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Os brasileiros na Suíça revisitados

Safira e Paul Ammann a passeio, em Fribourg. swissinfo.ch

Cada ano, durante o verão europeu, visitamos a Suíça e desta feita aproveitamos para reencontrar os brasileiros que entrevistamos durante a pesquisa realizada em 2001, que resultou no livro "Brasileiros na Suíça", publicado em 2006.

Por Safira e Paul Ammann

Considerando sua atual situação sociocultural e econômica com a de cinco anos atrás, constatamos, em geral, uma maior integração e estabilidade.

Os depoimentos apontam para maior realização em nível profissional e pessoal ou psicológico. Ao mesmo tempo observa-se na Suíça uma mudança no clima político, caracterizado por forte preocupação com o crescimento da população estrangeira, o que representa mais um desafio as ser enfrentado pelos brasileiros.

Perspectivas de retorno

À ocasião da pesquisa, quando perguntávamos se seus projetos de vida incluíam o retorno ao Brasil, as respostas eram ambíguas, às vezes românticas. Atualmente, após fincarem suas raízes na Suíça, e ao mesmo tempo assistirem à expansão da corrupção e da violência no Brasil, raríssimos pretendem voltar.

Isso não significa que todos os sonhos e projetos foram plenamente realizados. Três entrevistadas que cinco anos atrás viviam relações de encantamento com seus pares suíços, encontram-se hoje divorciadas, com filhos menores. Mesmo assim, optaram pela permanência na Suíça.

Duas outras entrevistadas em idade de aposentadoria permanecem no país. Uma delas, hoje com mais de 70 anos, viúva, sem filhos, mora sozinha, não fala bem nenhuma das línguas nacionais, mas não pensa em retorno. Provê sua subsistência fabricando e vendendo doces brasileiros. Conta com muitos clientes e amigos e aplica tão bem o jeitinho brasileiro que conseguiu, por exemplo, arrecadar por ocasião de seu aniversário, 80 quilos de açúcar que utiliza em sua produção artesanal.

Sucesso e fracasso no regresso

Nem todos, contudo, ficam para sempre. Vale registrar que dois brasileiros jovens, após cinco anos residindo na Suíça, voltaram para sua terra natal, levando seus parceiros helvéticos e conseguiram um bom trabalho.

Em contrapartida um casal retornou ao Estado de origem e montou um empreendimento na área da gastronomia. Quando a empresa começou a funcionar, sofre um assalto por bandidos armados que praticamente saquearam tudo. O casal voltou para a Suíça.

Endurecimento do controle e da legislação suíça referente aos imigrantes

Nos últimos anos, o ambiente político e as condições legais ficaram mais difíceis para os estrangeiros na Suíça. De um lado, o governo adotou medidas mais restritivas contra imigrantes procedentes fora da União Européia, e, de outro, controla com mais rigor a aplicação destas e das antigas medidas.

Além disso, parte da população suíça e os partidos políticos da direita mantêm hoje uma posição mais crítica em relação aos estrangeiros. O endurecimento é motivado, entre outros, pelo fato de que a população de estrangeiros residentes na Suíça cresce mais rápido do que a população autóctone e que a proporção dos estrangeiros vivendo dos seguros desemprego e de invalidez e da assistência social pública é cerca de duas vezes mais elevada do que a dos suíços.

Durante o 85º Congresso dos Suíços no Estrangeiro, realizado em Genebra em agosto de 2007, o partido União Democrática do Centro distribuiu um caderno preto que assustou muitos participantes. O título do folheto: “Se os partidos vermelhos (socialistas) e verdes vencerem (as eleições parlamentares em outubro 2007), a Suíça desintegrar-se-á”. Um dos argumentos da desintegração seria a política pró-estrangeiros dos partidos da esquerda.

Exemplos de integração e realização profissional

Os brasileiros entrevistados em nossa pesquisa, porém, não são atingidos pelas medidas adotadas, nem pela posição dos partidos da direita, porque eles residem legalmente no país, são bem integrados, trabalham, pagam imposto e contribuem para todos os seguros sociais.

Além de nossa pesquisa há outros casos exemplares de integração e realização profissional de brasileiros. Um foi relatado por swissinfo na edição de 17.09.2007: a brasileira Beatriz de Candolle, na política suíça há 20 anos, é prefeita de um município do Estado de Genebra, eleita por voto direto, hoje já no segundo mandato, acumulando as chefias das Secretarias de Obras Públicas, Segurança, Prevenção e Informação. Como deputada estadual é a mulher mais votada de Genebra. Além de desempenhar funções no executivo e legislativo, Beatriz Candolle mantém sua atividade como jornalista e preside a Associação Raízes, dedicada à promoção da cultura brasileira em Genebra.

Conclusão: Existem muitos caminhos bem sucedidos de integração.
No atual clima político que procura restringir o acesso de estrangeiros na Suíça e exigir deles esforços de integração, é salutar conhecer os vários modos de integrar-se.

Obviamente o caminho começa com a legalização da permanência que no caso dos nossos entrevistados sempre foi realizada. Em seguida, a educação básica, a aprendizagem profissional e de línguas bem como a formação continuada, que facilitam a integração. De fato, muitos brasileiros chegaram à Suíça com o objetivo de estudar e conseguiram realizar esse objetivo.

Contudo, integrar-se não significa abandonar suas raízes culturais. Os talentos pela música, pelas artes, pelos esportes etc. devem ser cultivados. Ou como disse uma entrevistada: “Vamos mostrar aos suíços o que nós (brasileiros) temos de bom”.

Safira Ammann nasceu em Caicó, Rio Grande do Norte. Estudou em Natal, Brasilia, Paris e Boston. Trabalhou em Natal, Brasilia e Fribourg (Suíça).

Paul Ammann nasceu em Davos, na Suíça, estudou em Munique, Paris e Boston. Trabalhou na Indonésia, Suíça e no Brasil. O casal reside em Natal.

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