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O homem que trouxe a seleção

Phillippe Huber se orgulha de trazer a seleção para região onde nasceu. swissinfo.ch

Philippe Huber é o chefe da Kentaro Group, empresa de marketing esportivo que trouxe a seleção brasileira para Weggis.

Apenas com os direitos sobre os 14 treinos e dois jogos amistosos, o suíço deve ter um faturamento de 15 milhões de francos suíços. Leia aqui a entrevista swissinfo.

Os jogadores da seleção brasileira chegaram em Weggis, mas não deram entrevistas. Enquanto isso, centenas de jornalistas vindos de todas as partes do mundo tomaram de assalto suas ruas e lutam à procura de notícias. Até o preço da caipirinha nos bares locais já virou tema de reportagem.

O torcedor não fica atrás. Os hotéis estão quase lotados. Um deles chegou a se deixar fotografar segurando uma réplica da taça Jules Rimet na frente do Park Hotel, onde se hospeda a seleção. As entradas para os quatorze treinos da seleção brasileira em Weggis já estão esgotadas, compradas em grande parte por suíços. No site de leilões eBay da Suíça, cambistas colocaram alguns dos bilhetes à venda pelo lance mínimo de 110 francos suíços à unidade.

A atenção dada à seleção pentacampeã é algo de inédito na Suíça. Isso já foi diferente. No final de 1989, as equipes do Brasil e da Suíça se enfrentaram num jogo amistoso, cujo interesse dos torcedores foi mínimo: apenas 13 mil pagantes assistiram a partida realizada no estádio St. Jakob, na Basiléia.

Na varanda à beira do lago num restaurante de Weggis, Philippe Huber conversa com mais um jornalista. Na entrevista ele se diz surpreso por essa antiga história da seleção brasileira. Hoje, o empresário que conseguiu trazer Ronaldinho, Ronaldo, Cacá e companhia para Weggis, vive uma realidade completamente diferente. A febre da Copa tomou conta dos habitantes do país dos Alpes.

Desde os vinte anos Huber ganha a vida com esportes, mesmo sem nunca ter sido atleta. Em 1988, o suíço de 39 anos abriu sua empresa de eventos e marketing esportivo. No início ele apenas organizava torneios de futebol com equipes locais e atuava como empresário de jogadores.

Os negócios se desenvolveram e ele e outro sócio fundaram em Londres a Kentaro Group Ltd. Com 50 funcionários e um faturamento anual de 150 milhões de francos, o grupo tem várias atividades na indústria de comercialização de direitos esportivos, que incluem também a Attaro AG, uma empresa que já trabalha há dois anos para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na organização de jogos da seleção brasileira na Europa. O contrato foi renovado por mais um ano.

Durante os dez dias de permanência da seleção canarinho, sua empresa deve faturar algo em torno de 15 milhões de francos. Quanto ele vai lucrar é segredo profissional. Porém em entrevista a swissinfo, Philippe Huber conta um pouco dos negócios e fala sobre a questão da comercialização do esporte.

Como você teve a idéia de trazer a seleção brasileira para Weggis?

Preciso voltar um pouco no tempo para responder a essa questão. Nós já temos uma longa história de trabalho com a CBF . Conhecemos as pessoas e temos uma grande confiança mútua. E esta foi solidificada a partir de ocasiões como na organização do jogo entre Croácia e Brasil. Através dos bons contatos, já sabia que a seleção brasileira pretendia se preparar antes de ir para a Alemanha.

E por que necessariamente num outro país como a Suíça?

Pouquíssimas seleções nacionais vão viajar diretamente para a Alemanha. Como as equipes ficarão relativamente muito tempo no mesmo local, existe a necessidade de se aclimatizar, se isolar em algum lugar e, se possível, fora da Alemanha. Por isso é óbvio que a Suíça tenha se apresentado como candidata para receber essas equipes: em primeiro lugar pela sua localização geográfica e, em segundo, pela boa infra-estrutura.

Foi muito acirrada a competição para hospedar a seleção brasileira?

No início eram 800 candidatos. Depois esse número caiu para 40. No final, um local terminou sendo escolhido: Weggis, na Suíça.

Foi difícil convencer a CBF?

Enviamos para a CBF um dossiê, onde descrevíamos Weggis, sua infra-estrutura, a distância do aeroporto de Zurique e a distância até o campo de treinamento. Nesse ponto tínhamos que apresentar outras alternativas, pois não sabíamos que o Thermoplan Arena (campo de futebol localizado diretamente em Weggis e que será utilizado pela seleção brasileira) seria reformado para receber os brasileiros. Só então houve a primeira visita de um representante da CBF. No local ele se convenceu que Weggis seria uma boa escolha. A vantagem que eu tive em relação aos outros concorrentes foi certamente os bons serviços já prestados no passado para a CBF. Por isso, acredito que minhas recomendações foram levadas em consideração por eles.

Por que a CBF precisa de uma empresa na Europa para organizar seus jogos no continente?

É preciso entender que a CBF organiza diferentes tipos de jogos. Em primeiro lugar, existem aqueles em que a seleção brasileira participa para se qualificar para a Copa do Mundo e que ocorrem na América do Sul. Também existem os jogos para o Campeonato Sul-Americano de Futebol. Agora os outros jogos ocorrem quase sempre na Europa, pois a maioria dos jogadores vive neste continente. Obviamente é muito raro fazer voar toda a equipe – Ronaldinho, Ronaldo, Cacá e outros – tirando os jogadores do seu ritmo natural nas suas equipes, apenas para que a seleção participe de um jogo amistoso. É mais fácil de organizar esses jogos na Europa. E esse é o trabalho que fazemos para a CBF.

Vocês tem um contrato com eles?

Sim, temos um contrato com a CBF. Já organizamos um jogo com a Croácia, além de outros e agora organizamos o período de treinamento em Weggis. Também já marcamos para 16 de agosto um jogo entre a seleção brasileira e a seleção da Noruega, em Oslo. Assim funciona o negócio!

Como revelou a imprensa, um dos argumentos para convencer a CBF de escolher Weggis foi o dinheiro. Quanto você ofereceu?

Apenas o dinheiro não convence nenhuma seleção que é um das candidatas favoritas à Copa. Se fosse assim, os brasileiros teriam aceitado a proposta de treinar na Arábia Saudita a temperaturas médias de 50 graus célsius. É óbvio que dinheiro foi um fator importante. A seleção não vem para Weggis por causa da beleza dos nossos olhos, mas porque esse local é ideal para ela. Além disso, a CBF ainda recebeu da nossa empresa 1,2 milhão de dólares, mais os honorários pela participação e também todas as despesas pagas. Por outro lado, nossa empresa ganhou os direitos de transmissão e de organização dos dois jogos amistosos – na Basiléia e em Genebra – e também dos treinamentos em Weggis. Com essas atividades de comercialização é que esperamos recuperar o dinheiro investido.

Como foram as condições exigidas pela CBF? Os jogadores precisam de algum conforto ou tratamento especial?

Como eu já expliquei, trabalhamos há muito tempo com a CBF e dessa forma sabemos exatamente o que eles necessitam. Os jogadores brasileiros são extremamente profissionais e focados no seus objetivos. Essas duas qualidades somadas acabam resultando numa despretensão natural por parte deles. Tudo o que está relacionado com esses dois fatores – a vontade de se tornar campeão do mundo e o profissionalismo – é o que determina o que os jogadores precisam. Eles não são pessoas que pedem uma banheira de ouro ou serviço de quarto especial. Apenas o que é absolutamente imprescindível para alcançar o objetivo da equipe é solicitado. Por isso a seleção brasileira é uma das equipes de futebol pela qual eu tenho mais paixão de trabalhar. É inacreditável ver a paixão de como esses jovens jogam futebol e também a sua força de vontade de perseguir a vitória.

Como funciona a questão dos patrocinadores da seleção brasileira e da sua própria empreitada em Weggis?

A transmissão dos treinos e jogos amistosos na Suíça são reguladas segundo o acordo firmado com a CBF. O estádio em Weggis terá cartazes dos patrocinadores da CBF – eu acho que são seis – e o resto será dos nossos próprios patrocinadores.

Muitos habitantes e comerciantes de Weggis têm idéias diferentes de como aproveitar a presença da seleção brasileira. Quantas dessas idéias vocês receberam nos últimos dias?

Vou ser sincero (risos): existem trezentas milhões de idéias do que as pessoas aqui gostariam de fazer. Elas vão desde as vacas pintadas com as cores do Brasil até outras idéias mais exóticas. Porém nós só podemos fazer o que a CBF permite. Não posso dizer o que os jogadores irão fazer nas suas horas livres. A programação ainda está aberta.

Qual significado tem a vinda da Seleção Brasileira para Weggis? Será que ela vai ganhar a mesma fama de Spiez, quando os alemães treinaram por lá antes de ganhar a Copa de 1954?

Em 1954, a vitória da seleção alemã foi realmente um milagre. Mas no caso da seleção brasileira, acho que não será um milagre se ela ganhar a Copa (risos). Porém não é tão fácil defender um título, mesmo se a seleção tem jogadores como Ronaldinho, Ronaldo ou Cacá. Afinal, a pressão sobre o Brasil é imensa. Para nós, a vitória da seleção brasileira faria de Weggis e de toda a região um local muito especial, quase milagroso. Fãs do futebol no mundo inteiro iriam se lembrar de Weggis e dizer: quem treina por lá, se torna campeão.

Muitos torcedores consideram excessiva a exploração comercial do futebol, lembrando que o esporte é antes de tudo um elemento de prazer. Não existiria uma fronteira na sua comercialização?

Você tem certeza que o futebol é apenas prazer? Você diria que o Robbie Williams só canta por prazer?

Certamente não…

Pois os dois funcionam exatamente com o mesmo mecanismo. Na esfera da qual estamos falando agora, o esporte acabou se transferindo para o setor de show business. Alguns poucos ganham somas inacreditáveis e se transformaram em ícones como o Ronaldinho. Quando ele entra no campo, é como se Robbie Williams estivesse cantando para milhões, talvez até mais. A realidade é que se conseguimos vender na Suíça a cada segundo uma entrada para um jogo onde o Ronaldinho e outros jogadores famosos participam, isso é muito mais forte do que na apresentação de um grupo de rock conhecido como os Rollings Stones. Essa foi a primeira vez que eu recebi um recado de uma vendedora, dizendo que poderíamos ter vendido todas as entradas até pelo triplo do preço. Isso mostra que estamos num outro nível. Porém quem sofre é o pessoal nos níveis inferiores, como os pequenos clubes que tem de lutar pela sobrevivência, enquanto as estrelas ganham tudo o que querem.

Quanto a sua empresa vai lucrar com a organização dos amistosos e dos treinos?

Eu não posso dizer qual será o nosso lucro, mas apenas que o negócio vale a pena. Com a seleção brasileira em Weggis, devemos ter um faturamento de 15 milhões de francos, o que não é nada mal para apenas dez dias de trabalho.

swissinfo, Alexander Thoele

Philippe Huber é o chefe da Kentaro Group, responsável pela vinda da seleção brasileira à Weggis.
Uma das suas empresas, a Attaro AG, comercializou os 14 treinos e os dois jogos amistosos da seleção.
O suíço Huber tem 39 anos e é originário de Lucerna.
Sua empresa trabalha há dois anos com a CBF. O contrato foi renovado em mais um ano.
Durante dez dias da seleção em Weggis, o faturamento da empresa deve ser de 15 milhões de francos.
A Kentaro Group está sediada em Londres, tem 50 funcionários e um faturamento anual de 150 milhões de francos suíços.

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