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Namorados gastam 60 milhões em flores

Na Suíça, um de cada três habitantes oferece flores à pessoa amada na festa de São Valentim, 14 de fevereiro, dia dos namorados. Toneladas de flores vêm da América do Sul, onde trabalhadores do setor são explorados.

“Ano passado, na festa de São Valentim, o setor florístico na Suíça faturou 60 milhões de francos (€ 40.6 mio). Muito mais que o Dia das Mães, quando se chegou a um total de 15 milhões de francos (€ 10 milhões)”. Dado fornecido por Andreas Lehnheer, diretor da Fleurop-Interflora Suíça. (Vale lembrar que a Suíça tem apenas 7.3 milhões de habitantes).

Exemplo equatoriano

Pode parecer inoportuno falar de cifras e de dinheiro para plantas que simbolizam beleza, amor, ternura… Mas por trás de um buquê de rosas equatorianas, por exemplo – abundantes em lojas do ramo na Suíça – escondem-se condições de trabalho injustas, denunciadas por algumas ONGs.

Segundo porta-voz de FIAN – organização internacional de direitos humanos sediada em Alemanha – no ano 2000, a Suíça gastou 13.4 milhões de francos (€ 9 milhões) em flores equatorianas.

Desde o início dos anos oitenta, satisfazendo a exigência do Banco Mundial, o Equador produz flores. Beneficiando-se de preferências aduaneiras nos Estados Unidos e União Européia, o país pôde expandir a produção, estimulada pelo clima favorável e a mão-de-obra barata.

Condições de trabalho denunciadas

Em 2001, havia no Equador 420 empresas no setor de flores que ocupam área de 3.450 hectares. O crescimento anual tem sido de 20%. A cultura de rosas representa dois terços dessa produção de flores no Equador.

Os principais mercados de flores do Equador são os Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Suíça, Rússia e Japão. Mas as condições de produção têm sido denunciadas por sindicatos e representantes de organizações não-governamentais (ONGs).

J.Mario Velásquez, educador e ativista da uma ONG, realça ser extenuante o trabalho na cultura de flores. Além da intensidade da radiação solar nas estufas, as mudanças bruscas de temperatura e contato com substâncias tóxicas, “se trabalha de 8 a 14 horas diárias sob pressão e vigilância permanente para cumprir as exigências de rendimento”.

“Cláusula social”

O desrespeito aos direitos humanos é freqüente, diz Velásquez: “Não se pagam horas extras e não há material adequado, estipulado por lei, como uniformes, luvas e máscaras”. A exposição dos trabalhadores a agentes químicos resulta em problemas crônicos de saúde, como alergias, conjuntivite, abortos involuntários e deformações dos recém-nascidos.

O próprio Equador e outros países latino-americanos não se entendem sobre “cláusula social” ou “selo ecológico” no sentido de garantir melhores condições de trabalho. O argumento é geralmente visto como protecionismo disfarçado nos países em desenvolvimento.

Quem compra flores na festa de São Valentim parece ignorar todos esses problemas. Fica a questão: há rosas sem espinho?

J.Gabriel Barbosa e Marina Gartzia.

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