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O mistério da bandeira brasileira

Vinte alpinistas foram necessários para pregar as bandeiras na montanha. www.schweizerfahne.ch

Na encosta da montanha Rigi em Weggis, duas gigantescas bandeiras da Suíça e do Brasil foram fixadas na pedra por vinte alpinistas.

No início da Copa do Mundo, a bandeira brasileira será retirada. A outra, a maior bandeira suíça do mundo, apenas depois do dia nacional, em 1° de agosto.

A equipe “Schweizerfahne” não tem medo de altura. Quando os vinte alpinistas resolveram subir em 20 de maio o vertiginoso paredão de pedra da montanha Rigi (1.797 metros), a partir de Vitznau, o tempo estava ruim. A chuva caía forte e o vento dificultava substancialmente o trabalho de fixar os cabos de aço. Apenas às oito horas da noite, as duas gigantescas bandeiras do Brasil e da Suíça estavam pregadas na montanha.

Com céu de brigadeiro, já no dia seguinte os dois pedaços de pano podiam ser vistos a partir de Weggis, cidade vizinha às margens do Lago dos Quatro Cantões, que se preparava para a chegada da Seleção Brasileira. Não demorou muito para que os turistas e jornalistas começassem a perguntar quem seria o autor dessa impressionante proeza.

Devido às suas proporções gigantescas, a visualização de ambas as bandeiras é possível mesmo a vários quilômetros de distância. A da Suíça tem 30 metros por 30 metros e está localizada à direita da brasileira, que ficou apenas um pouquinho menor: 24 metros por 30 metros.

A ação é uma homenagem aos jogadores brasileiros, que escolheram essa região alpina para se preparar à Copa do Mundo. Porém não é a primeira vez que os alpinistas sobem o Rigi para marcar o patriotismo: desde 2002, o grupo fixa todos os anos no local a maior bandeira suíça do mundo para celebrar o 1° de agosto, o dia nacional helvético.

Com isso eles homenageiam sua pátria e, de quebra, também atraem mais turistas à região. Estes ficam encantados ao ver o cenário combinado de montanhas, o Lago dos Quatro Cantões e vilarejos típicos coroado pelo famoso quadrado vermelho com a cruz branca no meio. Sobretudo os japoneses, durante os passeios de barco, aproveitam o momento para esquentar o dedo nas máquinas fotográficas.

Vento destrói bandeira

O chefe da equipe “Schweizerfahne”, Röbi Küttel, trabalha como zelador de um asilo de idosos em Weggis. Nas horas vagas, a paixão do suíço de 40 anos é escalar montanhas, subir nos despenhadeiros, pregar grampos na pedra e, com seu próprio esforço, chegar ao cume.

Nascido na região, Küttel havia escalado grande parte das maiores montanhas suíças aos dezoito anos. Depois de subir na encosta do Rigi em 1986, ele e um amigo tiveram pela primeira vez a idéia de pregar uma bandeira suíça no local. Apesar de se considerar um patriota, ele considera seu ato longe de ser político.

– O que me fascina é o desafio técnico e esportivo – afirma.

A idéia não se repetiu por falta de patrocínio. Apenas em 2000, ele voltou com uma equipe para pregar uma bandeira de 20 metros por 20 metros, que acabou sendo destruída pelo vento e caindo no meio do vilarejo. Em 2002, Küttel conseguiu o apoio de empresas e iniciou uma tradição que se mantém até os dias de hoje.

Meia tonelada de Brasil

O material das novas bandeiras tem aberturas que permitem a passagem do ar, uma forma de evitar que elas se rasguem com rapidez. Cada uma das bandeiras é fabricada a partir da costura de seis pedaços. A bandeira suíça pesa 400 quilos e utiliza 300 metros de cabos de aço de 10 milímetros e 170 grampos fixados na pedra.

Como base para fazer a bandeira brasileira, a equipe de Röbi Küttel utilizou pedaços antigos da bandeira suíça. Estes foram consertados e pintados com as cores nacionais verde, amarelo, branco e azul. As camadas de pintura fizeram com que o peso da bandeira aumentasse para meia tonelada.

No seu site, Küttel explica o que motiva os alpinistas do seu grupo.

– Para nós as bandeiras são uma expressão de criatividade, coragem frente aos desafios, a vontade de dar de si mais do que o possível, abertura frente ao mundo e também tolerância e liberdade.

Quando a Seleção Brasileira se despedir de Weggis em 4 de junho para lutar pelo hexa na Copa do Mundo, os alpinistas voltarão a subir o Rigi. Eles têm até 11 de junho para descer a bandeira do Brasil.

Ana Rachel Benevenuti, 25 anos, paranaense de Apucarana, vai participar dessa operação perigosa. Ela foi um dos vinte alpinistas a pregar a bandeira no paredão. Advogada formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), ela desembarcou há dois anos em solo helvético atrás de um doutorado em direito internacional. Durante os estudos, conheceu o alpinista Michael, hoje seu namorado e tutor nas aventuras longe do chão.

– A história da bandeira nacional foi uma coisa louca. Foi muito difícil colocá-la. Para piorar, além de alto, enfrentamos rochas que esfarelam. E mais: o trajeto é totalmente vertical. Demoramos 10 horas no paredão. É a terceira vez que faço essa escalada. É algo fascinante – relata a moça, empolgada com o esporte.

A bandeira suíça permanece no local até 15 de agosto, quando os suíços já deverão ter se recuperado dos festejos do dia nacional e também, quem sabe, uma vitória da seleção helvética.

swissinfo, Alexander Thoele

Dimensões da bandeira suíça: 30 metros por 30 metros
Material: seis partes em tecido sintético e com aberturas para passagem de ar.
Peso: 400 quilos
A bandeira é fixada por 300 metros de cabos de aço com 10 milímetros de diâmetro e 170 grampos.
20 alpinistas voluntários pregaram a bandeira no Rigi.
Dimensões da bandeira brasileira: 30 metros por 24 metros.
Material: seis partes em tecido sintético e com aberturas para passagem de ar.
Peso: 500 quilos

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