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Prostituição vira “invisível” em Zurique.

Prostitutas exibem-se numa janela em Zurique. Keystone

Prostitutas não devem mais se exibir nas janelas. Parlamente decide na quarta-feira a proibição desse tipo de "propaganda".

No bairro da rua “Langstrasse”, a eficácia dessa medida é fortemente contestada pela população.

Zurique, uma das cidades mais ricas do mundo, também tem seu “bairro quente”. Trata-se de uma área central, localizada em volta de uma rua chamada “Langstrasse”.

Mais de 40 mil pessoas vivem nesse bairro popular, tristemente célebre pela grande quantidade de casos policiais, traficantes, viciados e, sobretudo, prostitutas, muitas prostitutas, que andam pelas ruas ou se expõem em janelas iluminadas com lâmpadas vermelhas.

Porém o “distrito 4”, como é mais conhecido, também é um bairro vivo e animado, com muitos bares e bons restaurantes. Além disso, é um ponto de encontro de culturas, sobretudo pela grande concentração de estrangeiros que lá vivem, lado ao lado com suíços.

A fotógrafa Ursula Markus, 62 anos, é uma das moradoras desse local. Ela não pode imaginar morar em outro lugar, apesar da sensação de que tudo piorou. “Está cada vez mais difícil ficar aqui. O problema na verdade não são as prostitutas, mas sim os traficantes. Eles são absolutamente arrogantes”.

A senhora de Zurique defende essas “pobres” mulheres”, como ela as denomina as prostitutas que atuam num prédio frente ao seu apartamento. “Trata-se de uma grande hipocrisia: essa mulheres estão legalmente registradas, elas podem trabalhar, mas estão proibidas de se expor nas calçadas ou nas janelas”.

Sexo e hipocrisia parecem ser uma característica do bairro da “Langstrasse”. “Na verdade, a prostituição no bairro é proibida, pois se trata de uma área habitacional”, explica Lea Bösiger, assistente social de prostitutas na associação Isla Victoria.

Multas pesadas

Apesar da repressão, prostitutas foram toleradas durante muitos anos. Por isso poucos compreendem a proibição que foi lançada na quarta-feira pelo governo da cidade. “De um dia para o outro, as prostitutas descobriram que elas não tinham direito de ficar nas ruas. E muitas nem sabiam”, afirma Bösiger.

Outro interlocutor, atuante na repressão, tem uma opinião semelhante. “O plano de zonas autorizadas para o exercício da prostituição está totalmente fora do contexto”, diz Hans-Peter Méier, inspetor da polícia de costumes.

Sexta-feira, nove horas da noite: o policial começa a patrulhar as ruas com o seu colega, Kurt Beck. “Veja que se essa mulher na janela do terceiro andar me fizer um sinal, terei de dar-lhe uma multa.”

Ela não fará nenhum sinal, pois sabe que os dois sujeitos são policiais. As multas são, por sinal, bem salgadas: a primeira é no valor de 800 francos, incluindo os 300 de taxas administrativas.

Num bordel, localiza há cinqüenta metros do local, três “recepcionistas” recebem a equipe de policiais e dois jornalistas.

“Nós estamos pagando pelos outros”

Depois que os jornalistas foram identificados, elas começam a falar: – “Escreva aí no papel que a nossa situação tornou-se impossível”, fala “Carole”, a francesa. “Nós não temos mais clientes. As mulheres em situação ilegal nos roubam todos os clientes. Nós pagamos impostos e ainda somos incomodadas pela polícia”.

Em um outro bordel, quase ao lado do primeiro. Quatro andares de “salões”, uma sauna no porão, um proprietário por andar. No andar térreo encontramos dez prostitutas, espremidas num apartamento de três peças.

Todos os papéis estão em ordem. Os dois policiais advertem as prostitutas, para que elas não se mostrem mais nas janelas, pois agora a lei vai proibir esse tipo de exibição. Logo depois surge o proprietário do andar, alertado pelos amigos da profissão.

Concorrência e agressividade

Sentimos que os homens se controlam para não levantar a voz. Um deles até fala de hipocrisia. “Nós damos permissões de trabalho para as mulheres e, ao mesmo tempo, as proibimos de trabalhar. Porém eu não estou nem ai. Se minhas dez meninas tiverem de partir, eu arrumo outras dez”.

Uma boa parte das prostitutas que atuam em Zurique chegam na Suíça com um visto de turista, válidos por três meses. Para prendê-las, a polícia tem de atuá-las em flagrante, o que é praticamente impossível. A maior parte delas vêm da África e América do Sul. Cidadãos dos países do Leste também. A pressão que elas exercem no mercado é grande: muitas cobram preços bem abaixo do comum.

Swissinfo, Ariane Gigon Bormann, Zurique

– Em Zurique estão registradas aproximadamente 3.000 prostitutas. Estima-se que mais algumas centenas trabalhem ilegalmente.
– Em 2002, 314 estrangeiras foram expulsas por exercer prostituição ilegal.
– De acordo com os registros de 2002, Zurique dispõe de 320 bordéis. Em 1990 estes eram apenas 210.

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