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Trabalhadores imigrantes mudam a face da Suíça

Cada vez mais alemães em postos altamente qualificados Keystone

Uma mudança radical na composição dos trabalhadores imigrantes nos últimos cinco anos trouxe desafios, mas também muitos benefícios econômicos, segundo um estudo realizado pelo Banco Cantonal de Zurique.

No entanto, os sindicatos dizem que o estudo, que mostra a nova geração de trabalhadores imigrantes altamente qualificados – que vem favorecendo Zurique e o leste da Suíça – mostra apenas uma face da moeda.

Com o título “Imigração 2030”, o estudo do Banco Cantonal de Zurique pinta uma imagem positiva dos imigrantes na Suíça após a abertura de suas fronteiras aos trabalhadores da União Europeia, em 2005. Desde então, os alemães superaram os italianos como o maior grupo étnico de imigrantes na região de Zurique e leste da Suíça.

De acordo com o estudo, apesar do aumento dos preços da moradia, do fim das facilidades de transporte e lazer, e da supremacia dos estrangeiros nos cargos de direção, estes “novos” imigrantes têm muito para oferecer.

“A maioria dos imigrantes têm mais de 25 anos e colaboram para ameniza o problema demográfico de ter muitos jovens e idosos”, informa o co-autor do estudo, Michael Hermann , à swissinfo.ch.

“Eles vão ajudar a preencher a lacuna no financiamento da previdência social. Além disso, eles já chegam altamente qualificados, o que representa uma economia no custo da educação para o país de acolho.”

Produtividade e inovação

O estudo limita-se à parte alemã da Suíça, mas abrange 14 dos 26 cantões suíços. Um relatório anterior produzido pelo “think tank” Avenir Suisse também apresentou muitas das mesmas conclusões para a Suíça como um todo.

Na região de Genebra, os alemães são substituídos por cidadãos franceses e britânicos, mas o perito em imigração do Avenir Suisse, Daniel Müller-Jentsch, disse à swissinfo.ch que o mesmo efeito líquido pode ser observado em todo o país.

“A nova onda de trabalhadores imigrantes tem ajudado a impulsionar o crescimento econômico, a produtividade e a inovação”, disse ele.

Mas há alguns problemas práticos na introdução de tantos estrangeiros no país ao mesmo tempo. O contingente estrangeiro representa um quinto da população suíça – um número que deverá aumentar.

Nos últimos 30 anos, a população da Suíça aumentou de 1,5 a 7,7 milhões de habitantes. Isso equivale a 50.000 novas pessoas a cada ano, exigindo novas moradias – o equivalente ao tamanho de Lugano (sul) – diz Müller-Jentsch.

Impostos e salários

Nos últimos anos, o aumento populacional tem sido liderado pela chegada de estrangeiros (75.000 em 2008) e eles fizeram subir o preço dos imóveis e dos aluguéis enormemente, especialmente em Zurique, Genebra e Zug.

“Esses novos imigrantes são mais ricos e precisam do dobro do espaço habitacional dos imigrantes tradicionais. Eles também aumentam mais a demanda por infra-estrutura de transporte e precisam de mais espaço de lazer “, disse Hermann.

Como resultado, os impostos que pagam são amplamente absorvidos pela necessidade de mais gastos em serviços públicos, acrescentou.

Mas o estudo do Banco Cantonal de Zurique visa desmistificar o receio de que os trabalhadores estrangeiros estejam roubando as oportunidades de trabalho dos suíços e reduzindo os salários. Ele relata que os trabalhadores estrangeiros estão criando mais empregos para todos, ajudando as empresas a se expandir.

Hermann admite que os novos imigrantes estão tomando uma parcela cada vez maior dos cargos de chefia e o estudo também mostra que os aumentos salariais recuaram marginalmente entre 2003 e 2008.

Mas argumenta que a pressão nos salários ocorre principalmente na própria comunidade de trabalhadores estrangeiros. Como cada vez mais estrangeiros vêm para a Suíça para um número limitado de postos de trabalho, “acabam criando mais concorrência entre eles”, disse Hermann.

Proteção “insuficiente”

Jentsch Müller, do Avenir Suisse, salientou que um ônus maior sobre os salários de topo de carreira poderia ajudar a reduzir o fosso entre os salários mais altos e os mais baixos. Mas ele admitiu que o recente fluxo de trabalhadores altamente qualificados, exigindo altos salários, também aumentou o custo de vida para todos.

A União Sindical Suíça não concorda que não tenha havido pressão sobre os salários mais baixos. Representante dessa força sindical, Daniel Lampart declarou à swissinfo.ch que as medidas legais destinadas a impedir o dumping salarial não foram suficientemente longe.

“Temos observado o dumping salarial nos setores que não têm um salário mínimo determinado por uma convenção coletiva”, disse ele. “O salário mínimo no setor da construção oferece proteção suficiente. Mas os trabalhadores do setor de limpeza e dos serviços postais são vulneráveis “.

No início deste ano, o sindicato criticou as autoridades por não cumprir adequadamente as medidas legais destinadas a impedir o dumping salarial. Ele apontou vários casos de abuso, apesar das medidas preventivas em vigor.

E o estudo do Banco Cantonal de Zurique parece não impressionar o sindicalista quando diz que a recente queda nos salários seria de curta duração. “O período de 2003-2008, foi um período de bonança para a economia”, disse ele.

“Se permitirem aos empregadores suíços pagar salários mais baixos aos trabalhadores estrangeiros, é evidente que eles vão começar a substituir a mão de obra suíça.”

O estudo feito pelo Banco Central de Zurique tenta extrapolar as previsões do fluxo migratório nos 14 cantões de língua alemã, em três cenários para 2030.

No primeiro cenário, os gráficos mostram o número de novos estrangeiros se o status quo da última década continuar o mesmo.

Neste caso, o número de estrangeiros deve aumentar em 13% a partir de 2008, representando 22% do total da população, o que significaria um ligeiro aumento de 1% em relação à população estrangeira atual.

Se as condições econômicas e a demanda por trabalhadores altamente qualificados aumentarem significativamente, o número de estrangeiros deve passar para 43%, superior a um milhão de pessoas (1.064.844). Neste caso, um quarto de todas as pessoas que vivem na região não seria Suíça.

O terceiro cenário prevê uma situação em que a diferença entre o melhor padrão de vida na Suíça em comparação com os países vizinhos (especialmente Alemanha) diminui consideravelmente.

Se a economia alemã crescer significativamente e o padrão de vida de sua população melhorar, então haveria uma tendência inversa. Em 2030 haveria 27% de estrangeiros a menos nessa região da Suíça e eles representariam apenas 15% da população total.

(Adaptação Fernando Hirschy)

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