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Turquia critica decisão da justiça helvética

Cartazes mostrando fotos de 90 sobreviventes do genocídio armênio. Keystone Archive

Governo turco protesta devido ao inquérito aberto na justiça suíça contra famoso historiador turco. Este nega o genocídio armênio.

Questão história já foi outras vezes motivo de discórdia entre Turquia e Suíça, como durante o reconhecimento do genocídio pelo Parlamento helvético em 2003.

O conflito diplomático entre a Suíça e a Turquia se agrava. Primeiramente os parlamentos dos cantões de Genebra e de Vaud reconheceram o genocídio de 800 a 1,5 milhão de armênios pelas tropas do Império Otomano entre 1915 e 1918.

Depois a viagem da ministra de Relações Exteriores Micheline Calmy-Rey, prevista para setembro de 2003, foi cancelada pelo governo turco. Ela terminou só ocorrendo em março de 2005.

Agora, dois meses depois do encontro entre Calmy-Rey e seu homólogo turco, o ponto de discórdia é a abertura de um inquérito na justiça suíça contra um famoso historiador turco, que nega o genocídio armênio.

Um erro grave

Citado na segunda-feira no jornal Hürriyet, o ministro turco das Relações Exteriores Abdullah Gül condena com firmeza o inquérito aberto contra Yusuf Halacoglu, presidente do Instituto de História Turca (TTK), afirmando que as autoridades suíças estão cometendo um “erro grave”.

Devido à questão, o governo turco convocou na semana passada o embaixador suíço em Ankara, Walter Gyger, para a apresentação de explicações. Ao mesmo tempo, o embaixador turco em Berna protestou oficialmente.

Na Suíça, a justiça explica que o inquérito está apenas em estágio inicial e que este não significa um mandato de prisão no país para o professor, contrariamente ao que é escrito pela imprensa em Ankara.

“Não há um mandato de busca”, confirma Folco Galli, porta-voz do Departamento Federal da Justiça. “Os governos dos dois países estão trabalhando em conjunto para encontrar uma solução ao problema”.

Professor comete delito

Para Andrej Gnehm, procurador na Justiça cantonal, o inquérito penal foi aberto depois que o professor Yusuf Halacoglu pronunciou um discurso frente à comunidade turca de Winterthur, onde ele nega o genocídio cometido contra a população armênia.

Como essa posição é considerada um delito pelas leis suíças, o procurador solicitou às autoridades turcas, através da Interpol, que fossem enviadas informações sobre o acadêmico. Este é, ao mesmo tempo, um dos principais defensores das teses turcas sobre os fatos históricos ocorridos entre 1915 e 1918.

O procurador suíço gostaria de interrogar Halacoglu, para que ele tome posição em relação aos motivos do inquérito. O acadêmico turco pode também enviar por escrito as respostas.

A questão é delicada, pois envolve um problema de interpretação: se para a comunidade armênia espalhada pelo mundo o genocídio é provado historicamente, a Turquia considera até hoje que a morte de civis ocorreu num contexto de guerra civil. Nesse sentido teriam morrido apenas 300 mil armênios e o mesmo número de turcos.

swissinfo com agências

De 800 a 1,5 milhão do Império Otomano foram massacrados entre 1915 e 1918.
O genocídio é negado até hoje pela Turquia, apesar de ter sido reconhecido por vários parlamentos europeus, incluindo os da França, Rússia e Itália.
O tratado que marcou o nascimento da Turquia moderno foi assinado em Lausanne, na Suíça, em 24 de julho de 1923.
A Câmara dos Deputados no Parlamento suíço reconheceu o genocídio armênio em 16 de dezembro de 2003.

– Mais de 80 mil cidadãos turcos e seis mil armênios vivem na Suíça. Aproximadamente 1.500 suíços vivem na Turquia.

Em 2004 as exportações suíças para a Turquia chegaram a 1,9 bilhões de francos, um crescimento de 17% em relação ao ano passado.

– A Suíça é o sexto maior investidor estrangeiro na Turquia. No final de 2003, os investimentos helvéticos alcançavam o patamar de 1,1 bilhões de francos, um crescimento de 84 milhões em relação a 2002.

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