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“À procura de maior dinamismo e visibilidade”

A exposição "Para lá dos estereótipos: Retratos de Mulheres Portuguesas em Nyon". swissinfo.ch

Gueto, isolamento, falta de iniciativa, fragmentação - esta e outras palavras semelhantes surgem com frequência quando se fala dos emigrantes portugueses na Suíça. Apostada em estimular o debate e procurar soluções, a Federação de Associações Portuguesas da Suíça (FAPS) organizou recentemente em Friburgo um encontro de responsáveis do mundo associativo luso.

Uma iniciativa que permitiu enunciar alguns temas difíceis, como as divergências no meio associativo, a falta de cooperação e a fraca participação dos emigrantes, os maus resultados escolares dos alunos de origem portuguesa e as carências da estrutura de ensino da língua portuguesa.

Para António Cunha, presidente da FAPS, esta foi “uma oportunidade para relançarmos um novo ciclo e darmos um dinamismo novo à federação, com ideias novas e pessoas novas, identificar os problemas e mapear caminhos”.

O movimento associativo tem perdido dinamismo nos últimos anos, vítima de dois fenómenos que o fragilizam, segundo António Cunha: “um processo de mercantilização que tem transformado algumas associações em restaurantes e levado outras a encerrar e o individualismo que tem atingido as nossas sociedades”.

O encontro foi organizado em parceria com a Embaixada de Portugal em Berna e os Consulados de Genebra e Zurique e contou com a presença de vários representantes das autoridades suíças. “A comunidade portuguesa contribui ao desenvolvimento da nossa sociedade, não só nas áreas tradicionais como a construção mas também naquelas que exigem capacidades de empreendimento e científicas. Estamos gratos aos portugueses e só temos uma coisa a lamentar: que os contactos sejam por vezes difíceis, porque a comunidade portuguesa é demasiado discreta”, confessou à swissinfo.ch o presidente do Grande Conselho do cantão de Friburgo, Benoît Rey.

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Distribuição de portugueses na Suíça é desigual

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Uma opinião partilhada pelo embaixador de Portugal, Paulo Jerónimo da Silva: “A comunidade portuguesa na Suíça carece de iniciativa e visibilidade”, concordou, “e por isso esta iniciativa é importante, pois contribui para que as estruturas associativas consigam ter maior projecção a nível nacional na Suíça e uma voz mais forte junto das autoridades suíças”.

Autora de um estudo académico sobre as comunidades emigrantes lusas em terras helvéticas, Irina Fortuna, politóloga da Universidade de Lausanne, lembrou que, com o acordo de livre circulação assinado com a União Europeia em 2002, o número de portugueses no país disparou de 11 mil em 1980 para 277 mil. O que não se alterou foi a atitude de auto-marginalização: “Gerador de poucas iniciativas culturais, o movimento associativo é fragilizado pelo isolamento e pela concorrência entre as associações”, assinalou Irina Fortuna.

O fenómeno do isolamento reflecte-se também no aproveitamento escolar da geração mais nova. Ana Caldeira, representante da comunidade portuguesa na Comissão Federal das Migrações, evocou “os maus resultados escolares das crianças de origem portuguesa e a dificuldade da escola suíça em dialogar com as famílias portuguesas”. Uma fragilidade herdada: no seu trabalho com a Biblioteca Intercultural de Friburgo, Ana Caldeira tem encontrado “mulheres portuguesas que estão na Suíça há 30 anos e não falam outra língua senão o português”. 

“É portuguesa? Então é mulher-a-dias”

As conferências e debates decorreram na antiga estação ferroviária de Friburgo. Numa das salas deste edifício sóbrio e harmonioso esteve patente ao público, de 3 a 20 de Novembro, a exposição de fotografia “Au-delà des clichés: Portraits de femmes portugaises à Nyon en 2016” (Para lá dos estereótipos: Retratos de Mulheres Portuguesas em Nyon). 

Antônio Cunha, presidente da Federação de Associações Portuguesas da Suíça (FAPS) swissinfo.ch

Mariana Mendes estava há dois anos na Suíça quando um estrangeiro que lhe tinha pedido uma informação na rua, ao saber que é portuguesa, lhe perguntou se tinha disponibilidade para trabalhar para ele como mulher-a-dias, “porque na ONU, onde trabalho, todos me dizem que as portuguesas são muito boas empregadas domésticas”. Mariana sentiu-se interpelada. “Não penso que haja alguma vergonha em ser empregada doméstica, mas incomodou-me o estereótipo que reduz a emigrante portuguesa a uma única categoria profissional”, disse à swissinfo.ch.

Aquele encontro fez germinar a ideia de uma exposição de fotografias que testemunhasse da presença de mulheres portuguesas em várias áreas profissionais. O projecto foi aprovado no quadro dos programas de apoio à integração da cidade de Nyon e Mariana deitou mãos à obra, em parceria com Catarina Antunes. Trabalharam durante seis meses com os fotógrafos Nadir Mockdade e Carla Silva, para reunir uma colecção de fotografias que dá rosto a 165 mulheres portuguesas e luso-descendentes que exercem 47 profissões diferentes. A exposição estreou na edição de 2016 da Semana de Luta contra o Racismo em Nyon.

As reacções que a exposição tem suscitado revelaram algo surpreendente, segundo Mariana Mendes: “As portuguesas estão nas mais diversas áreas, mas como são muito discretas, as pessoas que lidam com elas na actividade profissional frequentemente não sabem que são portuguesas”.

FAPS : Um projecto de coordenação

A Federação das Associações Portuguesas de Suíça (FAPS) é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 1989, com o objectivo de valorizar social e culturalmente a comunidade portuguesa residente na Suíça através de uma rede de coordenadores regionais nos diversos Cantões.

A organização associativa de portugueses mais antiga na Suíça é a Associação Portuguesa de Zurique, fundada em 1960.

A mais jovem é a de Nidwalden, criada em 2012. 

EndereçosLink externo das associações portuguesas na Suíça

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