Perspectivas suíças em 10 idiomas

Quanto Estado um país precisa?

"Não é contradição ser de esquerda e defender o mercado", Strahm. Keystone

Dois políticos sociais-democratas na Suíça se juntam para escrever um livro a quatro mãos. Seu principal objetivo: mostrar que a esquerda ainda é capaz de ser pragmática e visionária.

Com propostas de mais mercado, menos monopólio e investimento em educação, até a imprensa já elogia os “traidores sociais”.

A esquerda quer mostrar que sabe quebrar tabus. Um deles são os monopólios estatais e privados, outro é a reforma fiscal. E por que não exigir mais concorrência e liberalização dos mercados?

Esse não é o discurso de um maoísta arrependido ou a nova bandeira de dissidências radicais, mas sim as propostas de dois expoentes do Partido Socialista helvético.

– Temos a impressão de que a Suíça está bloqueada e que as reformas necessárias são difíceis de realizar. Agora tentamos mostrar como uma solução do ponto de vista da esquerda – explica Simonetta Sommaruga.

Dentro da luta ideológica vivida pela social-democracia – entre as correntes reformistas e tradicionalistas – ela e seu colega Rudolf Strahm resolveram tomar posição e lançaram um livro escrito a quatro mãos. A obra de 250 páginas é intitulada Para uma Suíça moderna e tenta provar, como eles próprio afirmam, que a esquerda ainda consegue ser “revolucionária”.

– Não podemos abandonar à direita o monopólio de reformar a Suíça – justifica Sommaruga sua posição frente aos jornalistas presentes na coletiva de imprensa realizada em Berna.

Os dois autores têm muita experiência na política. Enquanto Sommaruga é senadora pelo Partido Socialista e presidente da Fundação de Proteção ao Consumidor, Strahm foi 13 anos deputado federal do PS e, desde 2004, atua como chefe do Serviço Nacional de Vigilância dos Preços, um órgão público encarregado de combater os abusos no mercado. Nesse papel ele é conhecido em todo o país como o “Senhor Preços”.

Quebra de monopólios

Em 10 itens, os autores apresentam soluções pragmáticas para permitir que a Suíça saia da estagnação econômica dos últimos anos. É importante destacar que eles representam apenas uma ala centrista no Partido Socialista.

Uma delas propõe a quebra de diversos monopólios estatais e privados. “Se abrirmos os mercado para a telefonia fixa, que ainda está nas mãos da Swisscom (ex-estatal de telecomunicações), o primeiro beneficiário será o consumidor”, explica Strahm e adiciona: “outro exemplo é a proibição de importações paralelas”.

Nesse caso, diversas barreiras impedem a compra de produtos similares no exterior, obrigando o comerciante a negociar com representantes locais, o que encarece enormemente os preços na Suíça.

“O Partido Socialista deve não apenas defender os trabalhadores, mas também o consumidor”, justifica Sommaruga.

Outra proposta é a simplificação fiscal no país através da criação de um imposto único, com mais harmonização entre os cantões, onde isenções fiscais desapareceriam e todos os adultos fariam declaração de renda.

Conflito de gerações

Para os autores do livro um dos maiores problemas da Suíça não está nos gastos excessivos do Estado, mas sim na sua “qualidade”. Enquanto as despesas públicas com o sistema social cresceram em quase 8% do PIB entre 1990 e 2000, o aumento para a educação foi de apenas 0,4%. Esses valores mostrariam que cada vez mais se investe na velhice e nos problemas sociais do que na juventude.

– Precisamos investir muito mais em educação e formação profissional para criar empregos na Suíça, do que apenas em garantir o conforto das gerações mais antigas. Ao mesmo tempo somos contra cortes radicais nos programas sociais – apesar de reconhecer que existem muitos abusos que precisam ser eliminados – esclarece Strahm.

Os dois políticos ainda defendem a adesão da Suíça à União Européia, a integração dos estrangeiros no país, o meio-ambiente e, sobretudo, a manutenção do sistema de concordância política na Suíça, onde todos os partidos dividem entre si o poder, tendo que entrar em acordo para a tomada de decisões.

“O sistema da concordância vive da alternância das maiorias e de alianças. Cada ator político aprende o que significa pertencer ao grupo de perdedores e vitoriosos” – é a conclusão final.

A ressonância do livro foi positiva na imprensa helvética. O editorialista do jornal Le Temps chega a intitular de “Viva os traidores sociais” sua coluna, mas sem poupar elogios.

“Essa é uma boa novidade no debate político no país: a confrontação de idéias e não dos dogmas, o pragmatismo e não o imobilismo. Assim nascem os verdadeiros avanços econômicos e sociais que a Suíça tanto precisa nos dias de hoje”.

swissinfo, Alexander Thoele

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR