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Nestlé também é afetada pela crise

Sob a direção de Paul Bulcke, a Nestlé quer combinar preço e inovação. Keystone

As vendas do grupo Nestlé caíram 2,2% nos primeiros nove meses de 2009, comparadas ao mesmo período do ano passado, totalizando 79,5 bilhões de francos suíços.

A justificativa principal (-5,2%) é a alta taxa de câmbio do franco suíço frente a maioria das moedas. Mas internamente, a multinacional suíça também tomou algumas medidas em função da crise.

Os números da Nestlé, apresentados nesta quinta-feira (22/10) na sede mundial em Vevey, oeste da Suíça, são globalmente positivos: crescimento de 3,6% nos primeiros nove meses, com clara tendência a crescer mais no terceiro trimestre (3,8%).

Apesar disso, o diretor-geral Paul Bulcke declarou que, “nesses tempos difíceis, reorganizamos nossa estrutura e nosso portfólio de produtos”.

Em conversa com swissinfo.ch depois da entrevista coletiva à imprensa, Paul Bulcke disse que o que não mudou foi a orientação estratégica de crescimento com maior rentabilidade.

Mudanças com a crise

O que mudou com a crise foi a noção de tempo, segundo o diretor-geral. “Temos de implantar certos projetos mais rapidamente”, afirmou. Ele citou como exemplo o combate ao desperdício nas fábricas e a distribuição dos produtos chamados PPP (produtos populares), concebidos para os países emergentes, na Europa e nos Estados Unidos. Bulcke afirmou também que até nas viagens a Nestlé está economizando, “pensando duas vezes”.

Ele ressaltou, no entanto, que, como os efeitos da crise são diferentes em cada país, as medidas também são diferenciadas.

Entre os aspectos positivos da crise, o diretor-geral considera a maior exigência dos consumidores. A relação preço-valor tem de ser melhorada constantemente e, mesmo depois da crise, o consumidor vai continuar exigente, prevê Paul Bulcke.

“Continuamos a investir em tecnologias inovadoras e na promoção de nossas marcas para atingir a previsão de crescimento baseado em volumes”, declarou.

Efeitos diferenciados

Os efeitos diferenciados da crise mencionados por Paul Bulcke são confirmados pelos números. Enquanto as vendas estagnam na Europa, nos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), elas cresceram 9,9% este ano, até setembro.

Por regiões, a zona Américas da Nestlé continua liderando, com um faturamento de 23,4 bilhões de francos suíços (+6,4%).

Por categoria de produtos, Alimentação e Bebidas é o setor que mais cresceu (+3,5, em média mundial). Nessa área, houve crescimento em todas as regiões: 4,4% nas Américas, 0,9% na Europa e 6,5% na Ásia, Oceania e África.

Outra questão recorrente para a indústria alimentícia é a volatilidade dos preços das matérias-primas. Além das intempéries, a demanda mundial aumenta.

Matéria-prima

A diretora de marketing, Petraea Heynike, explicou que atualmente a demanda de cacau é maior do que a oferta. E o chocolate continua sendo um produto importante para a Nestlé. A empresa acaba de reabrir um centro de pesquisa em Abijan (Costa do Marfim, maior produtor mundial de cacau), que fora fechado durante a instabilidade política do país.

Outro centro de pesquisa em Tour, na França, fornece mudas de cacau distribuídas a aproximadamente 5 milhões de pequenos produtores. Também é mantida uma fazenda experimental de cacau no Equador. Nos próximos dez anos, 110 milhões de francos suíços serão investidos em plantações de cacau.

Um programa similar é aplicado ao café, com investimentos previstos de 350 milhões de francos nos próximos dez anos, sempre para melhorar a qualidade e a produtividade. O objetivo é plantar 38 milhões de mudas de café e cacau nos próximos dez anos. A Nestlé afirma que 70% de seus fornecedores de cacau, café e leite são locais.

Pesquisa

Além da reabertura do centro de pesquisas de na Costa do Marfim, a Nestlé abriu outros centros recentemente na Suíça, no Japão, na China e nos Estados Unidos.

Questionado, em conversa com swissinfo.ch, porque não existe um centro de pesquisa no Brasil – país considerado importante para o grupo –, o diretor para as Américas, Luís Cantareli, respondeu que “se não temos hoje, não significa que não teremos futuramente.”

Ele explicou que isso também não quer dizer que não haja produtos novos no Brasil porque existe inovação nas fábricas, citando o exemplo da Solis Soja, lançada para o mercado brasileiro.

Claudinê Gonçalves, swissinfo.ch

Cerca de 7% da mortalidade no mundo são devidos a carências em ferro, iodo, vitamina A e zinco, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

No âmbito do Consenso de Copenhague 2008, um estudo determinou a ordem de prioridade dessas carências: vitamina A, zinco, ferro e iodo.

Na estratégia Saúde e Bem-Estar da Nestlé, seus centros de pesquisa criam produtos de valor nutricional agregado. É o caso, segundo a multinacional, dos produtos PPP (populares) destinados aos países emergentes e em desenvolvimento.

Os exemplos citados são o leite (com vitamina A, ferro ou zinco, segundo as regiões): Ideal no Brasil, Nespray na Malásia, Nido Essencia, na África, e dos caldos Maggi, com iodo.

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