The Swiss voice in the world since 1935
O sistema político da Suíça

Neutralidade: O que a Suíça faz em caso de guerra?

Soldado armado
Keystone/Gaetan Bally

Neutral desde 1815, a Suíça mantém uma política de não alinhamento militar que molda sua identidade nacional e orienta sua atuação internacional. Mas, em um mundo cada vez mais interdependente, cresce o debate interno sobre os limites dessa neutralidade.

A neutralidade é uma parte integrante da identidade suíça. Ela foi reconhecida pelas grandes potências em 1815, no Congresso de Viena. Para os autores da Constituição helvética de 1848, a neutralidade é um instrumento destinado à manutenção da independência.

Em 1907, as Convenções de Haia estabeleceram por escrito, pela primeira vez, os direitos e deveres dos Estados neutros. Em troca da inviolabilidade de seu território, os países neutros devem, entre outras coisas, manter-se fora das guerras, garantir igualdade de tratamento aos beligerantes e não lhes fornecer armas ou tropas.

Exército suíço

Os países neutros também são obrigados a se defender. É por isso que a Suíça sempre se esforçou para manter suas forças armadas em um nível respeitável.

A Suíça dispõe de um exército de milícia, com apenas alguns soldados profissionais. A Constituição obriga os homens a prestar serviço militar, enquanto as mulheres o fazem voluntariamente. O objetivo é aumentar sua proporção para dez por cento até 2030.

Após a formação inicial, os jovens militares precisam concluir “cursos de atualização” com duração de várias semanas, ao longo de alguns anos. Portanto, não é incomum ver homens e mulheres uniformizados com suas armas nas cidades ou nos trens. Os soldados têm permissão para manter seus rifles em casa, o que regularmente gera polêmica, pois assassinatos e suicídios são cometidos repetidamente com essas armas.

Os homens que recusam o serviço militar por motivos de consciência podem optar pelo serviço civil. Nesse caso, devem prestar serviço comunitário por um período uma vez e meia maior que o do serviço militar. Aqueles considerados inaptos para o serviço militar durante o processo de recrutamento não têm permissão para servir e devem pagar uma taxa de alistamento.

Mostrar mais
Soldato che corre

Mostrar mais

É possível recusar o serviço militar obrigatório?

Este conteúdo foi publicado em “A Suíça não tem exército: ela é um exército”: a frase resume a doutrina militar que imperou durante a Guerra Fria. Defesa era um elemento indiscutível da identidade nacional e todos os homens eram obrigados a contribuir. Os homens que prestavam o Serviço Militar obrigatórioLink externo eram obrigados a participar anualmente de cursos de repetição…

ler mais É possível recusar o serviço militar obrigatório?

Compromissos internacionais

A neutralidade da Suíça não a impede de participar de várias organizações internacionais. Entretanto, ela não pode integrar a aliança militar da OTAN. No entanto, coopera com a OTAN no âmbito da Parceria para a Paz.

Em 1920, a Suíça uniu-se à Liga das Nações, precursora da Organização das Nações Unidas (ONU), e conseguiu estabelecer Genebra como sede da instituição. Após a Primeira Guerra Mundial, o país buscou exercer uma missão global, valendo-se de sua experiência diplomática e humanitária.

Mostrar mais
Roda-gigante e a bandeira de Genebra no fundo

Mostrar mais

Genebra “internacional” em números

Este conteúdo foi publicado em A chamada “Genebra Internacional” representa um ecossistema de instituições sediadas na cidade às margens do lago Léman. Veja aqui os números.

ler mais Genebra “internacional” em números

No entanto, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria reforçaram a ideia de que, para permanecer completamente neutra, a Suíça não deveria aderir a nenhuma aliança internacional. O país só aderiu à ONU em 2002, mais de 50 anos após a criação da organização.

Desde então, contudo, a Suíça continuou a fortalecer sua representação em organismos internacionais. Ela faz parte da UNESCO, da OCDE, do Conselho da Europa e da OSCE. Genebra é atualmente sede de diversas organizações internacionais.

A promoção da paz e dos direitos humanos permanece uma prioridade na política externa helvética. O país participa de missões civis e militares de manutenção da paz lideradas por organizações internacionais. Também envia especialistas a diversos países para acompanhar processos de paz e supervisionar eleições.

A Suíça oferece ainda os chamados “bons ofícios”: apoia as partes em conflito na busca por soluções e assume mandatos de mediação.

Limites da neutralidade

Desde o início, a neutralidade da Suíça foi objeto de muita discussão e questionamento. Durante a Segunda Guerra Mundial, o país violou esse princípio em diversas ocasiões, principalmente ao fornecer materiais de guerra e produtos aos beligerantes.

A Suíça também foi fortemente criticada por recusar a entrada de refugiados judeus e por ter mantido, até o fim dos anos 1990, o dinheiro das vítimas do Holocausto em seus bancos.

Mostrar mais
memorial a duas vítimas do Holocausto, em Munique

Mostrar mais

O preço de manter oculta uma história incômoda

Este conteúdo foi publicado em O conflito em torno de ativos judaicos em contas bancárias na Suíça culminou na década de 1990 no que se tornaria a maior crise política externa da Suíça desde a Segunda Guerra Mundial. O seguinte relatório e trechos de vídeo incorporados nesta matéria são do documentário suíço “The Meili Affair” (O Caso Meili”). Tudo começou com Greta Beer. Ela…

ler mais O preço de manter oculta uma história incômoda

Além disso, o país produz e exporta armas, o que muitos consideram incompatível com sua neutralidade e com sua disposição de promover a paz. Por outro lado, argumenta-se que a neutralidade armada da Suíça deve permitir que ela seja o mais independente possível de outros países no que diz respeito a equipamentos de defesa.

Mostrar mais
tanque de guerra em queijo

Mostrar mais

Neutralidade suíça como estratégia comercial

Este conteúdo foi publicado em A indústria de armamentos na Suíça fornecia material de guerra a qualquer país, muitas vezes alegando “neutralidade”. Já o ditador espanhol Franco ouviu na época um sonoro “não”.

ler mais Neutralidade suíça como estratégia comercial

A cada nova proposta de colaboração ou adesão a uma organização internacional, ocorre um novo debate sobre a definição e o papel da neutralidade suíça. Mas, em um mundo globalizado, no qual os países são interdependentes, esse princípio parece hoje menos relevante e mais difícil de definir.

Mostrar mais

Adaptação: Alexander Thoele

Mostrar mais

Asilo político

A Lei Federal do Asilo define o termo refugiado e as condições que podem ou não levar à concessão de asilo. Especifica que “não são prováveis as alegações que, em pontos essenciais, não são suficientemente fundamentadas, que são contraditórias, que não correspondem aos fatos ou que se baseiam de maneira determinante em provas falsas ou…

ler mais Asilo político

Mostrar mais

Idiomas

A Suíça tem quatro idiomas nacionais: alemão, francês, italiano e romanche. Entretanto, o inglês é cada vez mais utilizado na vida cotidiana e muitos documentos oficiais também são traduzidos para esta língua.

ler mais Idiomas

Adaptação: Clarice Dominguez

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR