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Polanski pode pegar 50 anos de prisão nos EUA

Polanski saindo do tribunal em Santa Mônica, EUA, em 1977. Keystone

Roman Polanski foi detido no sábado (26/09) no aeroporto de Zurique quando chegava para ser homenageado pelo conjunto da sua obra em um festival de cinema.

O cineasta franco-polonês de 76 anos é procurado pela justiça dos EUA por um crime de relação sexual com menor de idade cometido há mais de trinta anos. Autoridades helvéticas defendem prisão.

“Hoje é um dia trágico”, declarou Nadja Schildknecht ao consternado público presente na noite do sábado (26/09) no cinema Corso, em Zurique. A co-diretora do 5° Festival de Cinema de Zurique revelava que o convidado de honra do evento, Roman Polanski, 76 anos, havia sido detido pouco antes no aeroporto de Zurique por policiais. Justificativa: atender a um pedido de extradição por parte dos Estados Unidos.

O diretor franco-polonês era esperado na maior metrópole suíça para receber, no domingo (27/09), o prêmio “Olho de Ouro” pelo conjunto da sua obra. O festival também o homenageava através de uma grande retrospectiva com alguns dos seus melhores filmes, como “Dança dos Vampiros” (1967), “O bebê de Rosemary” (1968) e “Chinatown” (1974).

Sua ausência provocou consternação por parte dos organizadores e muitos artistas helvéticos. “I’am ashamed for Switzerland” (n.r.: Tenho vergonha da Suíça), protestou o documentarista suíço Christian Frei. “Dê a eles o sigilo bancário e não Polanski”, escreveu um manifestante em um cartaz pendurado no sábado na entrada do cinema em Zurique.

Na festa programada para entregar o prêmio, transformada em protesto de solidariedade, um homem teve um desmaio e precisou ser levado por uma ambulância, contou o jornal NZZ. A embaixadora francesa, Joëlle Bourgois, pediu o microfone para declarar “a consternação da França”, ressaltando a reputação do cineasta e anunciando negociações com autoridades helvéticas.

Interpol

Como revela o jornal americano Los Angeles Times, o tribunal reginal da maior cidade do Estado da Califórnia soube na semana passado dos planos de viagem de Polanski a Zurique. As autoridades locais informaram então o Ministério da Justiça dos EUA e fizeram o pedido de extradição do “fugitivo”.

Os americanos solicitaram na quarta-feira (23/09) ajuda ao Ministério suíço da Justiça e Polícia, como explicou à imprensa a porta-voz Brigitte Hauser. Sua base era um pedido de prisão de 1978 por parte do tribunal de Los Angeles, transformado em 2005 em pedido internacional via Interpol. “Fomos obrigados a atendê-lo”, justificou Hauser.

O Los Angeles Times conta ainda que, recentemente, duas outras possibilidades de prender o cineasta ocorreram, sempre em países com os quais os EUA têm acordos de cooperação. Porém, Polanski viajava muito, inclusive para a Suíça, onde tem um chalé em Gstaad, um ressort de ski nas montanhas de Berna. Provavelmente se sentia seguro em vários países europeus.

Porém, desta vez, o cálculo não funcionou. As autoridades helvéticas guardaram silêncio de quarta até domingo. Ao desembarcar na área VIP do aeroporto de Zurique, Polanski foi recebido por policiais estuduais, que o levaram diretamente à prisão localizada ao lado da pista. Geralmente ela é utilizada como centro de detenção provisória para candidatos à expulsão do país.

Os Estados Unidos têm o prazo de 60 dias para formalizar o pedido de extradição. “Se Polanski aceitar a extradição, ele poderá viajar em poucos dias”, explicou Guido Ballmer, porta-voz do Ministério suíço da Justiça e Polícia. Porém, o advogados do cineasta podem entrar com recurso contra a detenção, o que poderia prolongar sua estadia na prisão por vários meses.

Perdoado

O crime pelo qual Polanski é acusado ocorreu em 1977. Aos 44 anos, o cineasta havia convidado uma jovem de 13 anos, Samantha Geimer, para uma sessão de fotos para a revista Vogue, na residência do ator Jack Nicholson, em Los Angeles. Segundo os autos, o diretor deu à menina champanhe e tranquilizantes, antes de pedir que tirasse suas roupas. Em uma piscina, os dois completaram o ato sexual. Posteriormente Geimer declarou que teve medo do cineasta e por isso se sujeitou ao seu assédio.

O cineasta contestou, na época, a versão da menina, mas confessou ter tido relações sexuais com a menor de idade. Ele foi preso e liberado mediante pagamento de 2.500 dólares de fiança. Durante as investigações, Polanski foi detido novamente, dessa vez por 42 dias. Pouco depois, embarcou em um avião para Londres e depois para Paris, onde vive até hoje com sua esposa, a atriz Emannuelle Seigner. Ele nunca mais retornou aos EUA, nem para receber o Oscar em 2003 pelo filme “O Pianista”.

Em dezembro de 2008, os advogados de Polanski exigiram a reavaliação do caso nos Estados Unidos. Sua argumentação era de que o juiz responsável na época havia incorretamente trocado informações com os advogados de acusação. A Justiça americana refutou provisoriamente o pedido, mas aceitou as indicações de erros jurídicos. Essa posição poderia permitir a absolvição do cineasta, mas obrigaria seu comparecimento no tribunal em Los Angeles até 7 de maio. Este recusou a oferta e o mandado de busca continou válido.

O esforço para resolver as questões jurídicas de Polanski nos EUA foi apoiado pela vítima, hoje mãe de três filhos. À imprensa Geimer declarou já ter “trabalhado” o caso e perdoado o cineasta.

Até 50 anos de prisão

Se condenado nos Estados Unidos por ter tido relações sexuais com menores, Polanski pode pegar até 50 anos de prisão. O crime não caduca, inclusive na Suíça.

Questionada pela imprensa, a ministra suíça da Justiça defendeu a prisão do cineasta. “Polanski é procurado desde 2005 pela Interpol. A Suíça tem um acordo de cooperação com os Estados Unidos, assim como com vários outros países. Somos obrigados a extraditar uma pessoa contra a qual existe um mandato de prisão”, esclareceu Eveline Widmer-Schlumpf.

Ela, porém, reconheceu o valor da sua obra. “Conheço seus filmes. Eles sempre me impressionaram”, ressaltando, porém, que isso não obriga o país a tratá-lo de forma diferenciada. “Não é um crime irrisório, mas sim um estupro”.

Eveline Widmer-Schlumpf mostrou compreensão para com o protesto dos artistas, mas somente de forma parcial. “Eu os entendo na ótica de artistas, mas não enquanto cidadãos”, disse, completando que estes “são sempre aqueles que se pronunciam por ética, moral e igualdade de tratamento.”

Alexander Thoele, swissinfo.ch com agências

Polański nasceu em Paris, em 18 de agosto de 1933, com o nome de Rajmund Liebling. Ele era filho de Ryszard Polański (também conhecido por Ryszard Liebling), de religião judaica, e Bula Polański (nome de solteira Katz), uma católica.

Em 1937, a sua família voltou à Polônia. A sua mãe morreu num campo de concentração, mas ele conseguiu evitar a prisão e o envio aos campos, escapando do Gueto de Varsóvia, e passou a Segunda Guerra Mundial em fuga permanente, de um lugar para o outro. Ao final da guerra estudou na Polônia, tendo concluído estudos na escola de cinema de Łódź, em 1959.

Seu primeiro filme de longa-metragem, realizado em 1962 e falado em polonês, A Faca na Água, recebeu boa acolhida da crítica e o lançou numa carreira internacional dirigindo filmes em inglês e francês.

Trabalhou como ator nos filmes Uma Simples Formalidade (1994), do diretor Giuseppe Tornatore, O Inquilino (1976), do próprio, e Dança dos Vampiros (1967), também dirigido por ele.

Casado com a atriz francesa Emmanuelle Seigner desde 1989, entre seus principais trabalhos estão Repulsa ao Sexo, O Bebê de Rosemary e Chinatown. (Wikipédia em português)

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