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Socialistas querem uma “Suíça para todos”

Christian Levrat, presidente do Partido Socialista Suíço. Keystone

O Partido Socialista Suíço continua sendo o maior partido de esquerda. Seu objetivo é consolidar essa posição, defendendo a ideia de uma "Suíça social".

Entrevista com o presidente do partido, o deputado Christian Levrat.

Os socialistas conseguiram 19,5% dos votos nas legislativas federais de 2007. À frente do Partido Socialista desde 2008, Christian Levrat visa reforçar o papel de segundo partido do país, apesar da concorrência cada vez maior, à esquerda, do Partido Verde suíço.

swissinfo.ch: Quais são as prioridades do seu partido para o próximo mandato?

Christian Levrat: A primeira é a reforma do seguro social, que deve manter principalmente o bom nível das pensões de velhice. A segunda é o poder de compra e as questões relacionadas com a habitação, que subiu 60% nos últimos 10 anos. É preciso haver uma outra política, que os municípios sejam mais agressivos na aquisição de terrenos e construção de novas moradias.

A terceira prioridade é a produção de energia renovável para que a Suíça possa deixar a era do petróleo e da energia nuclear.

swissinfo.ch: Em que áreas o governo deve reduzir os gastos e onde ele pode investir mais?

CL: Há áreas onde podemos reduzir ainda mais os gastos, principalmente com a defesa. Ninguém mais sabe ao certo para que serve as forças armadas, mas continuamos gastando 4 bilhões por ano. É demais.

Em compensação, é preciso investir mais em outras áreas, como infra-estrutura, transporte, energia renovável, educação e pesquisa.

swissinfo.ch: Qual caminho a Suíça deve seguir em suas futuras relações com a União Europeia?

CL: Devemos realizar um debate honesto sobre os limites da abordagem bilateral. A Suíça é mais ou menos obrigada a adotar as mesmas regras da UE. E Bruxelas exige que passemos a incluir nos novos acordos a retomada automática das normas europeias, o que levanta questões de soberania. Devemos questionar se esse estatuto de membro passivo é aceitável.

Na próxima legislatura, será necessário ao menos uma avaliação crítica da via bilateral, que gerou alguns frutos não desprezíveis, mas que chegou ao fim. Deveremos, então, retomar a questão da adesão, mesmo se ela não tem a menor chance de ser aceita pela população.

swissinfo.ch: Qual deveria ser a missão e o contingente das forças armadas da Suíça no futuro?

CL: O papel do exército é a produção de segurança, que só pode ser feita a nível internacional. Dispomos agora de um exército de defesa territorial de 120 mil homens que não corresponde em nada às ameaças reais. Devemos reduzi-lo para 50 mil homens, contando os profissionais, e diminuir o orçamento.

swissinfo.ch: Qual é a posição do seu partido em relação à imigração e à integração dos estrangeiros na Suíça?

CL: Em termos de integração, se tem alguém que conhece bem a realidade de campo são os socialistas eleitos, já que a maioria das grandes cidades suíças são governadas por socialistas e a maioria das associações responsáveis da integração também.

Sobre a questão mais ampla da migração, devemos lembrar que passamos por uma mudança qualitativa na migração. Não é mais uma imigração de pessoas subqualificadas vindas dos países do sul, mas uma imigração muito bem qualificada proveniente da Europa, que rivaliza com a classe média dos grandes centros urbanos.

Isto levanta toda a questão da livre circulação de pessoas. Mas nossa posição é clara: a livre circulação de pessoas permitiu que 100 mil estrangeiros viessem trabalhar na Suíça, e estes criaram 200 mil postos de trabalho. A discussão não deve centrar-se tanto sobre os méritos da livre circulação, mas sobre as medidas de acompanhamento para evitar o dumping salarial e do mercado imobiliário.

swissinfo.ch: Quais são as propostas do seu partido para melhorar a política da Confederação Suíça com relação à “Quinta Suíça” (suíços expatriados)?

CL: A representação deles em Berna é fundamental. Nós apoiamos a ideia de eleger diretamente os representantes dos suíços do estrangeiro no Parlamento, e até mesmo a criação de circunscrições eleitorais, tais como em outros países. Na falta disso, deixamos um lugar na nossa lista e estamos satisfeitos com o interesse dos suíços do estrangeiro em se candidatar. Mas acho que a voz dos suíços do estrangeiro é mais eficaz quando ela é expressa diretamente no debate político. É nisso que precisamos trabalhar.

O Partido Socialista Suíço (PSS, na sigla em francês) foi fundado em 1881.

Cresceu substancialmente graças à introdução do sistema de eleição proporcional de 1918 e tornou-se o primeiro partido do país em 1943, um status que só foi perdido em 1999, em favor do Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão).

Principal representante da esquerda, o PS foi incorporado ao governo com uma primeira cadeira em 1943, e uma segunda em 1959.

Obteve 19,5% dos votos nas legislativas federais de 2007. O PSS é o segundo partido do país. Tem 2 ministros, 43 deputados e 9 senadores.

Nasceu no cantão de Fribourg, Bacharel em Direito pela Universidade de Fribourg e ciências sociais pela Universidade de Leicester.

Durante sua carreira, foi diretor jurídico da Organização Suíça de Ajuda aos Refugiados. É presidente do Sindicato da Comunicação desde 2003 e também vice-presidente da União Sindical Suíça.

A nível político, fez sua estreia durante a Constituinte do cantão de Fribourg. Membro da Câmara dos Deputados desde 2003, é presidente do PS desde 2008.

Adaptação: Fernando Hirschy

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