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Médicos tomam mais pílulas que os pacientes

Dois de três médicos toma remédios "freqüentemente". Keystone

Segundo um estudo realizado pela Revista Médica Suíça, os médicos do país dos Alpes tomam mais medicamentos do que a média da população.

A maioria ignora as recomendações de evitar a automedicação ou auto-tratamento.

Publicada na Revista Médica Suíça, a pesquisa mostra que 65 por cento dos médicos haviam tomado alguma forma de medicamento durante a semana anterior à realização da pesquisa. Os autores acreditam que os números indicam um uso “muito freqüente” de remédios por parte dos profissionais da saúde.

O consumo médio da população helvética – no grupo de pessoas entre 35 e 70 anos – foi de 43% segundo uma pesquisa realizada em 2002 sobre a saúde na Suíça.

Os medicamentos listados pela pesquisa da Revista Médica Suíça com pouco mais de 1.700 médicos incluíam analgésicos, tranqüilizantes, antidepressivos e remédios contra hipertensão arterial.

“Não existe uma explicação lógica para explicar o fenômeno dos médicos estarem se automedicando e não procurando a ajuda de outros médicos”, declara Patrick Bovier, médico do Hospital Universitário de Genebra e coordenador da pesquisa.

“É difícil dizer se eles estão corretos ou não. Ou podemos achar que os médicos estão ficando mais doentes ou eles estão se tratando mais efetivamente”.

Estresse

O relatório detectou que o estresse psicológico causado por um sistema de saúde que está se tornando cada vez mais complexo e o acesso facilitado aos medicamentos podem ter contribuído para essa situação.

Ainda segundo Bovier, as estatísticas mostraram que os médicos tomam mais analgésicos do que o resto da população. Os números tornam-se semelhantes ou mais elevados se a comparação for feita com pessoas em posições similares de responsabilidade.

Ele rejeita a idéia de que muitos médicos suíços seriam dependentes de medicamentos. “Considero exagerado dizer que eles são viciados”.

O estudo também mostrou que a maioria dos médicos dá pouca atenção para as recomendações de especialistas sugerindo que essa categoria profissional deva evitar a automedicação ou auto-tratamento, mesmo em casos de doença séria.

“Automedicação foi constatada em 90% dos casos”, explica a pesquisa publicada na Revista Médica Suíça, que também mostrou que os médicos tendem à automedicação mesmo em caso de doenças crônicas como depressão ou hipertensão.

Médico da família

Apenas 21% dos participantes na pesquisa declararam ter um médico de família (sistema suíço no qual o médico generalista é sempre o primeiro contato da família em caso de doenças), o que está muito abaixo dos 90% do resto da população.

Médicos vão a outros médicos apenas 1,9 vezes por ano (média), comparado a 3,2 visitas dos suíços comuns.

A pesquisa também indica que os médicos consideram ter competência suficiente e conhecimento para cuidar dos seus próprios problemas de saúde.

Os pesquisadores do Hospital Universitário de Genebra consideram o auto-tratamento um problema sério. “Nesse caso os médicos não têm uma distância conveniente para poder tomar as melhores decisões, sobretudo quando estão tratando de problemas de saúde mental”, afirma Patrick Bovier.

swissinfo com agências

Comparação de consumo de remédios entre médicos e pacientes.
Analgésicos: 34% / 15%
Tranqüilizantes: 14% / 8%
Antidepressivos: 6% / sem dados
Remédios contra hipertensão arterial: 13% / 13%

1.784 médicos participaram da pesquisa iniciada em 2002.

Bovier explica que a pesquisa era inicialmente concentrada na chamada “Síndrome de Burnout” (resposta ao estresse ocupacional crônico), mas uma quantidade suficiente de dados foi recolhida e terminou possibilitando a realização de um segundo estudo, que necessitou de tempo para ser concluído.

A maior parte dos participantes eram homens com consultórios particulares (63%) e a idade média era de 51 anos. A metade dos pesquisados era de médicos generalistas.

73% dos participantes vivem na parte alemã da Suíça, 24% da parte francesa e 3% da parte italiana.

67% dos participantes tinham família, enquanto 7% viviam sós. Em média eles trabalhavam 51 horas por semana e ¾ do tempo dedicado a consultas com pacientes, totalizando 112 por semana.

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