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Colômbia descarta oficialmente a mediação suíça

Raul Reyes, morto março no Equador, mantinha contatos com o mediador suíço. Keystone

Depois de fazer violentas críticas ao mediador suíço Jean-Pierre Gontard, o governo colombiano confirmou oficialmente que não quer mais a mediação dos três países europeus (Suíça, França e Espanha).

A decisão do presidente Alvaro Uribe foi comunicada nesta quinta-feira ao Ministério suíço das Relações Exteriores pela embaixada colombiana em Berna.

As críticas do governo colombiano à mediação suíça começaram após o resgate de 15 reféns que estavam em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), entre eles a franco-colombiana Ingrid Betancourt, no dia 2 de julho. Em Bogotá, falava-se em “perda da confiança” nos emissários suíço e francês, acusados de agir mais como conselheiros das Farc do que como mediadores.

Nesta quinta-feira (10/07), o governo colombiano confirmou oficialmente o fim da mediação suíça, iniciada em 1998. Um comunicado encaminhado ao Ministério suíço das Relações Exteriores (DFAE) pela embaixada colombiana em Berna afirma que o governo colombiano “vai priorizar os contatos diretos com os movimentos ilegais”.

Mudança de contexto

A decisão do presidente colombiano Alvaro Uribe foi justificada pela “mudança de contexto” induzida pela operação de resgate dos reféns na semana passada. O Ministério suíço das Relações Exteriores informou apenas que “tomou conhecimento” da decisão.

No final de junho, uma mensagem do novo comandante das Farc, Alfonso Cano, falava em negociar com o governo colombiano sob certas condições. Segundo a rádio suíça RSR, o portador dessa mensagem ao governo colombiano foi o mediador suíço Jean-Pierre Gontard. Em recente entrevista à televisão suíça TSR, Gontard disse que a prioridade agora era libertar os outros 24 reféns políticos das Farc.

Para a agência de notícias suíça ATS, a embaixadora da Colômbia, Claudia Jimenez, não quis falar de “fim da mediação helvética”. Ela afirmou que cabe à Suíça “tirar suas conseqüências”, mas ela não excluiu a retomada de uma mediação estrangeira, se o governo colombiano conseguir colocar em andamento um “processo de paz concreto”.

O comunicado oficial afirma ainda que o governo colombiano quer reforçar as relações com a Suíça “nos setores em que temos uma visão comum”.

Documentos sobre o emissário suíço

Com relação ao mediador suíço Jean-Pierre Gontard, duramente contestado por Bogotá e acusado de conivência com as Farc, o governo colombiano enviou a Berna documentos a seu respeito.

Esses documentos foram encontrados no computador do ex-número dois das Farc, Raul Reyes, morto pelo exército colombiano em território equatoriano, dia 1° de março. Segundo uma avaliação da Interpol, tais documento seriam confiáveis.

“Esperamos a reação da Suíça” (sobre esses documentos), afirmou Claudia Jimenez, embaixadora da Colômbia em Berna. Depois que a Suíça terminar de analisá-los, teremos um “diálogo diplomático”, acrescentou a embaixadora.

Com base nos e-mails encontrados no computador de Reyes, na última segunda-feira, o alto comissário colombiano para a paz, Luis Carlos Restrepo, acusou o mediador suíço, Jean-Pierre Gontard, de ter transportado dinheiro para as Farc, em 2001, para resgatar dois funcionários da multinacional suíça Novartis, o que a empresa desmentiu.

Pagamento de resgate

A rádio suíça RSR, do mesmo grupo a que pertence swissinfo, analisou essas mensagens e constatou que nada existe de comprometedor em relação a Gontard. Parte da irritação com a mediação suíça, segundo vários analistas, provém de uma informação da própria RSR que, dois dias depois da liberação dos 15 reféns, revelou que dois chefes das Farc receberam 20 milhões de dólares pelo resgate.

Nesta quinta-feira, a TV norte-americana CNN confirmou, citando fontes dos serviços de inteligência da Colômbia, que membros das Farc realmente receberam dinheiro para liberar os 15 reféns.

Dentro de três semanas, a ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, tem viagem marcada Bogotá. A Suíça e a Colômbia negociam atualmente um acordo bilateral de livre comércio.

swissinfo, Claudinê Gonçalves

A mediação da Suíça entre as Farc e o governo colombiano começou em 1998. Desde o início, o representante da Suíça é o professor universitário Jean-Pierre Gontard.

Antes do início dessa missão ele tinha acumulado experiência na mediação de conflitos em vários países (Biafra, Vietnã, Angola, Ruanda, Haiti, entre outros).

Nesses dez anos, Gontard obteve a libertação de 300 militares colombianos e de dois funcionários da empresa suíça Novartis.

Posteriormente, a França e a Espanha entraram na mediação e os três países passaram a ser chamados de “facilitadores”.

Neste momento, as Farc estariam debilitadas militarmente, daí a opção do governo colombiano por descartar os mediadores internacionais, segundo vários analistas.

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