Nova chefe consular aposta na digitalização para atender suíços no exterior

À frente da rede consular suíça há pouco mais de três meses, Marianne Jenni aposta na digitalização e em parcerias internacionais para enfrentar o crescimento da diáspora e os cortes de orçamento. A diplomata defende o princípio da responsabilidade individual e quer aproximar o governo dos suíços que vivem fora do país.
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A Direção Consular é uma entidade subordinada ao Ministério suíço das Relações Exteriores (EDALink externo, na sigla em alemão) que supervisiona a rede consular suíça. Seu bom funcionamento é essencial para os suíços no exterior, uma vez que suas decisões têm um impacto direto sobre a diáspora.
À sua frente está agora Marianne Jenni, que recentemente atuou como embaixadora em Quito, no Equador. Com mais de 30 anos de carreira consular, a suíça conhece bem os desafios que a vida no exterior representa.
swissinfo.ch: A senhora está à frente da Direção Consular há 100 dias. Qual é o primeiro balanço que a senhora faz?
Marianne Jenni: Um balanço muito positivo. A Direção Consular funciona muito bem, graças a uma equipe qualificada que presta serviços de excelência. Fiquei impressionada com sua motivação incansável e com todos os projetos em andamento.
Também aproveitei minha entrada na função para estabelecer laços com nossos diferentes parceiros, como a Organização dos Suíços no Exterior (OSE) e o grupo parlamentar interpartidário “Suíços do Exterior”.
swissinfo.ch: Quais são, na sua opinião, os maiores desafios no momento?
M.J.: A digitalização dos serviços consulares é, sem dúvida, o mais importante deles. Cada vez mais suíças e suíços se estabelecem no exterior, especialmente pessoas idosas. Contudo, sobretudo nesta fase de medidas de economia federal, o número de funcionários consulares não aumenta. Portanto, precisamos encontrar soluções para oferecer um serviço de mesma qualidade a mais pessoas, e a digitalização é uma delas.
A prevenção representa igualmente um desafio significativo. Muitos suíços partem para viver ou viajar em regiões perigosas. Uma boa preparação é também importante para pessoas aposentadas, para que não subestimem os desafios de uma mudança para o exterior. Nosso papel é fornecer instrumentos úteis e informá-las para que estejam o melhor preparadas possível. Fazemos isso, por exemplo, por meio de campanhas como Ageing AbroadLink externo ou de webinarsLink externo organizados com a OSE.
Em novembro de 2025, a Lei sobre os Suíços do estrangeiroLink externo completará dez anos. Aproveitaremos essa ocasião para conscientizar sobre a importância da prevenção e para reafirmar o princípio da responsabilidade individual.

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swissinfo.ch: A senhora já tem ideias concretas em relação à digitalização dos serviços consulares?
M.J.: Estamos trabalhando na implementação de uma plataforma digital para os serviços consulares, especialmente para declarações administrativas, como casamentos ou nascimentos. Esse trabalho está sendo realizado em colaboração com outros órgãos federais.
Também estamos refletindo sobre como a HelplineLink externo do EDA, disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, poderia ser apoiada pelo uso de inteligência artificial.
swissinfo.ch: Com uma população de suíços no exterior envelhecendo, que talvez tenha menos afinidade com a tecnologia digital, a senhora não teme excluir parte de sua clientela?
M.J.: Efetivamente, esse risco existe. Queremos preveni-lo, na medida do possível, por meio da antecipação. Além disso, o pessoal de nossas representações e nossa Helpline estão sempre disponíveis para responder às solicitações de nossos compatriotas. As gerações mais jovens, por sua vez, demandam essa digitalização, que facilitará suas vidas em muitos aspectos.
swissinfo.ch: Quais são suas prioridades imediatas como nova diretora da Direção Consular?
M.J.: A curto prazo, participarei dos Congressos dos clubes suíços na França, na Alemanha e na Itália, pois considero importante manter contato com os suíços no exterior, especialmente nos países onde eles são mais numerosos.
Também é importante ouvir suas preocupações e necessidades. Penso, por exemplo, no desejo de aumentar o número de estações móveis de passaporte. Nossa rede é densa, mas a Suíça não pode estar em todos os lugares. Esse serviço é, portanto, muito importante, e estou ciente disso.
Por fim, espero poder concluir acordos adicionais com estados que possuem representações em países onde não estamos presentes, a exemplo de nossa parceria com a Áustria. Em caso de problemas, os suíços podem então recorrer a essas representações. Isso nos permite estar mais próximos de nossos concidadãos e expandir nossa rede sem incorrer em custos adicionais.
swissinfo.ch: A propósito, em que medida a rede consular será afetada pelas medidas de economia da Confederação?
M.J.: Não está previsto nenhum fechamento de embaixadas ou consulados. Pelo contrário, como eu disse antes, pretendemos expandir nossa rede por meio de parcerias com outros países.
Marianne Jenni ingressou no Ministério suíço das Relações Exteriores (EDA) como funcionária consular em 1991. Ela trabalhou em Paris, Lagos, Roma, Londres, Bagdá, Kinshasa e Cidade do Cabo antes de retornar a Berna em 2013, onde foi responsável pelo pessoal local e honorário no exterior, bem como dos bens imobiliários do EDA. De 2021 a 2024, foi chefe de missão em Quito, no Equador.
Fonte: Revista Suíça
swissinfo.ch: A gestão de crises é uma das tarefas principais da Direção Consular. No entanto, os suíços no exterior frequentemente se sentem negligenciados durante eventos extraordinários. Qual é sua abordagem para essa questão?
M.J.: Quando se vive ou se está no exterior e ocorre uma crise, a primeira coisa a fazer é seguir as orientações dadas pelas autoridades do país em questão.
Em situações de crise, o EDA e as representações informam os cidadãos suíços e lhes prestam assistência sempre que possível, dentro do âmbito da proteção consular. Mas nem sempre podemos intervir imediatamente em todas as partes do mundo.

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Em certos casos e sob certas condições, colaboramos com outros estados ou terceiros, como companhias aéreas, para ajudar os suíços a deixar a zona de crise.
Em caso de uma crise persistente, o EDA pode recomendar a saída da região. As pessoas afetadas então decidem livremente se partem, fazendo-o por sua conta e risco e arcando com os custos.
Também tentamos, da melhor forma possível, informar nossos concidadãos quando percebemos que uma crise está prestes a eclodir, encorajando-os a (re)agir. Um instrumento importante nesse sentido são nossos conselhos de viagemLink externo. Não se deve esquecer que a Lei sobre os Suíços do estrangeiro estabelece a responsabilidade individual como um princípio fundamental na relação entre a Confederação e os indivíduos aos quais ela garante direitos ou pode prestar assistência.
Além disso, a Direção Consular e as representações realizam um importante trabalho nos bastidores para ajudar os suíços, algo que nem sempre pode ser discutido publicamente.
swissinfo.ch: Na própria Suíça, os suíços do estrangeiro nem sempre têm uma boa imagem na imprensa. Nos últimos meses, frequentemente se lhes reprova por aproveitar o sistema sem contribuir para ele. O que a senhora pensa disso?
M.J.: Essa questão surge com certa regularidade. Pessoalmente, durante todas as minhas missões no exterior, constatei o quanto os suíços do exterior são importantes para a imagem da Suíça no mundo. Não é à toa que eles são chamados de “embaixadores da Suíça”. Essas pessoas podem se orgulhar do apoio que aportam ao seu país de origem.
Edição: Samuel Jaberg
Adaptação: Karleno Bocarro

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