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Uma árvore com mais de mil anos

Os lariços de Hittuwald, nas proximidades do Simplon, têm mais de mil anos de idade. simplon-dorf.ch

Especialistas debatem para descobrir se um lariço encontrado em uma floresta do cantão do Valais, com uma idade estimada de 1.500 anos, seria de fato a árvore mais antiga da Suíça.

Se for provada sua idade, a árvore do vale de Gom teria brotado no final do Império Romano. A repercussão do debate mostra que as árvores centenárias continuam a fascinar o público.

Brocas, amostras de madeiras e gigantescas fatias de troncos de árvores adornam as paredes do escritório de Patrick Gassmann no Museu Latenium de Arqueologia em Neuchâtel, cidade localizada ao oeste da Suíça.

Gassmann é especialista em dendrocronologia, um método científico de estabelecer a idade de uma árvore baseado nos padrões dos anéis em seu tronco, o que lhe dá meios de resolver o mistério do lariço de Gom.

De acordo com ele, a árvore mais antiga da Suíça documentada seriam também lariços, porém situados em outra parte do cantão do Valais.

“As mais antigas árvores estão na Hittuwald, uma floresta localizadas nas proximidades do passo do Simplon. Elas teriam mais de mil anos de idade. Precisamos realizar mais testes com a árvore de Gom, cuja descoberta ocorreu recentemente, para poder verificar sua idade exata antes de podermos declará-la a recordista”, explica Gassmann.

Idade elevada

Lariços são os candidatos ideais, pois eles geralmente sobrevivem muitos anos. Árvores resistentes, eles vivem em altitudes elevadas e conseguem resistir sem problemas a temperaturas extremas.

“Porém elas se tornaram raras quando foram cortadas nas altas montanhas para abrir espaço ao pasto necessário à criação do gado leiteiro”, explica Gassmann.

Se a árvore encontrada no vale de Gom tiver realmente 1.500 anos, então ela terá aproximadamente a mesma idade dos lariços encontrados no vale de Ulten, ao norte da Itália. Até então eles eram os recordistas na Europa.

Obviamente essas árvores são bem mais jovens do que as “antiqüíssimas” encontradas nos Estados Unidos.

“Nas Montanhas Brancas, uma reserva que se encontra entre a Califórnia e Nevada, é possível encontrar pinheiros que têm mais de quatro mil anos de idade”, revela Gassmann.

“Imagine pensar que essas árvores nasceram no tempo em que reinava o faraó Ramsés II, no Egito? O mais fascinante é que elas estão vivas até hoje. Seguramente elas são os mais antigos seres vivos do planeta”.

Fascinação

Isso talvez explique a fascinação que provocam muitas dessas antigas árvores. Além do seu aspecto majestoso – geralmente elas são massivas e nodosas – o fato de terem testemunhado tanta história lhes dá um ar romântico.

“Mas muitas vezes as pessoas acreditam que as árvores encontradas nos seus jardins são mais velhas do que a realidade”, acrescenta o pesquisador.

A dendrocronologia permite determinar a idade correta da árvore, mas como os especialistas se apressam a explicar, nem todos gostam dos resultados.

Ele conta que um vilarejo suíço estava convencido de ter na sua área um carvalho milenar. Posteriormente as análises revelaram que este tinha “apenas” 400 anos.

Gassmann diz que não há registro de carvalhos com mil anos de idade na Suíça. Quatrocentos anos para uma árvore do tipo já é considerado uma raridade.

Avaliação dos anéis

Para avaliar a idade de uma árvore, Gassmann analisa os anéis interiores vistos no corte da madeira. A cada ano que se passa, um anel é acrescido ao tronco.

A técnica normalmente obriga o pesquisador a perfurar o tronco para retirar uma faixa de amostra. “Isso não dói para a árvore. É como no momento em que tiram sangue de nós para um exame”, garante Gassmann.

Ele leva a madeira ao seu laboratório em Neuchâtel, onde ela é examinada com atenção. As informações são processadas num computador, que então cria um modelo muito semelhante a um monitor de controle do coração.

Os dados são então comparados a modelos históricos para encontrar a data exata do nascimento da árvore. O mesmo método também é empregado com sucesso na arqueologia.

Parte das tarefas de Gassmann são viagens por todo o país para coletar amostras de madeira. Na Suíça existiriam exemplares ainda mais fantásticos, mas as comunas são muito lentas para reconhecer o seu valor e protegê-las.

Não existem medidas legais para garantir essa proteção. Geralmente a responsabilidade fica a encargo das autoridades ou indivíduos – a maior parte das florestas suíças é propriedade privada.

“Infelizmente nós continuamos a derrubar muitas dessas árvores centenárias”, lamenta-se Gassmann.

swissinfo, Isobel Leybold-Johnson

Methuselah – a mais antiga árvore do mundo é um pinheiro da espécie Pinus longaeva (Bristlecone pine) nas Montanhas Brancas nos EUA. Ela teria 4.789 anos de idade. Sua localização exata é mantida em segredo por questões de segurança.

Prometheus – o cientista americano Donald R. Curry estava estudava as Pinus longaeva em 1964, quando obteve permissão de derrubar uma árvore – a Prometeus – para estudos adicionais. A ação causou um escândalo quando ficou claro que ele havia cortado o mais antigo organismo vivo já registrado: a árvore tinha 4.884 anos de idade.

Segundo Gassmann, alguns pesquisadores acreditam que os baobás africanos possam atingir a longevidade, porém pesquisas mais detalhadas necessitam ser realizadas. Australianos defendem o eucalipto com um competidor forte. Já especialistas suíços não acreditam que árvores tropicais tenham um longa vida. De fato, as árvores longevas crescem em ambientes secos e altitudes elevadas.

Dendrocronologia é um método científico de estabelecer a idade de uma árvore baseado nos padrões dos anéis em seu tronco.

Esta técnica foi inventada e desenvolvida por A. E. Douglass, fundador do laboratório Tree-Ring Research na Universidade do Arizona.

O laboratório de Neuchâtel foi fundado em 1975. Seu principal trabalho é datar madeira originária do Neolítico ou da Idade do Bronze encontradas em assentamentos humanos (entre 4.000 a 850 anos a.C) da área.

Os cientistas também podem dizer, através da análise da madeira, qual a relação que os habitantes tinham com as florestas nesses períodos. Existem evidências que provariam métodos rudimentares de manejo florestal desses povos.

O laboratório tem um banco de referência com aproximadamente seis mil amostras, sobretudo de carvalho, abeto, espruce e lariço.

Patrick Gassmann trabalhou por 25 anos no laboratório. Na Europa existem apenas 300 dendrocronologistas.

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