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Jornalistas iraquianos depõem sobre a violência

Moaud Aziz Gasim Allamy (direita) e Daoud Salman Hamzah Al-Ganabi falaram em Genebra sobre o problema dos jornalistas iraquianos. Keystone

Jornalistas iraquianos apelam ao governo suíço para intervir no „massacre" de colegas por grupos armados não-identificados.

Na segunda-feira em Genebra, a União Iraquiana de Jornalistas acusou a comunidade internacional de ser impassível e nada ter feito para proteger seus membros contra um terror que já causou centenas de mortos.

As possibilidades de noticiar no Iraque se reduzem diariamente. Esta triste declaração foi feita por jornalistas de uma delegação iraquiana que chegou na Suíça no início da semana. Desde o início do conflito, em março de 2003, pelo menos 220 jornalistas teriam sido assassinados no país.

“Outros jornalistas iraquianos também fugiram do país ou pararam de trabalhar”, declarou Moaud Aziz Gasim Allamy, secretário-geral do Sindicato de Jornalistas Iraquianos, que ainda revelou que 40% dos cinco mil profissionais da imprensa ativos no Iraque correm risco de vida.

“A situação continua a se deteriorar. Em pouco tempo, apenas as mídias governamentais ou aquelas que estão sendo protegidas pelas forças da coalizão irão sobrar”, concluiu.

Apelo à Suíça

“Lançamos um apelo às autoridades suíças para que elas intervenham diretamente sobre todas as organizações envolvidas e instaladas no solo helvético, para que elas ajudem a proteger a vida dos jornalistas”, afirmou Allamy.

Até sábado a delegação deve se encontrar em Genebra com embaixadores e responsáveis das agências da ONU como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Louise Arbour, da qual esperam obter o apoio.

Os jornalistas iraquianos também reivindicam a organização pelo Conselho dos Direitos Humanos de uma sessão especial sobre o problema da proteção de jornalistas. “A postergação desse debate pode significar a morte de mais colegas”, lamentou Allamy.

“Sob o julgo do ex-ditador Saddam Hussein a liberdade de imprensa era inexistente. Depois da sua queda, a liberdade passou a existir, porém sem segurança. Estamos sendo mortos por dizer a verdade”, denuncia.

“Vivemos diariamente o medo. A cada dia não sabemos se iremos voltar aos nossos lares no final do trabalho”, contou Jihad Aldin Ali Zayer Hussein Al-Hreshawi, redator-chefe do jornal “Al Sabah” (A Manhã). “O acesso às fontes de informação é cada vez mais difícil, pois a nossa liberdade de circulação está cada vez mais restrita”.

Visados por todos os grupos

Os jornalistas iraquianos são ameaçados diariamente. Como eles explicaram em Genebra, tanto profissionais de confissão xiita, como os sunitas são visados pelos grupos ativos na guerrilha.

Quatorze jornalistas iraquianos estão atualmente desaparecidos, depois de terem sido seqüestrados. M. Al-Hreshawi explicou que foi obrigado a vender sua casa e pagar 45 mil dólares para obter a liberação do seu filho, depois de três meses de negociações com os seqüestradores, através de grupos intermediários.

Daoud Salman Hamzah Al-Ganabi, redator-chefe do jornal “Al Haqaeq” contou que muda de domicílio todos os dias, depois de ter sido ameaçado de morte em oito ocasiões. Seu filho não vai mais à escola após ter sido vítima de uma tentativa de seqüestro.

M. Allamy expressou o desejo de que a comunidade internacional, o governo iraquiano em Bagdá e as forças de coalizão dêem mais garantias de trabalho às mídias ainda ativas no país. “As autoridades precisam nos ajudar a encontrar os autores dos seqüestros e julgar os criminosos responsáveis pelos assassinatos”, disse. Atualmente nenhuma investigação é feita e a impunidade reina nas ruas do Iraque.

swissinfo com agências

Formada por sete pessoas, a delegação de jornalistas iraquianos havia sido convidada a vir à Suíça pela Campanha Emblemática da Imprensa (PEC, na sigla em francês).

Baseada em Genebra, essa organização não-governamental tem por objetivo reforçar a proteção legal e a seguranças dos jornalistas no mundo.

Uma conferência de dois dias consagrada ao problema dos refugiados iraquianos começa na quarta-feira (18 de abril) sob a coordenação do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados.

O Iraque vive atualmente uma das piores situações no mundo em termos de refugiados. Um número crescente de pessoas tenta fugir do país para escapar dos atentados à bomba cotidianos, seqüestros e outras atrocidades.

O número exato de refugiados iraquianos é difícil de obter, porém a ONU estima que duas milhões de pessoas escaparam para os países vizinhos. Além disso, 1,9 milhões de iraquianos foram obrigados a abandonar suas casas e estão refugiados em outras partes do país.

A conferência em Genebra deve receber 420 delegados oficiais, vindos de 60 países, e um grande número de funcionários ligados a organizações de ajuda humanitária.

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