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Suíços participarão do programa de fusão nuclear

O ITER será construído num lugar dedicado há décadas à pesquisa nuclear. (fotomontagem: ITER) ITER

Os cientistas suíços estão satisfeitos com a escolha de Cadarache (sudeste da França) para construir o ITER, reator experimental de fusão termonuclear.

Cientistas suíços trabalham com essa forma de energia há décadas e o programa europeu de fusão é dirigido por um professor suíço.

Inicialmente, a decisão deveria ser tomada dentro de um ano de meio. Mas a atribuição do projeto, apoiado por praticamente todos os países industrializados e que gerar investimentos da ordem de 10 bilhões de euros em trinta anos, criou pressões e urgência.

Depois que Espanha e Cadaná retiraram suas candidaturas, a escolha estava entre a França – apoiada pela UE, Rússia e China – e o Japão – apoiado pelos Estados Unidos e pela Coréia. A escolha da França foi anunciada quarta-feira (29), em Moscou.

Os japoneses lutaram até o último minuto e obtiveram amplas compensações. 20% do pessoal da futura central será japonês e 20% dos contratos industriais de construção do ITER serão reservados a empresas japonesas. Além disso, a Europa aceitou financiar um programa de pesquisa paralela no próprio Japão.

Suíços satisfeitos com a escolha

Situado perto de Aix-en-Provence(sudeste da França), Caradache fica praticamente “na porta de casa”, sublinhou com satisfação o secretário de Estado suíço para educação e pesquisa, Jean-Pierre Ruder.

Ele acha que isso vai facilitar a participação de cientistas suíços no projeto. Na área da fusão, os suíços já tem várias décadas de experiências em laboratório.

No Centro de Pesquisa em Física de Plasmas (CRPP) da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), no Instituto Paul Scherrer, em Villigen, no cantão de Argóvia (norte) e no Instituto de Física da Universidade de Basiléia (noroeste), uma centena de cientistas trabalharam em projetos de fusão nuclear, parcialmente ligados ao ITER, nos últimos dez anos.

As especialidades suíças para o futuro reator são os tubos a microondas que servirão para aquecer o plasma e seus equipamentos auxiliares, os instrumentos de medida, os cabos supercondutores e os novos materiais capazes de resistir ao bombardeio constante de neutrons.

Cabe ainda frisar que o diretor do CRPP, em Lausanne, professor Minh Quang Tran, foi nomeado dois anos atrás presidente do Acordo Europeu para o Desenvolvimento da Fusão Termonuclear (EFDA). É do reconhecimento da competência da EPFL, nessa área.

Do lado histórico, se os cilindros a vácuo que servem de reatores de fusão são uma invenção russa, o lançamento do ITER está diretamente ligado ao encontro histórico entre Ronald Reagan e Mikaïl Gorbatchev, em Genebra, em 1985.

A energia do século XXI

Mas o ITER será apenas um reator experimental para que a fusão termonuclear saia dos laboratórios. Ainda estaremos longe da exploração industrial para produzir eletrecidade porque os desafios tecnológicos ainda são muitos.

“O primeiro reator poderá produzir eletrecidade para a rede dentro de uns 50 anos, prevê prudentemente o vice-diretor do CRPP, Kurt Appert. Dentro de um século pode-se imaginar que 10 a 20% da energia consumidade no mundo será produzida por fusão”.

A perspectiva de uma energia limpa e inesgotável ainda está distante. Longe demais para os movimentos ecológicos, a começar por Greenpeace, que denuncia o ITER como um projeto “caro, incerto e perigoso”.

Perigoso sobretudo porque Cadarache é situada em uma das zonas de risco sísmico mais alto da França. Os responsáveis não negam mas prometem construir um edifício capaz de resistir a um abalo sísmico de magnitude 6,5, que nunca ocorreu nessa região.

swissinfo, Marc-André Miserez
adaptação, Claudinê Gonçalves

Energia “limpa”, a fusão também produz lixo tóxico.
As paredes do reator são bombardeadas de protons que alteram sua estrutura e as torna radioativas.
Por isso elas deverão ser substituídas a cada 5 ou 6 anos.
Um dos grandes desafios é encontrar materiais que, submetidos a esse tratamento, perderão a radioatividade em 100 ou 200 anos, ao invés dos milhares de anos necessários para que o lixo das centrais atuais tornem-se inofensivos.
Outra vantagem é que não há risco de explosão ou de reação em cadeia num reator a fusão. Em caso de vazamento, a reação pára sózinha.

– A fusão termonuclear é a energia de base do universo. É ela que mantém o fogo das estrelas.
– Nas centrais nucleares clássicas, os átomos pesados são “quebrados”, enquanto na central à fusão, átomos muito leves são fundidos.
– Para fusionarem, os átomos devem ser aquecidos a quase 100 milhões de graus. Nessa temperatura, a matéria fica como uma espécie de “sopa” de partículas elementares denominadas plasma.
– Para evitar que o calor do plasma vaporize as paredes do reator, ele é confinado num potente campo magnético.
– O combustível da fusão existe em abundância na superfície terrestre. Trata-se do trítio e do deltério, dois isótopos de hidrogênio.
– Para produzir a quantidade de eletricidade consumida anualmente na Suíça, seria necessário queimar o equivalente a 30 superpetroleiros carregados, de um um trem de carvão de 3 mil km de comprimento, de 1.000 toneladas de urânio ou … de algumas centenas de kg de deutério e de trítio.

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