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Desbaratada quadrilha da prostituição

As vítimas brasileiras estão sendo atualmente interrogadas pela polícia suíça. Keystone

Uma ação coordenada pelo Ministério Público da Suíça e autoridades policiais brasileiras consegue desbaratar uma quadrilha de tráfico internacional de mulheres.

Quatro pessoas estão presas, dois suíços e duas brasileiras. As vítimas eram obrigadas a se prostituir até 18 horas por dia. Elas podem ser deportadas do país.

A quadrilha internacional de tráfico de mulheres foi desbaratada graças ao trabalho conjunto entre as polícias do Brasil e da Suíça. O principal suspeito é o suíço Heinz Hunziker, 58 anos, que foi preso ontem ontem na Suíça
juntamente com três cúmplices, um suíço e duas brasileiras.

A ação conjunta foi executada ontem nos dois países (28 de março) graças às investigações de longa data feitas pelo Ministério Público e a Polícia Federal da Suíça.

As quatro prisões foram feitas no cantão de Solothurn. Cinco casas foram revistadas e uma grande quantidade de material foi apreendido. Nove mulheres brasileiras, que trabalhariam como prostitutas na Suíça, foram detidas e estão sendo interrogadas pelas autoridades policiais. Elas podem ser deportadas para o Brasil ao ser encerrado o processo.

– No momento não podemos dar detalhes sobre o caso já que as investigações ainda estão em andamento. De qualquer maneira nós consideramos essas pessoas vítimas de um grupo criminoso – declarou a swissinfo Hansjürg Mark Wiedmer, chefe de comunicação do Ministério Público suíço.

No Brasil

No Brasil, a Polícia Federal (PF) prendeu oito suspeitos de integrar a quadrilha. A ação, denominada “Operação Tarô”, cumpriu sete mandados de prisão em Belo Horizonte e um em Governador Valadares, no interior do Estado.

De acordo com o jornal “O Tempo” foram mobilizados 50 policiais no Brasil e cem na Suíça. Uma das brasileiras presas na operação em Solothurn por participar do esquema já teria sido presa e deportada, mas conseguiu retornar à Suíça graças ao uso de um passaporte falso.

As investigações começaram no ano passado, quando foi descoberto que Heinz Hunziker, por intermédio de aliciadores, recrutava mulheres brasileiras em Belo Horizonte e região metropolitana, enviando-as para prostituição em Zurique, a maior cidade da Suíça.

A Polícia Federal de Brasília estima que, em um ano, o grupo contratou mais de 300 mulheres residentes em Belo Horizonte, Contagem, Betim e Ibirité para trabalhar nos prostíbulos suíços. Elas eram mantidas em cárcere privado, sofriam agressões, abusos sexuais e ameaças. Algumas chegaram a ser vendidas para outras casas de prostituição. Na maior parte dos casos, eram obrigadas a ter sexo com clientes por até 18 horas ao dia.

Até 20 anos de prisão na Suíça

Segundo a PF, as duas brasileiras presas pelas autoridades helvéticas trabalharam nos prostíbulos antes de começar a fazer parte da quadrilha.

A líder da quadrilha no Brasil, Daniela Gregório, foi presa numa casa no bairro Novo Riacho, em Contagem. Outro aliciador tinha viajado para Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, onde foi também preso. Os prostíbulos de Hunziker em Zurique teriam sido interditados pela operação.

– As mineiras que trabalhavam nesses locais foram detidas, serão ouvidas pela polícia suíça e devem ser deportadas num momento oportuno. Elas se enquadram como vítimas – afirmou o delegado Clyton Eustáquio Xavier, da Divisão de Direitos Humanos da PF de Brasília, que coordenou a operação no Brasil.

Segundo o delegado, as mulheres eram aliciadas através de anúncios em jornais, indicação de terceiros ou mesmo em visitas que os integrantes da quadrilha faziam em casas de prostituição da região metropolitana.

– Para cada mulher enviada à Zurique, os aliciadores brasileiros recebiam 400 francos suíços, o equivalente a R$ 700, através de transações bancárias – afirmou Xavier.

Com as pessoas presas em Minas, a PF encontrou passaportes, cartas de emprego falsas, álbuns fotográficos e uma grande quantidade de preservativo feminino. Os envolvidos vão responder por tráfico de pessoas e formação de quadrilha. As pessoas presas na Suíça podem pegar até vinte anos de prisão por tráfico humano. No Brasil, a pena é de seis a 16 anos de prisão.

Escravas do sexo

De acordo com o delegado, a maioria das mulheres aliciadas tinha conhecimento de que viajaria ao exterior para se prostituir. A oferta era de cem francos suíços por programa. Xavier explicou que elas concordavam em trabalhar os primeiros três meses apenas para pagar uma dívida de 4.000 francos suíços, contraída com as despesas da viagem.

– Quando chegavam, as mulheres tinham os passaportes confiscados e eram mantidas em cárcere privado. A dívida chegava a 10 mil francos suíços, elas eram violentadas por clientes viciados em drogas, tinham privação de comida e em alguns casos eram vendidas para outros prostíbulos, como se fossem escravas do sexo – ressaltou.

O delegado afirmou ainda que algumas mulheres aliciadas eram enganadas com falsas promessas de emprego em recepções de hotéis da Suíça, com altos salários.

A Polícia Federal Suíça, que desde janeiro de 2003 tem uma coordenação geral para o combate do tráfico humano e imigração ilegal, calcula que até três mil mulheres estrangeiras trabalhem no país na prostituição como vítimas das quadrilhas internacionais.

Num relatório publicado recentemente, as autoridades helvéticas afirmam que tem aumentado consideravelmente a participação de brasileiras na prostituição ilegal.

swissinfo com agências

A operação “Tarô” foi iniciada pelo Ministério Público e a Polícia Federal da Suíça em cooperação com as autoridades policiais brasileiras.
Quatro pessoas estão presas por suspeita de tráfico humano, dois suíços e duas brasileiras.
A Polícia Federal Suíça estima que até três mil estrangeiras são exploradas sexualmente nos bordéis da Suíça.
No país a pena prevista para o tráfico humano pode chegar até a vinte anos de prisão.

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