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Os últimos jogos do judoca Sergei Aschwanden

No início de sua última participação numa Olimpíada, o melhor judoca suíço, Sergei Aschwanden (32), enfrenta nesta quarta-feira o alemão Michael Pinske (23) .

Eliminado na primeira etapa dos Jogos de Sydney e de Atenas, ele espera finalmente conquistar em Pequim uma medalha olímpica, a única que lhe falta. Encontro com o atleta.

De tênis, training com bolsos de estilo canguru e capuz, Sergei Aschwanden sente-se à vontade no bar da Escola Federal de Esporte de Macolin, nos arredores de Bienne (oeste), onde o encontramos. Ali ele está “em sua casa” e não dá um passo sem prosear com outros atletas ou com funcionários da Escola.

Faz anos que o judoca mora em casa com vista deslumbrante para o Lago de Bienne, mas ele ‘dá um duro’ danado no tatame, exclusivamente reservado à elite dos judocas suíços. Profissional há quase dez anos, Sergei lidera sozinho o judô helvético.

Às vésperas dos Jogos na China, o atleta estava sorridente e tranqüilo. Ele acabava de passar três semanas numa câmara de oxigênio de 10 m2, permanecendo em seu interior entre 16 e 17 horas, por dia. “É como fazer um estágio em altitude elevada, como única solução possível para ter com quem treinar durante o dia.”

Esse “isolamento” forçado (300 horas para conseguir o resultado esperado) permitiu-lhe fazer um bom trabalho sobre si próprio, antes de começar, com toda tranqüilidade, a última etapa da preparação. Nada a ver com o “circo” de há quatro anos, nos preparativos dos JO de Atenas. Tudo mudou, reconhece. Na mesma época, quatro anos atrás, eu era campeão europeu e vice-campeão do mundo. As expectativas eram diferentes e a pressão, enorme. Desta vez, graças talvez à Eurocopa, pude preparar-me com toda serenidade, de maneira normal.”

Parceiros no exterior

Depois de passar, há quase um ano, da categoria até 81 kg para a seguinte, até 90, Sergei Aschwanden cumpre integralmente o programa que ele mesmo se impôs. As primeiras conseqüências foram as constantes viagens ao exterior (Moscou, Minsk e Madri) em busca de judocas qualificados para treinar, permanecendo depois na Suíça, para longos períodos de recuperação.

No dia 20 de julho, viajou para o Japão para se aclimatar o melhor possível sem sofrer os efeitos da poluição. Aliás, no Japão, o judô é o rei dos esportes de modo que poderei multiplicar, à vontade, o número de treinos com parceiros de alto nível.

Somente dia 4 de agosto, nove dias antes da competição, Sergei Aschwanden chegou à capital chinesa. Tirando a cerimônia de abertura, ele só viu a cidade olímpica e o ginásio para treinos.

“Preciso sentir a atmosfera do ginásio onde vou lutar, diz. Jamais, por exemplo, ouço música antes de um combate. Senão, não me sinto concentrado. E, em Pequim, devo estar preparado, porque são meus últimos Jogos Olímpicos.”

Um pouco de África para relativizar

Consciente do término de sua carreira (ele anunciou a intenção de disputar os Mundiais de 2009, ndr), Sergei Aschwanden recusou, porém, qualquer tipo de pressão. “É preciso considerar os prós e contras! Os Jogos e uma medalha constituem meu principal objetivo, mas sei que não há apenas isso na vida. Minha mãe é queniana e tenho um meio-irmão que vive na África e de quem sou muito próximo. Fico muito atento a tudo que acontece no continente africano, os problemas políticos que afetam a vida de meus parentes. Isso me toca muito. Permite-me também, ao mesmo tempo, relativizar o esporte de alto nível.”

Há quatro anos, Sergei Aschwanden foi buscar, justamente no Quênia, a energia que precisava para superar a imensa decepção dos Jogos de Atenas. “Quando estou lá, as pessoas ficam felizes e se eu tivesse sido campeão olímpico, a acolhida não teria sido diferente. De fato, eles te aceitam como você é; ficam contentes se você consegue uma medalha e tristes se você perde, mas há coisas mais importantes do que isso. O verdadeiro prazer deles é poder partilhar o tempo juntos.”

Sergei confessa que seu lado africano pode ser sentido, principalmente, por uma certa descontração, uma certa indolência (nada a ver com indisciplina) e por um otimismo que lhe dão equilíbrio quando tudo dá errado. “Estou com boa saúde. Tenho dois braços e duas pernas e isto já é muito.”

E com uma medalha no peito? “Seria ótimo!”

swissinfo, Mathias Froidevaux, em Macolin (Trad. J.Gabriel Barbosa)

Sergei Aschwanden nasceu em 22 de dezembro de 1975 em Berna. Seu pai é do cantão suíço de Uri (leste) e sua mãe, queniana. Ele tem um irmão mais velho e uma irmã caçula.

Viveu até os sete anos na capital suíça antes de se mudar para Bussigny, perto de Lausanne.

Menino ativo, ele começa o judô aos sete anos, mas pratica numerosas disciplinas, como música e dança (esta durante cinco anos).

Cintura marrom aos 12 anos, aperfeiçoa sua técnica com adultos. Aos 15 anos, Sergei Aschwanden decide dedicar-se a essa arte marcial.

Em 1997, depois de terminar o colegial, ele se profissionaliza. Desde então não pára de progredir. Seu encontro com Leo Held, treinador nacional (posto assumido em 1996), explica bastante seu sucesso.

Sergei Aschwanden foi campeão suíço oito vezes e conquistou dois títulos de campeão da Europa – 2000 e 2003 -, três medalhas de bronze européias e uma medalha de bronze e uma de prata nos Mundiais de 2001 e 2003, respectivamente.

Sergei fala francês com o pai e suíço-alemão com a mãe. Entre si, os pais falam inglês, idioma que o judoca igualmente domina.

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