Presidente suíço vaiado por neonazistas

Skinsheads gritam "porco" e "Judas" para Samuel Schmid no Rütli. Keystone

Durante discurso pronunciado no campo histórico do Rütli durante feriado nacional, Samuel Schmid, atual presidente da Confederação Helvética e ministro da Defesa, é vaiado e insultado por 700 neonazistas.

Agressão ocorre no momento em que o ministro falava sobre a integração de estrangeiros na Suíça.

“Vergonha no Rütli” era a manchete no 20 minuten, o jornal mais lido do país. O Tagesanzeiger não poupou críticas no seu editorial: – “O que ocorreu nesse local histórico ultrapassa todos os limites da tolerância numa sociedade civil liberal. Sobretudo os representantes da direita nacionalista, que exercem cargos elegíveis no país, se desacreditaram”.

Como ocorrem todos os anos, o Rütli, espaço histórico localizado às margens do lago Vierwaldstättersee, onde foi assinado em primeiro de agosto de 1291 o pacto que selaria o nascimento do país dos Alpes, recebeu cerca de duas mil pessoas para assistir o discurso do presidente da Confederação Helvética no dia nacional do país.

Dessa tradição faz parte uma outra não muito bem-vinda: a participação na festa de jovens extremistas, membros de diversos grupos ultranacionalistas e neonazistas. Em 2005, o seu número chegou mesmo a dobrar em relação ao ano passado, passando de 400 para 700.

“Judas” e “porco”

Se a presença desses jovens é vista com maus olhos pelas autoridades, dessa vez seu comportamento se tornou um problema nacional. Quando Samuel Schmid, ministro da Defesa e atual presidente da Confederação, falava ao público sobre a importância da integração de estrangeiros na Suíça, centenas deles começaram a gritar em coro “Judas”, “porco” e “traidor”.

Schmid ainda tentou manter a tranqüilidade e continuar a transmissão da sua mensagem, mas os jovens neonazistas repetiam em uníssono frases como “Nós somos o povo” e “A Suíça para os suíços”.

Irritado, o presidente da Confederação respondeu aos manifestantes exigindo consciência histórica: – “A lembrança do final da Segunda Guerra Mundial há sessenta anos é para cada um de nós a obrigação de combater qualquer forma de anti-semitismo, racismo e extremismo. Esse capítulo negro nunca mais deve se repetir”.

Ele descreveu o feriado como “Dia do Agradecimento” frente “às gerações anteriores, homens e mulheres, assim como estrangeiros, que contribuíram para a prosperidade do país”.

Depois do discurso, Schmid foi levado por agentes de segurança para o carro oficial. Ele abandonou o Rütli poucos minutos antes de ser tocado o hino nacional, que terminou sendo abafado no momento em que os skinheads começaram a cantar em coro o antigo hino, o “Heil dir Helvetia”.

Mudanças em 2006

No ano que vem, Judith Stamm, presidente da comissão de organizadores do evento, prometeu medidas para conter a presença crescente de extremistas no evento. Em entrevista na televisão, Schimid qualificou os manifestantes de “mal-educados” e “anti-suíços”.

Depois que as festividades no Rütli foram encerradas, os grupos de extremistas organizaram um manifesto espontâneo em Brunnen, um pequeno povoado das cercanias. Nas suas ruas, os jovens skinsheads gritaram palavras de ordem nacionalistas e “Fora os estrangeiros”.

Outro ministro é atacado

Enquanto o evento do Rütli era perturbado pela presença de neonazistas, outro evento com a participação de autoridades federais também foi interrompido por manifestantes.

Christoph Blocher, ministro da Justiça, discursava em Winterthur, cidade industrial próxima a Zurique, quando grupos de extrema-esquerda começaram a acender fogos de artifício para abafar o som. A polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e prendeu alguns manifestantes.

swissinfo, Alexander Thoele