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Sucessos de Chelsea e Lile também são forjados na Suíça

Arsène Wenger, técnico do Arsenal, do Observatório de Jogadores Profissionais Keystone

Criado em 2005, o Observatório de Jogadores Profissionais de Futebol, em Neuchâtel, conquistou alguns dos grandes clubes europeus.

Eles aplicam os conselhos dos pesquisadores que publicam nesta segunda-feira (11/4), pela primeira vez, um estudo mundial sobre as migrações de jogadores.

“Um trabalho único, exaustivo e fascinante”. Em sua edição de 27 de março o jornal britânico Sunday Times

não poupa elogios à pequena equipe de cientistas que compila e analisa desde 2005, em Neuchâtel (oeste) os dados estatísticos de mais de 13 mil jogadores profissionais em 534 clubes dos 36 campeonatos de primeira divisão na Europa.

 Arsène Wenger, técnico do Arsenal, Carlo Ancelotti, do Chelsea e Damien Comolli, diretor esportivo do Liverpool, não ficam mais sem consultar os relatórios elaborados em Neuchâtel, afirma o jornal britânico. O Observatório de Jogadores Profissionais relaciona as características demográficas dos jogadores e fornece indicações preciosas sobre os fatores de sucesso de uma equipe.

Raffaele Poli, cofundador do Observatório, explica que “ quando elaborava minha tese de doutorado sobre o circuito de contratação de jogadores africanos, comecei a coletar uma grande quantidade de dados. Esses dados são acessíveis, mas percebemos que tínhamos feito um enorme trabalho para obter dados comparáveis. Então pouco a pouco pudemos demonstrar as aplicações concretas”.

Planejamento a longo prazo

O Observatório desenvolveu modelos que permitem aos clubes de melhor planejar a política de recrutamento a longo prazo. “Os fatores mais importantes são a estabilidade em campo, principalmente na defesa e no meio-campo, a experiência de jogadores em clube e a presença de jogadores de seleção. Se acrescentarmos as estatísticas de jogo, consegue-se determinar as chances de uma equipe ter bom desempenho a longo prazo”, afirma Raffaele Poli.

Não é por acaso que são os clubes ingleses os que mais se interessam pelos trabalhos realizados em Neuchâtel. “A cultura da estatística aplicada ao esporte é mais presente nos países anglo-saxões do que no sul da Europa”, afirma Raffaele Poli”. Nos últimos anos, Chelsea reduziu seu número de “olheiros” nos campos de futebol e contratou universitários capazes de triar os jogadores mais interessantes graças às estatísticas.

“O diretor de desempenho do Chelsea me convidou várias vezes para apresentar nossos trabalhos. Foi assim que o clube decidiu, por exemplo, prolongar o contrato de Frank Lampard, um jogador caro, mas essencial para a estabilidade do time”, explica o pesquisador. No entanto, ele adverte que “o recurso às estatísticas não substituirá  jamais o olho do especialista na beira do campo”.

O jogo dos prognósticos

Essa cultura estatística tende portanto a ser cada vez mais difundida. O Lile, atualmente líder do campeonato francês da primeira divisão, foi um dos primeiros clubes a se interessar pelos relatórios de Neuchâtel.  “O sucesso de Lile tem a ver com a política de estabilidade aplicada pelos dirigentes do clube”, afirma Raffaele Poli.

Os pesquisadores suíços não hesitam a arriscar prognósticos. Eles calcularam que o Barcelona ganhar a edição em curso da Liga dos Campeões. “Não somos mágicos, mas certas lógicas existem. Os cinco clubes aos quais tínhamos atribuído o melhor resultado estão classificados para as quartas de final. O risco de errar totalmente é fraco”.

A correlação entre estabilidade do plantel e resultados se confirma também no campeonato suíço. No intervalo do inverno, as três equipes mais estáveis (Basileia, Zurique e Lucerna) estavam nos três primeiros lugares da tabela.

 Migrações globais

O renome adquirido pelo observatório de Neuchâtel levou os pesquisadores a ampliar um pouco o campo de estudos. Nesta segunda-feira (11/4), eles publicaram o primeiro relatório sobre as migrações globais de jogadores de futebol.  “Para estudar a migração de jogadores, é indispensável incluir a América Latina, de onde provém uma grande parte dos jogadores. Selecionamos 101 campeonatos e 6 mil fluxos de jogadores em 2010. Assim, estamos próximos de ser exaustivos”.

Por vezes, os resultados obtidos surpreendem. Chipre é o rei da importação, à frente da Grécia, Portugal e Inglaterra. “Não são obrigatoriamente os campeonatos mais conhecidos que importam mais jogadores. Há uma banalização de recorrer aos jogadores estrangeiros em todos os níveis de competição na Europa”, sublinha

Raffaele Poli.

A tendência a uma internacionalização do mercado se confirma e 2010 foi um ano recorde em migração nos 36 campeonatos europeus. Praticamente metade dos que jogam na Europa já teve uma experiência internacional.

Suíça é trampolim

Com 40% de jogadores estrangeiros na primeira divisão, a Suíça está acima da média europeia (33%). Ao recrutar jovens jogadores estrangeiros que geralmente continuam a carreira em campeonatos mais prestigiosos, a Suíça confirma seu papel de trampolim.

O fato novo é que o campeonato suíço também serve cada vez mais de trampolim para os jogadores suíços. “Na temporada 2009/10, 39 jogadores formados na Suíça participam dos cinco maiores campeonatos europeus, formando o 4° maior contingente de expatriados, depois do Brasil, Argentina e França. É excepcional para um país de 7 milhões de habitantes e demonstra o sucesso da política de formação na Suíça”.

No entanto, existe também o outro lado da moeda porque a Suíça está em terceiro lugar, depois da Inglaterra e Montenegro, entre os países que deixam partir seus jovens talentos muito precocemente. São dados que certamente serão analisados pelos dirigentes do futebol suíço.

Parceria. Criado em 2005, o Observatório dos Jogadores Profissionais de Futebol (PFPO), é um grupo de pesquisa do Centro Internacional de Estudos do Esporte (CIES), da Universidade de Neuchâtel, do Laboratório THéMa da Universidade de Franche-Comté (França) e do Instituto de Ciências do Esporte (ISSUL) da Universidade de Lausanne.

Beneficiários. O PFPO elabora indicadores estatísticos comparáveis nos setores de demografia, formação, recrutamento internacional e mobilidade e desempenho de jogadores de futebol. Os dados são fonte de informação e ferramenta de ajuda à decisão para os que atuam na indústria do futebol como clubes, federações (UEFA, FIFA), empresários, mídia, etc.

Relatórios. São publicados dois relatórios por ano. Em janeiro, o estudo demográfico dos jogadores na Europa repertoria as principais características de mais de 13 mil jogadores de 534 clubes e 26 campeonatos. Em agosto sai o estudo anual do mercado europeu de jogadores, que analisa em detalhe a evolução demográfica dos plantéis dos clubes dos cinco principais campeonatos europeus.

Migrações. O PFPO publicou pela primeira vez no início de abril, em colaboração com o site Soccer Association.com, um relatório sobre as migrações globais de jogadores de futebol. O estudo aborda a importação e exportação de jogadores e dos circuitos que ligam os país de partida e de chegada dos jogadores.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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