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O futuro da mobilidade está na tomada

Veículo da nova série 5 da BWM exibido durante o salão em Genebra. Reuters

Em meio a uma crise sem precedentes, a indústria automobilística mostra no 80° Salão do Automóvel de Genebra que aposta todas as cartas em tecnologias inovadoras e menos poluentes.

Se nas edições passadas os veículos elétricos e híbridos eram apresentados apenas como propostas futuras, hoje se tornaram uma realidade para todas as montadoras.

O futuro está na tomada. Pelo menos essa era a impressão mais visível para as centenas de jornalistas que percorriam os pavilhões nos dois primeiros dias do 80° Salão do Automóvel de Genebra, reservados à imprensa. A nova tendência fez com que os veículos reduzissem de tamanho. Verdadeiros “monstros” da estrada como o americano Hummer nem estão mais presentes. Marcas de luxo estão mais discretas. O objetivo agora é o carro “limpo”.

“Zero gramas de emissão de CO2 por quilômetro” dava destaque, por exemplo, a Citroën, a um veículo de propulsão elétrica. Um funcionário do fabricante não poupava elogios à máquina. “Ela pode ser recarregada rapidamente em pouco mais de meia hora em tomadas especiais e em seis horas na tomada caseira. Depois o carro tem uma autonomia para rodar até 130 quilômetros”, diz.

Não muito distante, no pavilhão da Smart, a marca de veículos compactos do Grupo Mercedes-Benz, exibia também um modelo elétrico: o Smart Fortwo Electric Drive, cuja produção começou em novembro de 2009. Cem desses veículos já haviam sido testados com sucesso nas ruas de Londres durante um projeto-piloto da empresa. Questionado sobre a durabilidade das baterias, um dos representantes da empresa não titubeou. “Queremos que as baterias tenham a mesma duração dos veículos e baixíssimos custos de manutenção”.

Assim como muitos outros veículos elétricos, também esse Smart ainda não está sendo comercializado. Em entrevista à imprensa alemã, o chefe de desenvolvimento e pesquisa da Mercedez-Benz, Thomas Weber, explicou o plano da montadora. “Hoje já temos mil desses veículos. A partir de 2012 iremos fabricar dez mil por ano. Aí é que iremos vendê-lo normalmente”, afirma, lembrando que nos próximos anos deve existir na Europa um número suficiente de postos de abastecimento para os veículos elétricos.

Sucesso dos híbridos

Frente às limitações dos motores elétricos – custos elevados, autonomia e dificuldades técnicas – a eletrificação do sistema de propulsão dos veículos se concretiza para a indústria automobilística mais nos chamados carros “híbridos”. Os expositores como Toyota, BMW, Nissan, Audi – incluindo os esportivos Ferrari e Porsche – trouxeram uma série deles para o Salão do Automóvel. Das cem novidades mundiais ou europeias apresentadas este ano, 16 utilizam sistemas alternativos de propulsão. No total, 60 modelos apresentados em Genebra saem do esquema tradicional de motores à combustão.

Populares desde o lançamento do Prius, da japonesa Toyota, o carros híbridos combinam um motor elétrico com o de combustão. Sensores modernos permitem uma utilização mais racional. “Através do sistema GPS é possível calcular em que momento é possível utilizar a propulsão elétrica, como por exemplo, nas áreas planas ou descidas, e, quando se necessita de mais energia, na subida, o motor à combustão é acionado”, explica um engenheiro da Audi.

A empresa alemã trouxe um dos seus modelos como estudo, o A8, que chegará em dois anos ao mercado com sistema híbrido. Nele são combinados um motor de 211 PS com um motor elétrico de 33 Kilowatts. Graças à inovação, essa limusine é capaz de percorrer 100 quilômetros com apenas 6,2 litros de gasolina. Sozinho, o motor elétrico consegue mover o veículo de 1,9 toneladas completamente, mas apenas dois quilômetros a uma velocidade máxima de 65 quilômetros.

Mostrando que ecologia não é antônimo de velocidade, a italiana Ferrari também chamou atenção ao lançar o protótipo híbrido Hy-Kers baseado no conversível 599 GTB . O novo modelo veio na cor verde para destacar que se trata de um veículo “ecológico”. O motor elétrico alimentado por baterias de íons de lítio traz mais 100 cavalos ao motor de combustão com 620 cavalos de potência. Além de economizar energia através da combinação das duas propulsões, o veículo utiliza uma tecnologia desenvolvida para a Fórmula 1, capaz de armazenar energia das frenagens e utilizá-la nos momentos de aceleração.

VW quer ser número um

A indústria automobilística precisa de novas fórmulas para superar o que foi considerado o pior ano de sua história. A quase falência da GM, a série de panes na Toyota, os programas estatais para incentivar a venda de carros frente ao excesso de produção e retração de vendas em várias partes do mundo graças à crise abalaram a crença no setor.

Não foi a toa que o presidente mundial da maior indústria automobilística alemã, Martin Winterkorn, fez de tudo para impressionar os jornalistas durante a coletiva em Genebra. “A Volkswagen será a construtora que trará o automóvel elétrico para todos”, declarou. Ele ressaltou a intenção da empresa de não apenas ter 3% da sua produção até 2018, mas também de se tornar nesse ano o maior fabricante do mundo, suplantando a Toyota.

Planos é o que não faltam na sua cartola. Nas próximas semanas chegam aos revendedores a segunda geração do Touareg, dessa vez com motor híbrido. Em 2011 a montadora inicia os testes com uma frota do modelo Golf movido a eletricidade. Um ano depois será lançado o híbrido Jetta nos EUA. E em 2013, os alemães querem lançar comercialmente o primeiro veículo elétrico, o E-Up, que será logo depois acompanhado pelo E-Golf e o E-Jetta, assim como versões híbridas dos modelos Golf e Passat. “A mobilidade elétrica será a segunda coluna da empresa”, reforçou Winterhorn. “O coração da marca baterá no futuro também elétrico”.

Perguntado se alguns dos novos modelos anunciados também chegarão ao mercado brasileiro, André Senador, diretor de assuntos corporativos da VW no Brasil, não quis dar informações concretas. “Obviamente iremos integrar muitas dessas inovações nos nossos modelos, mas alguns delas, sobretudo por uma questão de custos, não estão destinadas ao mercado brasileiro.”

Alexander Thoele, swissinfo.ch

O Salão do Automóvel de Genebra ocorre na sua 80° edição de 4 a 14 de março no Centro de Exposições de Genebra (Palexpo).

Os organizadores esperam até 700 mil visitantes.

Número de expositores: 205, originários de 30 países.

Espaço total: 78 mil metros quadrados.

O evento apresenta 100 estréias mundiais ou europeias, das quais 16 automóveis funcionam com propulsão “alternativa” (híbrido ou elétrico).

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