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A história do cão cheirador

O cão "Dusty" é um especialista em detectar líquidos aceleradores de fogo. Keystone

A Polícia Cantonal de Neuchâtel acaba de receber um novo detetive: "Dusty", o primeiro cão investigador de incêndios na Suíça.

O cão de quatro anos da raça Springer Spaniel” é tão eficiente, que consegue descobrir, entre cinco tapetes queimados, qual recebeu uma gota de combustível.

Animais são úteis aos homens, sobretudo aqueles que prestam serviços importantes como os cães farejadores, muito utilizados para detectar drogas, explosivos, cadáveres, comida contrabandeada e até explosivos.

Alguns dos “melhores amigos do homem” são altamente especializados. Os cães de investigação de incêndio, por exemplo, são treinados para localizar uma grande variedade de líquidos inflamáveis entre escombros nos casos em que há suspeita de incêndio premeditado.
Como explica o investigador da Polícia Cantonal de Neuchâtel e guia do cão “Dusty”, Emre Ertan, apenas uma pequena percentagem dos incêndios é de origem criminosa.

– Eu diria que 50% dos incêndios têm a ver com “ações humanas” e os outros são mais de origem técnica como, por exemplo, falhas elétricas. No primeiro caso, a grande parte dos incêndios é provocada por descuidos como os cigarros que foram jogados fora ainda acesos – conta.

Depois de um incêndio, investigadores policiais fazem uma primeira análise do terreno. Se eles suspeitam que o fogo foi premeditado, os cães são chamados para detectar algo que só o seu apurado faro pode descobrir.

– Não trazemos os cachorros se não tivermos um pressentimento ou a certeza de algo suspeito. Primeiro necessitamos de uma investigação preliminar.

O cão “Dusty” só entra em ação quando o fogo já foi apagado e o local já esfriou. Nesses casos, trajando encantadores botas de proteção, o animal chega e detecta rapidamente os vapores emanados por qualquer líquido acelerador de fogo, que são substâncias como petróleo, querosene, aguarrás ou diesel.

Ele indica a posição do acelerador apontando a pista com o nariz. Ela então é levada para análises forenses num laboratório da polícia.

Rapidez

– Cães são uma grande ajuda num local de incêndio. Eles identificam coisas que passam despercebidos para instrumentos – afirma Ertan.

Seres humanos também podem ser treinados para desenvolver o sentido do olfato como os provadores de vinho, porém eles não chegam nem perto da capacidade dos cães que, além disso, são muito mais rápidos.

– Se você for para um campo de futebol e colocar uma gota de gasolina num pedaço de grama o Dusty vai encontrar em três minutos. Seres humanos, apesar de utilizarem aparelhos sofisticados, nunca encontrariam essa pista – diz o policial com orgulho.

A habilidade canina de busca rápida e eficiente em grandes áreas reduz o tempo que um investigador gasta escavando e coletando escombros de incêndio e diminui também o número de amostras necessárias para os caros testes forenses.

Cachorro-quente

Se existe a suspeita que determinadas substâncias químicas perigosas podem ser encontradas num incêndio, os cachorros podem correr risco de vida ao cheirar os destroços. Exemplo são fibras de amianto ou de isolação. Porém Ertan que a polícia seria capaz de colocar o “Dusty” em situações perigosas.

– Nunca tivemos reclamações. Nós sabemos que na Grã-Bretanha a Sociedade Real de Prevenção à Crueldade aos Animais (RSPCA, na sigla em inglês) já fez um número reduzido de investigações e que os animais foram analisados por veterinários, porém eles não descobriram nada de suspeito – rebate.

– Nós sempre fazemos uma análise de risco antes de enviar o Dusty, como saber se o local tem buracos que ele possa cair. Ao mesmo tempo ele usa botas de proteção para evitar se cortar com pedaços de vidro ou farpas de madeira.

E o cachorro não corre como um desesperado quando passa na frente de um posto de gasolina?

– Não, pois ele é totalmente condicionado e sabe quando está trabalhando. Na verdade, para Dusty tudo não passa de um jogo. Então, quando eu coloco nele as botas e as amarro, ele começa a jogar e procurar sinais de combustível.

Ertan admite, porém, que o trabalho de detecção possa ser muito cansativo para os cães.

– Eles trabalham entre 15 a 20 minutos num dia frio e no máximo por dez minutos nos dias quentes. Depois eles precisam de um descanso de uma hora ou uma hora em meia. Para eles esse período de atividade equivale a quatro horas de caminhada para os seres humanos – admite.

Laço

O sucesso não vem do dia para noite. O treinamento básico de cães dura pelo menos seis meses e depois mais seis meses para aprender a detectar diferentes tipos de aceleradores de incêndio.

Ele envolve uma série de exercícios onde os cachorros têm de encontrar objetos marcados com odores específicos e depois escondidos. O animal é premiado pelo seu treinador quando tem sucesso em encontrar os objetos – no caso do Dusty, se trata de uma bola de tênis mascada.

Embora qualquer cão pode se transformar em bom farejador, algumas raças são mais predestinadas do que as outras.

– Springer Spaniels são cães muitos fáceis de treinar, que fariam tudo para os seus treinadores. Já no caso do pastor belga a situação é diferente. Os Springer Spaniels são mais motivados a agradar seus treinadores – explica Ertan e completa – a idéia do jogo é que o cachorro quer jogá-lo com seu treinador. Tudo funciona se existe uma grande empatia entre ele e o animal.

swissinfo, Thomas Stephens

As membranas nasais dos cachorros são várias vezes mais sensitivas do que as dos seres humanos.
Uma parte muito maior do cérebro dos cães é dedicada ao sentido do olfato do que nos seres humanos.
Esse é o resultado da evolução das espécies: a capacidade mais aguçada do olfato dá ao cão selvagem uma vantagem competitiva na procura da caça.
A Polícia Cantonal de Neuchâtel pagou cinco mil francos pelo cão “Dusty” na Grã-Bretanha.
Normalmente um animal com as mesmas qualidades pode custar até 15 mil francos suíços.

“Dusty”, um cão de quatro anos da raça Springer Spaniel, é o primeiro cão de investigação de incêndios na Suíça.

Cachorros podem detectar com muito mais rapidez líquidos aceleradores de fogo do que as tecnologias atuais.

Desde a atuação bem-sucedida de “Dusty” no trabalho de investigação de incêndios, outros cães farejadores também foram comprados pelas autoridades dos cantões de Solothurn e Schwyz. Outros dois estão sendo treinados pelas polícias dos cantões de Vaud e Berna.

Dos 426 incêndios ocorridos em Neuchâtel em 2004, 11 foram de origem criminosa.

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