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Técnico alemão trabalha com “cérebro suíço”

O técnico alemão Joachim Loew (esq.) e o olheiro suíço Urs Siegenthaler. Keystone

O ex-jogador e treinador suíço Urs Siegenthaler, olheiro-chefe da Federação Alemã de Futebol, é considerado o "técnico por trás do técnico" da seleção alemã, Joachim Löw.

Ele analisa os adversários da Alemanha na Copa, detecta seus pontos fracos e estimula a mais jovem equipe alemã num Mundial com macetes psicológicos. O “medo controlado” é a chave do sucesso, diz.

A Alemanha, que enfrenta a Espanha nesta quarta-feira, vem jogando um futebol empolgante no Mundial na África do Sul. Ganhou de 4 a 1 da Inglaterra e de 4 a 0 da Argentina.

Esse sucesso tem vários “pais”, entre eles, o técnico Joachim Löw, que renovou a equipe, o jovem talento Thomas Müller e o meia Bastian Schweinsteiger, que jogam um torneio excepcional, mas também o olheiro suíço Urs Siegenthaler, que trabalha nos bastidores e estuda minuciosamente os adversários.

Na imprensa alemã e suíça, Siegenthaler já foi apelidado de “espião de Löw”, “supercérebro da seleção alemã”, “técnico fantasma” ou “papa da tática”. Nos últimos dias, ele revelou um pouco de sua filosofia de trabalho.

Em uma entrevista de página inteira ao jornal Tages-Anzeiger, de Zurique, no último domingo, ele disse que “é preciso um medo controlado para ter sucesso. Medo é tensão e estimula a motivação e concentração para ter bom desempenho. Se ele for descontrolado, vira pânico e provoca ação descontrolada”.

“Michelangelo do futebol”

Em tom filosófico, ele lembrou Michelangelo, que certa vez teria dito. “Um quadro não surge pelas mãos, ele surge através de uma visão”. Um jogador de futebol também precisa primeiro ser mentalmente forte para ser bom, acrescentou.

Nascido em Basileia, Siegenthaler (62) não foi um “talento natural” no futebol, mas, como zagueiro central do FC Basileia, Young Boys, Xamax e Winterthur, aprendeu a pensar estrategicamente.

Depois de pendurar as chuteiras, virou técnico e instrutor de treinadores, entre eles, do técnico alemão Joachim Löw. Em 2005, ele foi contratado como olheiro-chefe (chefscount) pela Federação Alemã de Futebol.

Essa contratação foi vista com ceticismo na Alemanha. “Um suíço vai ensinar o futebol aos alemães?”, questionou a mídia. Mas hoje ele é respeitado pelos especialistas nesse esporte.

A partir de 1° de agosto, Siegenthaler será o diretor esportivo do Hamburgo, clube da primeira divisão do futebol alemão, onde, além de olheiro, será responsável pelo fomento aos juniores e o planejamento do plantel.

Ele formou-se em Engenharia Elétrica, estudou Arquitetura, é empresário há 40 anos, foi jogador, treinador e instrutor de técnicos. “Este é o caminho que um alto executivo do futebol normalmente deveria seguir”, disse.

“Treinar é como cozinhar ovos”

Siegenthaler contou ao Tages-Anzeiger que, além de dispor de um enorme banco de dados sobre futebol, o fato de ter estudado Arquitetura o ajuda a entender como funciona cada time e cada jogador. “Tenho de observar uma casa várias vezes e com muita atenção para ver os detalhes. No futebol é a mesma coisa”.

Em entrevista ao semanário Sonntag, ele disse que “somente quem está livre de preocupação pode ter um grande desempenho”. E fez uma interessante interpretação do trabalho de um treinador.

“Um bom técnico canaliza emoções. É como cozinhar ovos. A água nunca deve borbulhar, mas também não pode esfriar. Um bom líder sabe cozinhar os ovos de modo que não explodam. Grandes jogadores também não se deixam enlouquecer”.

Antes do jogo contra a Argentina, Siegenthaler ensinou aos alemães como anular o astro Lionel Messi. “Não tentar vencer o duelo direto contra ele e simplesmente acompanhá-lo na mesma velocidade. Messi só espera que o adversário o ataque. É a alegria dele”.

Na ocasião, ele também comentou que “os espanhóis jogam um futebol automatizado. Eles entram em campo e fazem pressão permanente, sempre em direção ao ataque. É um prazer ver essa equipe jogar. Já nós precisamos de paciência”.

O vencedor do duelo entre o “futebol automatizado” dos espanhóis e o “nova cultura de jogo” dos alemães nesta quarta-feira, em Durban, vai enfrentar o “futebol pragmático” dos holandeses na final do próximo domingo. E Urs Siegenthaler sonha em estar lá com a Alemanha.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências e jornais)

Urs Siegenthaler nasceu em 23 de novembro de 1947, em Basileia.

Foi jogador do time local (FC Basileia), do Young Boys de Berna e do Xamax Neuchâtel.

Em 1978, formou-se técnico na Escola Superior de Esportes de Colônia (Alemanha).

De 1987 a 1990, foi técnico do FC Basileia. Nos anos de 1990, também foi instrutor de técnicos da Associação Suíça de Futebol.

Formado em Engenharia e Arquitetura, mantém há 40 anos uma empresa na área de construção civil.

Desde 13 de maio de 2005, quando Joachim Löw ainda era técnico assistente da seleção alemã, Siegenthaler é olheiro-chefe da Federação Alemã de Futebol.

A partir de 1° de agosto de 2010 será diretor esportivo do Hamburgo, tradicional clube da Bundesliga, o campeonato alemão de futebol da primeira divisão.

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