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Extrema direita suíça é mais barulhenta do que perigosa

Nacionalista participando do encontro "Swiss Pride 2003" em Saviese (sul da Suíça). Keystone

Os suíços freqüentemente têm medo do estrangeiro, são um pouco sexistas, um pouco antissemitas, um pouco anti-islâmicos, mas raramente extremistas. Apenas 4% da população seriam de extrema direita.

A constatação é de um estudo de cinco anos sobre a questão e que acaba de ser publicado pelo Fundo Nacional de Pesquisa (PNR, na sigla em francês).

Treze equipes ou pesquisadores isolados de várias áreas das ciências humanas participaram do programa de estudo denominado PNR 40+, apresentado terça-feira (24) em Berna. Foram cinco anos de pesquisa, a mais completa realizada até hoje na Suíça.

Os autores dos diversos relatórios estudaram os nostálgicos do III Reich, que nenhum deles conheceu, mas também suas vítimas, os arrependidos e até os que brigam com os torcedores de outros times nos estádios de futebol.

Na compilação geral, 4% da população estariam envolvidos nesse movimento que se desvia das normas estabelecidas ou predispostos a aceitarem suas teses. A extrema esquerda, por sua vez, encontra eco em apenas 2% dos suíços. Esses números são comparáveis aos da Alemanha.

A esponja UDC

Mas os pesquisadores foram mais além: uma parte do estudo é dedicada à direita que eles não qualificam jamais de extrema, mas que uma parte dos valores é muito próxima: a direita populista.

O cientista político Gianni d’Amato e o historiador Damir Skenderovic demonstraram como a tendência nacionalista assumida desde o início dos anos 90 pela UDC (União Democrática do Centro na sigla em francês, cujo nome em alemão – Partido do Povo Suíço, SVP, é muito mais claro), coincidiu com o desaparecimento de pequenos partidos populistas que, desde os anos 60, tinham, juntos, 10% do eleitorado.

Nesse domínio, a Suíça desempenhou um papel pioneiro em comparação internacional, sublinham os autores. O populismo de direita existe há décadas. “Nosso sistema político permite integrar esse tipo de opinião de maneira não violenta”, resume Sandro Cattacin, sociólogo na Universidade de Genebra.

Com isso, ao ver suas preocupações discutidas na esfera política – por pessoas que podem inclusive chegar ao governo – os cidadãos que têm idéias de extrema direita serão menos tentados a se radicalizar e a recorrer à violência.

Xenófobos, sexistas, e o que mais?

Com sua equipe de pesquisadores, Sandro Cattacin fez, para o PNR 40+, um vasto estudo das atitudes “misantrópicas e extremistas” da população suíça.

Eles trabalharam com uma amostra representativa de 3 mil pessoas (ao invés de mil habitualmente nas sondagens de opinião), com questionários de 90 perguntas respondidos na primavera de 2005.

Os resultados são inequívocos: uma em cada duas pessoas (50%) tem medo do estrangeiro, uma em cada cinco tem atitudes antissemitas, uma em cada três tem atitudes anti-islâmicas e quase uma em cada quatro pessoas tem atitudes sexistas.

Não há qualquer razão para alarmar os pesquisadores: esses resultados são comparáveis aos obtidos nos países vizinhos, especialmente a Alemanha. E exprimir uma atitude em uma sondagem não quer dizer agir, ainda menos quando é possível se exprimir pelas urnas, como os suíços o fazem com bastante freqüência.

Jovens mas não bobos

Resta, portanto, essa pequena minoria que age, mais visível do que perigosa, em que Marcel Niggli, diretor do estudo PNR 40+, não vê “uma ameaça aguda para o Estado de direito democrático.”

Trata-se com mais freqüência de homens jovens ou ainda adolescentes. Ao contrário do que imaginavam os pesquisadores, eles não são marginais nem os “perdedores da modernização”.

Como demonstrou Thomas Gabriel, da Universidade de Zurique, eles podem vir de famílias em que a violência era uma forma de comunicação habitual, ou de jovens que procuram se adaptar radicalizando os valores e normas do meio de origem.

As motivações que levam um jovem (as jovens são muito mais raras) a entrar em um grupo de extrema direita são muito variadas e também podem fazê-lo simplesmente pela necessidade de pertencer a um grupo ou de ter a sensação de existir.

O meio é muito heterogêneo e as razões de aderir são tão numerosas e diversas que as razões de sair, como mostra o estudo sobre os “arrependidos” da extrema direita.

swissinfo, Marc-André Miserez

Desde os anos 90 a extrema-direita suíça manifesta durante o Dia Nacional da Suíça (1° agosto), sobretudo na área do Grütli, o berço mítico da Confederação Helvética.

Comovido pela recrudescência do ativismo, o governo federal encomendou em 2003 ao Programa Nacional de Pesquisas (PNR, na sigla em francês) um trabalho sobre o tema extremismo de direita, causas e contra medidas. Seu orçamento foi de quatro milhões de francos.

Sob a coordenação de Marcel Niggli, professor de direito penal da Universidade de Friburgo, aproximadamente trinta pesquisadores de vários países se lançam em 13 projetos para descobrir as condições de origem, formas de expressão, propagação e consequências das atividades e atitudes da extrema direita na Suíça.

O relatório com a síntese final foi publicado no final de fevereiro de 2009 (301 páginas em inglês), sob o título Right-wing Extremism in Switzerland – National and international Perspectives (n.r.: Extremismo de direita na Suíça – perspectivas nacionais e internacionais). Ele também leva em conta o contexto internacional e contém bases para estratégias permitindo abordar o extremismo de direita em nível comunal, cantonal e federal.

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