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Neuchâtel se prepara para a chegada dos portugueses

Yann Engel quer fazer de Neuchâtel uma cidade acolhedora para os portugueses. D Marchon/L'Express

A decisão da seleção portuguesa de se hospedar durante o Euro 2008 em Neuchâtel é considerada uma oportunidade de ouro. Para atrair os torcedores, as autoridades estão programando diversas atividades, incluindo ensinar os cozinheiros locais a cozinhar ao gosto lusitano.

E os organizadores não temem pela falta de público: só no cantão vivem 11 mil portugueses, a maior comunidade de estrangeiros.

Ao chegar à Suíça para disputar o Euro 2008 a seleção portuguesa já sabe onde será sua base: Neuchâtel. Cristiano Ronaldo, Deco, Nani, Luiz Felipe Scolari e companhia chegam no início de junho e ocupam com exclusividade o Hotel Beau-Rivage, um imponente cinco estrelas à beira do lago.

Para o cantão com 169 mil habitantes e que, pela sua agitada história, já foi possessão do Santo Império Romano Germânico, da Prússia e da França, para depois aderir à Confederação Helvética, a notícia soou como um prêmio na loteria. Por estar fora do circuito das cidades que irão receber os jogos – Basiléia, Berna, Zurique, Genebra – Neuchâtel esperava apenas receber parte do fluxo de turistas e torcedores que não encontrariam vagas nesses locais. A vinda da seleção portuguesa coloca-a dessa forma no meio do burburinho do Euro 2008.

A decisão não foi difícil. “Se escolhemos Neuchâtel, foi porque Portugal sempre privilegiou lugares tranqüilos durante uma fase final de campeonato. Queremos garantir aos jogadores a maior concentração possível”, disse Gilberto Parca Madail aos jornalistas presentes à coletiva de imprensa ocorrida no final de dezembro.

O presidente da Federação Portuguesa de Futebol acrescentou que a cidade agradou pelo fato dela estar a meio caminho entre a Basiléia e Genebra – onde joga três jogos contra as equipes da Suíça (Basiléia), Turquia e República Tcheca (Genebra) – e pela garantia de ter o hotel reservado exclusivamente para ela.

Luiz Felipe Scolari, o treinador da seleção, também não vê problemas com a segurança e o possível cerco por parte dos torcedores. “Iremos passar a mensagem aos portugueses que os jogadores estarão em Neuchâtel para trabalhar. Se o esforço não for bem dirigido, todos serão penalizados”, justificou. Ele também lembrou que o peso da comunidade portuguesa local pesou critério para a escolha da cidade.

Organização

A oportunidade de estar sob o foco da imprensa estrangeira é imperdível. O importante é não perder tempo. Pouco depois do anúncio, as partes interessadas se juntaram para criar o grupo de trabalho “Eurofoot 08”, que reúne representantes dos governos cantonais e municipais, do turismo, da gastronomia e hotelaria local, empresários e até mesmo da comunidade portuguesa, a maior de estrangeiros no cantão (ver box).

“Queremos elaborar uma lista de todas as atividades que poderemos organizar. Estou recebendo por dia cinco propostas de diferentes lados. É incrível”, diz animado Yann Engel, diretor do Neuchâtel Turismo.

O órgão oficial de turismo quer contratar um português e já colocou no seu site textos no idioma de Camões, se bem com pequenos erros de ortografia. Portugueses serão também contratados para servir de mediador entre a polícia e os torcedores. “Uma medida importante para evitar qualquer escalação de violência”, explica Engel.

Outra idéia, dada pelos proprietários de hotéis e restaurantes, é organizar semanas gastronômicas lusitanas. O representante dos comerciantes no grupo sugeriu decorar as lojas com bandeiras portuguesas e outros motivos do Euro 2008. Os jovens pensam em concertos musicais nas ruas e festas. “Os participantes são pessoas extremamente motivadas, que atuam diretamente no terreno e pensam mais nas oportunidades do que nos problemas”, se anima o diretor de turismo.

Um dos problemas é o campo de futebol que será utilizado pela seleção portuguesa para o treinamento. A cidade dispõe de um bom local, o recém-construído Estádio de la Maladière, sede do time oficial da cidade, o Xamax. O problema é que seu campo é de grama artificial. Outra alternativa é o campo de futebol de Colombier, uma comuna vizinha.

Por uma questão de imagem, o interesse das autoridades é ver Cristiano Ronaldo e os outros jogadores treinando na cidade. Nesse sentido negociações estão sendo feitas. “Discutimos no momento os custos de trocar o gramado do la Maladière para colocar grama e esperamos também encontrar patrocinadores dispostos a financiar o projeto”, revela Engel.

Problemas de segurança

A localização central do Hotel Beau-Rivage, onde estará hospedada a seleção portuguesa, traz dificuldades às autoridades responsáveis pelo plano de segurança. O estabelecimento está espremido entre o lago e uma praça pública com várias paradas de ônibus e bondes. A polícia poderá ter dificuldades de cercar a área sem provocar interrupções no trânsito. Também o estacionamento subterrâneo localizado a poucos metros de distância e freqüentado diariamente por vinte mil veículos é outro desafio.

Porém o caráter português é visto como um grande trunfo. “Com Portugal iremos acolher uma equipe que não é considerada de alto risco, mas que traz bastante torcedores. Nesse sentido acho que iremos gerar apenas uma importante massa de pessoas pacíficas”, declara André Duvillard ao jornal local “L’Express”.

O chefe da polícia cantonal também não escondeu sua preferência. “Estou aliviado pelo fato de não recebermos uma equipe de risco como a Turquia, onde os confrontos entre torcedores são mais freqüentes”.

swissinfo, Alexander Thoele

– O cantão e o município de Neuchâtel criaram o grupo de trabalho Eurofoot 08, que reúne representantes dos governos, empresas e da cultura na elaboração de um programa de atividades ligadas ao Euro 2008 e o esquema de segurança.

– O Euro 2008 pode custar entre 600 mil a um milhão de francos para os cofres públicos, soma que será dividida entre a cidade e o cantão de Neuchâtel. A avaliação foi feita pelo chefe de polícia Antoine Grandjean e diz respeito apenas aos gastos públicos.

– Neuchâtel tem 169 mil habitantes. Destes, 39.103 são estrangeiros. A comunidade portuguesa é a mais numerosa: 10.838 (28% do total).

– A maioria dos portugueses (75,6%) dos portugueses são residentes fixos (detentores da chamada Permis C) e 24,1% têm uma autorização anual de permanência na Suíça (Permis B).

– A população portuguesa no cantão de Neuchâtel é jovem: 23% têm menos que 15 anos, 35,7% menos do que 25 anos e 78% menos do que 45 anos.

– Existe um equilíbrio entre homens e mulheres na comunidade portuguesa: 46,5% de homens e 53,5% de mulheres. Os solteiros são 43%.

– Os portugueses trabalham em grande parte nos setores de construção civil, indústria, hotelaria e gastronomia e serviços de limpeza.

– O cantão de Neuchâtel tem dois grandes centros culturais portugueses na capital, um em Val-de-Travers e outro em La Chaux-de-Fonds.

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