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Saúde na Suíça e no Brasil

Helicóptero da REGA (Serviço Suíço de Salvamento) remove ferido em uma montanha da Suíça. REGA

O sistema suíço de saúde é considerado um dos mais caros do mundo. Por isso o cidadão está interessado em saber se a relação custo-benefício é positiva.

Paul Ammann, um suíço do estrangeiro, compara no artigo do mês os dois sistemas de saúde e mostra que as diferenças não são tão grandes como a maioria imagina. Por Paul Ammann, Natal, Brasil

O Departamento Federal de Estatística da Suíça e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística levantam periodicamente dados sobre o estado de saúde de suas populações. As metodologias aplicadas pelos dois institutos de pesquisa são semelhantes e os resultados, via de regra, comparáveis. Nos anos 1990 participamos do planejamento e da análise das duas primeiras pesquisas sobre o estado de saúde da população suíça. Em 2002 analisamos os resultados da pesquisa do estado de saúde da população brasileira, no contexto do Planejamento da Saúde no Estado do Rio Grande do Norte.

Os sistemas suíço e brasileiro de saúde

O sistema suíço de saúde é considerado um dos mais caros do mundo. Por isso o cidadão está interessado em saber se a relação beneficio-custo no campo da saúde é positiva, já que dois terços das despesas com saúde são pagos diretamente pelos habitantes, através das contribuições ao plano de saúde que é obrigatório para todos, crianças e adultos, suíços e estrangeiros residentes permanentes na Suíça. Apenas um terço das despesas com saúde é subsidiado pelo governo (pelos impostos). O valor médio de um plano de saúde suíço corresponde mais ou menos ao preço médio dos planos privados de saúde no Brasil. Para a população suíça de baixa renda, por exemplo estudantes, é difícil pagar em dia as elevadas mensalidades do plano, daí porque, nestes casos, o governo ajuda assumindo parte do valor devido, de modo que, finalmente, a cobertura alcance 100%.

O sistema brasileiro de saúde, o chamado Sistema Único de Saúde (SUS), é uma das mais importantes conquistas da sociedade brasileira, considerando “a saúde como direito, a ser garantido pelos princípios da universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação social” (veja link “Painel de indicadores SUS”). O SUS dispõe de um banco de dados que apresenta de forma pormenorizada o atendimento à população.

Mais de 90% dos jovens brasileiros e suíços avaliam seu estado de saúde como bom ou excelente

Conforme os mais novos levantamentos (Suíça: 2002 e Brasil: 2003), 91% dos jovens brasileiros e 92% dos suíços auto-avaliam seu estado de saúde como bom ou excelente. Na média de todas as faixas etárias em ambos os países, a proporção das mulheres que percebem seu estado de saúde como bom ou ótimo se situa 4 pontos percentuais abaixo da dos homens.

Depois dos 25 anos de idade a proporção da população com avaliação boa e excelente da saúde baixa nos dois países, ano por ano, quase linearmente, até chegar a 41% no Brasil e 70% na Suíça referente à população de 65 anos ou mais.

Menos de 1,6% da população de 15 a 39 anos de idade dos dois países apresentam saúde precária

No lado inferior da escala de percepção da saúde encontra-se a categoria “estado de saúde ruim ou muito ruim”. Na Suíça 1,4% e no Brasil 1,5% da população de 15 a 39 anos de idade classificam seu estado de saúde nesta categoria. Para a população com idade acima de 65 anos sobe a proporção das pessoas com saúde ruim, atingindo 7% na Suíça e 15% no Brasil.

A pesquisa brasileira levanta as classes de rendimento dos entrevistados. Seus resultados confirmam a estreita correlação entre classes de renda baixa e saúde precária. Seis vezes mais pessoas com rendimento até um salário mínimo se queixam de saúde ruim do que pessoas que ganham acima de 20 salários mínimos.

Consultas médicas, mortalidade infantil

77% dos suíços e 63% dos brasileiros consultam anualmente um médico. No Brasil, a proporção das pessoas com consultas médicas realizadas e que ganham mais de 20 salários mínimos atinge 78%, a da classe até um salário mínimo não chega a 59%. Na Suíça o médico mais procurado é o chamado médico da família que cuida da saúde da família toda, pais e crianças. No Brasil existe um serviço semelhante, o Programa de Saúde da Família (PSF), pelo qual 26.000 equipes médicas atendem anualmente 84 milhões de pessoas em casa. O PSF tem a vantagem que o doente não precisa ir ao posto de saúde e esperar por uma senha e depois por um médico, mas é o médico que vai à família.

O PSF melhorou significativamente o estado de saúde de milhões de famílias e contribuiu para a diminuição da taxa de mortalidade infantil que caiu, entre 2002 e 2004, de 24 para 22 mortes por mil nascidos vivos; na Suíça essa taxa situa-se abaixo de 5 por mil. A baixa mortalidade infantil não depende apenas do bom atendimento médico, mas da eliminação das tradicionais características do subdesenvolvimento, tais como o insuficiente fornecimento de água potável e a precariedade do saneamento básico.

Considerações sobre a qualidade do atendimento médico-hospitalar

Temos experiência própria – como paciente e como pesquisador social – do atendimento médico-hospitalar tanto na Suíça quanto no Brasil. O atendimento na Suíça, em geral, é considerado bom. Não há diferença significativa de qualidade entre os serviços médicos públicos e privados, entre o atendimento oferecido na cidade e nas regiões rurais. Mesmo um alpinista acidentado no topo de uma montanha é socorrido em tempo hábil, por helicóptero com UTI. Nos feriados da Páscoa 2007, o serviço de salvamento por helicóptero atendeu a mais de 200 chamadas.

O atendimento médico-hospitalar da rede pública no Brasil (Sistema Única de Saúde) é considerado bom ou muito bom por 86% dos atendidos. Contudo, conforme a pesquisa de 2003, anualmente em torno de 500.000 pacientes que procuram atendimento não são atendidos porque falta médico ou devido a aparelhos defeituosos ou porque não conseguem vaga ou senha.

O atendimento médico-hospitalar da rede privada no Brasil, em geral, é excelente, no que se refere à qualificação das equipes médicas e para-médicas, às instalações e aos equipamentos. Esse conceito vale também para Estados do Nordeste, que são considerados pobres. Estimamos o atendimento hospitalar na parte hoteleira melhor do que na Suíça, devido ao fato que os acompanhantes podem permanecer no apartamento do paciente e que no Brasil trabalham mais profissionais para-médicos por paciente do que na Suíça.

Paul Ammann nasceu em Davos, é brasileiro naturalizado, sociólogo e economista, trabalhou nas Secretarias de Saúde Pública de Berna e do Rio Grande do Norte e nos Ministérios do Trabalho do Brasil e da Suíça. Publicou artigos no Brasil, na Suíça, Alemanha, Indonésia e nos Estados Unidos.

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