no verão de 2012 a convite de um amigo português arquiteto que já trabalhava na cidade. Os poucos dias que tinha planeado ficar converteram-se em três semanas e nesse período, encontrou o seu lugar num atelier de arquitetos, levando-o a trocar Lisboa por Genève.

De passagem por Lisboa, a swissinfo.ch aproveitou para conversar com Bruno Vidal no coração da cidade apinhado de gente a saborear o regresso dos dias solheiros, sobre o seu percurso de vida e a sua experiência suíça.

As artes sempre fizeram parte do seu percurso mas quando decidiu prosseguir para a universidade, não tinha a certeza de qual seria o curso. Na sua mente, pensava que ser publicitário poderia ser uma forma de pôr em prática o seu lado artístico e adquirir uma ferramenta útil para o mercado de trabalho. Contudo, após um teste psicotécnico, perguntaram-lhe se já tinha pensado em seguir arquitetura porque, “não há publicitários a fazer arquitetura”, e esse foi o argumento dissuasor para enveredar por esse caminho.

Em 2006 terminava a sua formação em arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Nessa altura, sabia que não queria permanecer em Portugal. Antes de iniciar o estágio obrigatório para qualquer arquiteto obter o seu grau académico, Bruno decidiu visitar algumas cidades no norte da Europa para, “ter contacto com outra arquitetura” e procurar oportunidades. Visitou alguns amigos na Irlanda e como “gostei bastante do ambiente, havia boa arquitetura, decidi procurar ateliers para fazer o estágio”. Os seis meses de estágio que iria fazer passaram a três anos que culminaram com a chegada da crise do subprime ao país.

Bruno Vidal aproveitou os contactos que fez na Irlanda para se candidatar ao atelier de um arquiteto norte-americano, que fazia “casas em taipa no deserto, muito poéticas”. Realizou a entrevista por vídeo chamada e conseguiu um lugar no atelier. Rumava ao deserto do Arizona. Esteve lá sete meses e percebeu que, apesar de a arquitetura ter qualidade, sentia-se desfasado da realidade local, e da Europa.

A oportunidade profissional na Suíça

Ao fim de sete meses no Arizona, Bruno regressava a Portugal. Nesse altura, um amigo arquiteto que vivia em Genève, convidou a ir visitá-lo e decidiu ir ver aquilo que a cidade tinha para oferecer.

No Verão de 2012 aterrava na cidade e imediatamente se sentiu atraído pela sua vida na estação estival. Levava na bagagem o preconceito de que o país helvético era chato. No entanto começou a ir a festas e cinema ao ar livre, o suficiente para perceber que “Genève no Verão é muito interessante”. Contudo, reconhece que no inverno a cidade reduz bastante o ritmo social. Esses dias converteram-se novamente em semanas e conseguiu um lugar num atelier em Vevey, perto de Lausanne, onde trabalhou até janeiro de 2015.

Nessa altura, o atelier viu-se confrontado com algumas dificuldades financeiras e decidiu sair. Aproveitando a dinâmica do mercado de trabalho suíço, no mês seguinte começava a seu novo trabalho no atelier Charles Pictet Architecte, em Genève, onde ainda trabalha. Imediatamente, começou a chefiar o projecto mais ambicioso até ao momento do atelier, dois complexos de habitação social em Paris.

Chefiar um projeto de grande escala

 Este projeto é o maior desafio que Bruno Vidal encontrou na sua carreira de dez anos como arquiteto. Quando na entrevista lhe explicaram o projeto, honestamente respondeu, “vamos ver. Não tenho experiência nesta escala” e, para seu espanto, do outro lado veio a resposta que confirmaria a sua entrada no atelier, “nós também não”, conta-nos a sorrir.

A exigência deste trabalho obriga-o a deslocar-se semanalmente a Paris para realizar a reuniões de obra no local da construção e verificar o estado dos trabalhos, que também inclui o controlo dos custos. É uma gestão completa do projeto. No atelier trabalham dez pessoas, das quais três são portugueses.

Bruno Vidal diz-nos que no atelier se trabalha de forma horizontal, “há uma grande independência. Eles têm total confiança” e que é dessa forma que prefere trabalhar. Pelo facto de ser um projeto que contempla 270 habitações, as suas tarefas são bastante diversificadas. Por isso, tem de fazer reuniões com os clientes e com as empresas de construção. Do ofício de arquiteto, tem de fazer o desenho do projeto e aprovar as plantas que lhe são enviadas pelas empresas. Apesar de ser ele que tem de dar o parecer final, habitualmente discute o desenho do projeto com o as chefias no atelier.

No final, tem de fazer um resumo de todas as reuniões para ficar registado, “basicamente és tu que controlas o projeto de A a Z”. Obviamente que este tipo de independência carrega em si uma responsabilidade acrescida. No entanto, nunca nada de anormal aconteceu, “Todos os problemas que houve são problemas normais que acontecem em todos os projetos” e sorri.

Tal como Bruno diz, “a arquitetura é feita por escalas”, o que significa que no início, qualquer desenho é apenas volume, espaço, área. Mais tarde, “começa a ser a divisão do espaço e depois vai-se avançando até ao detalhe dos materiais e acabamentos”. No imaginário comum, as pessoas têm a noção de que o arquiteto “está com um charuto na boca e faz uns riscos e é uma casa”, mas ” a arquitetura não é uma coisa rápida. É um processo longo de aproximação até ao detalhe” e que envolve outra tarefas, “se quisermos fazer bem o projeto”, conta-nos.

Viver na Suíça

Para Bruno, depois de ter vivido nos EUA, a Europa já não é estranha e as diferenças são salutares e boas. Reconhece que gostou imediatamente da organização suíça e do facto de tudo funcionar bem. Na mesma medida, reconhece ser desconfortável “uma espécie de repressão à transgressão” e conta-nos que num episódio em que se cortou na mão e no hospital apenas depois de ter ido buscar o cartão de saúde é que foi atendido.

A sua adaptação a Genève decorreu com naturalidade. Fez da cidade a sua casa. “No verão é fantástico, com o lago ali ao lado” e as atividades ao ar livre que acontecem frequentemente. No inverno acaba por se tornar um pouco mais chata mas com as montanhas em redor, nada melhor do que ir esquiar. “Aos 30 anos comecei a fazer esqui. É uma experiência ótima. Lá em baixo está sombrio e lá em cima está um céu fantástico”, sorri. Reconhece que aquelas pessoas vão para a Suíça a pensar que é Portugal, não se vão adaptar bem ao país.

Procura viajar um pouco pela Suíça mas não tem sido fácil devido ao seu trabalho. Visitou algumas cidades e elege Berna como aquela que mais lhe agradou porque tem algumas referências arquitetónicas contemporâneas.

Mesmo com o tempo restrito, procura ir a exposições e vernissages na cidade. No entanto, é uma presença assídua nas conferências organizadas pela maison de l’architecture. Quando se reúne com os amigos portugueses, para além de verem um jogo de futebol ou cozinharem um prato português, procuram ir às caves ouvertes para fazer degustação de vinhos locais, “também é cultural”, atira a sorrir.

Ainda tem tempo para ficar na Suíça

O projeto que está envolvido ainda vai durar mais dois anos. Após esse tempo, pretende continuar a trabalhar no mesmo atelier e fazer mais alguns projetos. Sente alguma vontade de entrar na academia e ser professor porque já fez um percurso prático. Apesar de pretender abrir o seu próprio espaço para fazer a sua arquitetura, ainda não sabe em que país será. Por ora, permanecerá na Suíça, “a beber dos melhores” e a aproveitar esta experiência na sua vida.

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