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Os “pequenos brasileiros” da América Central

Reinaldo Rueda vê Honduras como o grande azarão do Grupo H da Copa. Keystone

Reinaldo Rueda, técnico de Honduras, terceiro adversário da Suíça na Copa do Mundo, descreve os jogadores de sua seleção como "verdadeiros pequenos brasileiros" e diz que o país centro-americano é louco por futebol.

Em entrevista ao jornal Tagesanzeiger.ch, de Zurique, ele diz que Honduras é o azarão do Grupo H e que, “no papel, a Suíça é segunda equipe mais forte do grupo”, que inclui ainda a Espanha e o Chile.

Reinaldo Rueda, o senhor ainda será treinador de Honduras na Copa do Mundo na África do Sul?
Claro, por que eu não deveria ser?

O senhor ameaçou se demitir há algumas semanas, se a Federação Hondurenha de Futebol não pagasse imediatamente o prêmio prometido aos jogadores e ao técnico.
Isso é verdade. Tenho de lutar pelos meus jogadores, porque eles trabalharam bem durante dois anos e meio e, com a classificação para a Copa do Mundo na África do Sul, realizaram um feito histórico. Por isso, eles devem ser recompensados no âmbito dos acordos feitos anteriormente. Mas, enquanto os clubes de hondurenhos foram compensados pela classificação da seleção, nós ainda esperamos pelo nosso dinheiro, um total de 1,2 milhão de dólares. O que não é pouco, sobretudo num país como Honduras, a nação mais pobre da América Latina, atrás do Haiti. É incerto quando nós receberemos o nosso dinheiro. Pelo menos obtivemos garantias de que o receberemos. Mas não falemos de dinheiro.

E sim sobre sua equipe.
Sim, e estou muito orgulhoso. Ela realizou maravilhas com a primeira classificação ao Mundial em 28 anos. Ela conseguiu unir um país economicamente fraco e socialmente dividido. Todos os hondurenhos amam essa equipe. Você não pode imaginar o que aconteceu na capital Tegucigalpa e em todo o país após a classificação para a Copa na África do Sul. Honduras transformou-se em uma gigantesca festa. Essa alegria do povo foi simplesmente incrível. Ainda sinto arrepios quando penso nisso.

O senhor é considerado o arquiteto desse surpreendente sucesso.
Isso deve ser avaliado por outros. Desde minha posse em janeiro de 2007, simplesmente tentei dar um rosto à equipe nacional e construir algo estável. Os hondurenhos são futebolistas talentosos. Eles amam esse esporte, são apaixonados por ele. Os hondurenhos gostam do jogo ofensivo, são fortes na bola, verdadeiros pequenos brasileiros. Mas eles tendem a esquecer que no futebol também há tática e trabalho defensivo. Neste sentido, eles ainda estão atrasados em relação às grandes nações do futebol da região, o México e os EUA. Nisso a participação na Copa do Mundo muda pouco.

Qual é o papel que sua equipe pode desempenhar na África do Sul?
Somos o grande azarão, estamos cientes disso. No entanto, queremos fazer com que os nossos três adversários do grupo, Espanha, Suíça e Chile, tropecem. Podemos causar uma surpresa na África do Sul. Meus jogadores não têm experiência, mas muito coração, o que torna possível muita coisa.

Como o senhor avalia os adversários do seu grupo?
Eles são fortes, muito fortes. Acima de tudo, a Espanha, campeã europeia, é uma grande equipe. Também considero muito a Suíça, e não digo isso por polidez. E o Chile terminou as eliminatórias na América do Sul em segundo lugar.

O que o senhor sabe da equipe suíça?
Ainda vou estudá-la em detalhes nas semanas que faltam até a Copa do Mundo. Mas já vi mais de perto cinco jogos na Suíça em DVD. Obviamente conheço Ottmar Hitzfeld, um dos melhores treinadores do mundo. Sei também que ele já enviou alguns espiões para jogos de Honduras (risos). Isso faz parte do negócio.

Como o senhor avalia a equipe suíça?
No papel, é a segunda equipe mais forte no nosso grupo. É equilibrada, atlética, taticamente muito disciplinada e organizada em campo. A marca de Hitzfeld é evidente. A equipe suíça mudou desde a Copa do Mundo de 2006, ela iniciou uma transição necessária, e isso lhe fez bem. Ela é mais forte hoje do que na Copa do Mundo há quatro anos. Naquela ocasião, eu assisti ao jogo perdido (nos pênaltis) contra a Ucrânia, nas oitavas de final, em Colônia.

O senhor estudou em Colônia.
Frequentei durante dois anos, em 1990 e 1991, a Escola Superior de Esportes de Colônia. Esse tempo mudou a minha vida como treinador de futebol. Antes eu trabalhava no futebol amador em minha terra natal na Colômbia. Só na Alemanha eu aprendi o que realmente importa no futebol, o que é que preciso no futebol profissional, o que devo fazer e deixar de fazer como treinador. Foi um tempo maravilhoso e de muito aprendizado.

Como são seus conhecimento de alemão?
Eles sofreram nos últimos vinte anos, porque quase não tive oportunidade de falar a língua. Mas posso dizer em alemão: An der WM aufgepasst auf Honduras! – Na Copa, cuidado com Honduras! (risos)

Após o Mundial, termina o seu contrato com a Federação Hondurenha de Futebol. O que pretende fazer no futuro?
A federação já queria prorrogar meu contrato. Ela quer que eu leve a seleção também à Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Mas eu não sei que rumo vou seguir após o Mundial. (Nota: Rueda tem uma oferta para dirigir a seleção peruana.) Na verdade, em Honduras eu só tenho a perder, com as eliminatórias da Copa do Mundo atingi o auge. Eu sonho em trabalhar um dia na Europa. Por que não na Super Liga suíça?

Na Suíça, o senhor pode se movimentar livremente.
Isso me falta em Honduras. Aqui todo mundo me conhece. Recentemente recebi a cidadania hondurenha por causa da classificação para a Copa. Este reconhecimento me deixa orgulhoso. Muitos hondurenhos me veem como um embaixador da paz. Graças ao futebol e à seleção são superadas barreiras sociais e políticas. Nós lançamos um pouco de luz no cotidiano frequentemente escuro de muitos hondurenhos. Mas minha popularidade também tem desvantagens. Mal posso caminhar na rua. Logo sou rodeado por pessoas que querem autógrafos, fotos e me cumprimentar. Isso comove, mas às vezes também cansa.

O senhor, portanto, sai pouco?
Sim, muito raramente. Normalmente estou em minha casa em Tegucigalpa com minha esposa, nossa filha de 16 anos e nosso filho de 12 anos. A filha mais velha tem 21 anos e estuda jornalismo em Toronto. Eu gostaria de fazer algo com a minha família, de vez em quando, mas isso não é fácil aqui. Honduras infelizmente se tornou um lugar muito perigoso. Eu comparo a situação com a da Colômbia há 20 ou 25 anos. Em Honduras, as gangues das drogas espalham o medo e o terror, a criminalidade é um problema grave, os sequestros são comuns. É uma pena, porque Honduras é um país maravilhoso, com uma população cordial.

E com influentes meios de comunicação esportivos.
Eu digo que em Honduras há mais jornalistas do que jogadores de futebol. Imagine, neste país relativamente pequeno, com cerca de 7 milhões de habitantes, há 208 programas de futebol no rádio e na televisão. Sem contar os jornais, as revistas e a internet. Honduras é totalmente louca por futebol, e quase todo mundo quer dizer ao treinador da seleção quais jogadores ele deve levar à África do Sul. O mais conhecido e talvez melhor jogador de Honduras é o atacante David Suazo. Ele é a nossa estrela – quando está em forma.

Muitos jogadores hondurenhos atuam no exterior. . .
. . . mas apenas três deles são titulares em seus clubes. Este é um problema para mim: eu tenho vários jogadores na minha equipe que atuam de forma irregular em seus clubes. Eu acho que Ottmar Hitzfeld não tem essa preocupação.

Andreas Werz, Tagesanzeiger.ch
(Tradução: Geraldo Hoffmann)
Publicação na swissinfo.ch autorizada pelo Tagesanzeiger.ch

A única vez em que os hondurenhos participaram da Copa até agora em 1982 na Espanha.

Na ocasião, surpreendeu ao empatar em 1 a 1 com a anfitriã e com a Irlanda do Norte antes de ser eliminada pela antiga Iugoslávia por 1 a 0.

Na eliminatórias para a África do Sul, teve uma sequência de oito partidas sem perder em casa, até ser derrotada pelos EUA por 3 a 2.

Os hondurenhos tiveram a melhor defesa do hexagonal final da CONCACAF, com apenas 11 gols sofridos.

O artilheiro da seleção nas eliminatórias foi o experiente Carlos Pavón, com sete gols em nove jogos.

Seleções que se preparam na Suíça e nos Alpes para a Copa do Mundo na África do Sul:

Coreia do Norte: 11 a 25/5, em Anzère, cantão do Valais

Costa do Marfim: 24/5 a 9/6, em Saanenmöser, perto de Saanen/Gstaad, cantão de Berna

Argélia: 15 a 27/5, Crans Montana

Grécia: 17/5 a 2/6, em Bad Ragaz, St. Gallen (nordeste da Suíça)

Japão: 25/5 a 6/6: Saas Fee, cantão do Valais

Suíça: 24/5 a 4/6, em Crans Montana, cantão do Valais


Paraguai: 16/5 a 2/6, em Evian (França), a 30 minutos de barco de Lausanne, no outro lado do Lago de Genebra

Espanha 29/5 a 4/6, em Schruns (Áustria)

Alemanha: 21/5 a 2/6, em Tirol Sul (Itália)

Honduras: 26 de maio a 8 de junho, em em Villach, na Áustria.

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