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Pedras contam a história da Lua

Reforçada a teoria de que a Lua é um pedaço da Terra Keystone Archive

Trinta e dois anos depois que o homem pisou na Lua, amostras de pedra do satélite ainda desvendam segredos. E reforçam a teoria do "giant impact".

Indícios de que a Lua se originou do choque entre a Terra e um planeta da dimensão de Marte, há 4 bilhões e meio de anos, ficaram fortalecidos por pesquisadores da Escola Politécnica Federal, de Zurique. Desacreditam ao mesmo tempo teoria mais tradicional…

Os astrônomos concluíram há muito tempo que a Lua tivesse sido capturada por atração terrestre quando se aproximou da Terra nos primeiros períodos do sistema solar.

Já problemática no que diz respeito às leis da gravidade, essa teoria não resistiu à exploração de nosso satélite por sondas e muito menos por vôos habitados do Programa Apollo.

O “Giant Impact”

Os cientistas estão quase certos de que Lua surgiu de um verdadeiro cataclismo, o chamado “Giant Impact”. Em relação a esse “impacto gigantesco”, a queda do enorme meteorito que exterminou os dinossauros, há 65 milhões de anos, pode ser comparada a uma picada de inseto.

Em fins de agosto, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, reconstituiram no computador o que pode ter sido esse choque de titães. Mas para imaginar o choque é preciso remontar a 4 bilhões e meio de anos…

O bólido “Theia”

Na época, a Terra está terminando seu período de formação. É ainda um planeta em fogo, recoberta de um oceano de lava e cercada por uma atmosfera de gases tóxicos. Um mundo de pesadelo, sem presença da vida.

Surge então um outro planeta, jovem e turbulento, mas nitidamente menor. Os cientistas já sabem que esse bólido cósmico tinha, aproximadamente, o tamanho de Marte (um oitavo da massa terrestre). O deram-lhe um nome: “Theia”.

Movimento ainda observável

A violência do choque é inimaginável. As energias e temperaturas liberadas são suficientes para transformar em vapor a rocha da crosta dos dois planetas. Theia se encrava na Terra e grande massa de destroços é lançada no espaço.

Essa massa forma um anel de matéria em torno de nosso planeta. Anel que vai condensar-se e esfriar lentamente para dar origem à Lua. Primeiramente muito próxima da Terra, ela se afasta lentamente, freando a velocidade de rotação sobre si mesma. Esse movimento é ainda observável em nossos dias.

“Hoje essa teoria é a mais aceita, porque nenhuma das outras coincidem 100% com o que sabemos sobre leis da gravidade e composição da rocha lunar”, explica professor Alex Halliday, do Instituto de Geologia dos Isótopos e dos Recursos Minerais, da Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ).

Oxigênio na rocha

A densidade da Lua é anormalmente fraca em relação a de outros planetas rochosos, como a Terra, Vênus, Marte ou Mercúrio. Isso vem do fato de que nosso satélite não dispõe em seu interior do núcleo de ferro que constitui, por exemplo, quase um terço da massa total da Terra.

Esse indício parece indicar que a Lua não se formou por condensação lenta de uma nuvem de poeira, como os outros planetas. Sabemos também que a Terra é um pouco mais antiga que seu satélite: cerca de 50 milhões de anos…

Enfim, a distância Terra-Lua e demasiado grande para avalizar a teoria da captura por simples força de gravidade.

A todos esses indícios, Alex Halliday e seus colegas dão contribuição suplementar. Analisando 31 amostras de rocha trazidas pelos astronautas de Apollo 17, em 1969, os pesquisadores da EPFZ constaram a presença de 3 isótopos de oxigênio (16, 17 e 18), em proporções idênticas às encontradas na Terra.

Os isótopos são de certa maneira “átomos de peso variável”. Normalmente um átomo de oxigênio se compõe de 8 prótons (carga positiva), 8 elétrons (carga negativa) e 8 nêutrons (sem carga elétrica). Mas existe oxigênio mais pesado, com mais nêutrons – até 16 ou 18.

Sabe-se que a repartição de isótopos é muito desigual no universo. Essas proporções idênticas entre rocha lunar e rochas terrestres evidenciam uma origem comum, mesmo se Alex Halliday, com modéstia, prefira falar de “indício suplementar em apoio ao modelo do Giant Impact”. (Indício cuja publicação estava prevista na quinta-feira, 11, na revista norte-americana Science).

A assinalar que o Instituto de Geologia dos Isótopos e dos Recursos Minerais da EPFZ é geralmente considerado um dos melhores do mundo. Ele analisa regularmente uma parte da vasta coleta de rochas lunares trazidas pelas missões Apollo, que, 30 anos depois, continuam desvendando segredos.

Marc-André Miserez (adapt. J.Gabriel Barbosa).

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