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Os queijeiros suíços que imigraram ao Equador

Queijos para toda a família: assim a família Putschert se apresenta. cortesia

A família Putschert imigrou de Lucerna para produzir queijos no Equador. Atualmente a empresa Floralp exporta produtos de qualidade para a América Latina e se prepara para passar o comando para a 3a geração.

Os irmãos Putschert foram entrevistados pelo correspondente da Swissinfo no Brasil Alexandre Hill-Maestrini durante o Encontro Internacional de Inovação Tecnológica Sustentável na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.

Visão e empreendedorismo

Em 1949 Oskar Putschert e Hedwig Holenstein deixaram a Suíça movidos pela curiosidade de conhecer o mundo. Ainda como estudante de Laticínios em Lucerna Oskar foi contatado por um empresário suíço para produzir queijos em sua fazenda em Cuenca. Nesta época ainda não existiam queijos tipo suíço no Equador.

Em 1951, depois da primeira tentativa frustrada no Equador, os Putschert, a convite de um amigo da escola de meu pai, mudam-se para a cidade de Canals, perto de Mendoza, na Argentina. Porém pouco antes de partir, participando da exposição em Cuenca, ao sul do Equador, selou seu futuro profissional ao aceitar o convite do então presidente do Equador para voltar em dois anos e trabalhar para ele na empresa Imbabura nas cidades de Zuleta e São Gabriel.

Em 1964, com seis filhos, Oskar e Hedwig precisavam tomar uma decisão, permanecer no Equador ou retornar à Suíça. Os dois irmãos comentam com orgulho a decisão dos pais. Com a experiência latina adquirida os Putschert decidiram ficar e fundar a Floralp com sede em Ibarra, dando início a uma carreira de sucesso.

Alguns membros da família Putschert voltaram para a Suíça para estudar. Mas a maioria permaneceu no Equador onde hoje estudam e trabalham em diversas firmas, inclusive na própria Floralp.

Império familiar

Rudolf, o atual presidente da empresa familiar, nasceu na Argentina e estudou economia na Universidade de Zurique. Ele diz orgulhoso ter sido o único filho a aprender a língua alemã com seu pai.

Atualmente o filho de Rudolf, herdeiro do império Floralp, seguindo o caminho de volta do pai e a profissão do avô, estuda bolsa do governo suíço para ser um Käsermeister, técnico em laticínios, na Escola Técnica de Laticínio de Sursee na Suíça.

Os Putschert sempre mantiveram firmes os laços com a Suíça. Rudolf manifestou seu agradecimento para com o governo suíço, salientando a bolsa recebida para que ele pudesse cursar a faculdade e viver na Suíça.

Emocionado, ele explicou que a fórmula do sucesso da empresa Floralp sempre foi muito trabalho, simplicidade e pontualidade. A qualidade na produção de queijos conservou as características semelhantes às de seus ancestrais dos Alpes. A fama da família Putschert foi construída com o pioneirismo e a perseverança de seus pais que, no pós-guerra, tiveram a coragem de deixar o seu país para uma aventura na desconhecida América.

Paixão pelos queijos

Nascido no Equador em 1962 Norbert estudou no Equador e se formou em engenharia industrial na Universidade do Equador. Com várias pós-graduações no estudo da gestão de qualidade de produtos lácteos estudou também os sistemas sustentáveis no Uruguai, Argentina e Europa.

Norbert herdou a paixão pelos queijos mas é na área da gestão sustentável da agricultura e da agricultura com responsabilidade que ele se destacou. Desde 2002 ocupa o cargo de diretor geral da empresa. Anteriormente foi gerente de produção e assistente de seu pai.

Disciplina suíça com espírito latino

No início a rotina diária era produzir, embalar, etiquetar e vender. Enquanto isso os filhos concluíram os estudos universitários para, a partir de 1976, transformarem a Floralp numa verdadeira empresa familiar com alma suíça.

Combinando a disciplina, ordem e pontualidade dos mais velhos com a capacidade empresarial e improvisação dos membros “latinizados” o resultado foi um excelente ambiente de trabalho, relata Norbert.

Trabalho com os pequenos produtores

Seguindo a tradição, Norbert manteve o mesmo sistema criado por seu pai. São 120 pequenos agricultores, cada um com 3 a 5 vacas, organizados em pequenas empresas.

Para aumentar a qualidade do leite produzido pelos fornecedores de leite a empresa sugere inovações tecnológicas e controle de qualidade. Em contrapartida disponibiliza técnicas conhecidas na Suíça e garante a compra de toda produção a preço justo. A empresa vende 40 toneladas de queijo e 8.000 litros de leite por mês.

Queijo suíço para andinos

Nosso queijo tem um sabor mais suave que o original suíço, esclarece Rudolf. Meu pai tinha um sentido apurado para negócios e adaptou nossos produtos às necessidades do novo mercado. O laticínio é atualmente conhecido em todo o Equador e em grande parte da região andina.

O pequeno negócio familiar tornou-se uma empresa líder no mercado. A Floralp está pronta para concorrer no mercado mundial e pretendemos exportar para a Comunidade Europeia e o Mercosul, acrescenta Rudolf orgulhoso.

Selo de sustentabilidade

Foram estes desempenhos que despertaram o interesse do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em investir 1 milhão de dólares no projeto dos Putschert e financiar suas ações de desenvolvimento sustentável e políticas agropecuárias.

Em 2005, apoiado pela fundação Swisscontac, a Floralp lançou um programa de responsabilidade social que se tornou parte da ética da empresa definida no relatório de sustentabilidade.

Segundo Norbert desde o início os Putschert foram modelo de crescimento e triplicaram a cada ano sua produção. São mais de 40 anos de inovação, introdução de novas tecnologias e mudanças nos padrões de produção e consumo de queijo no Equador.

Os herdeiros se dizem satisfeitos em poder apresentar aos ancestrais um balanço positivo de vendas. Atualmente a produção é vendida para três mercados diferentes sendo 25% para supermercados, 60% para empresas, hotéis e restaurantes e 15% para as distribuidoras, dos quais 69% de queijos e 31% de outros derivados.

Os Putschert introduziram no país rigorosos testes de controle de qualidade com a montagem de modernos laboratórios. Tudo na Floralp passa por um rigoroso teste físico e microbiológico a fim de garantir elevados padrões de qualidade e atenderem às demandas dos clientes.

Eles atribuem o sucesso da Floralp à disciplina do patriarca e à educação suíça. Os irmãos irradiam orgulho e admiração ao relatarem a difícil trajetória de seu pai desde 1949 até o sucesso de hoje. Somos pessoas simples mas com muito conhecimento adquirido, finaliza.

Em 1964 Oskar Purtschert funda a empresa familiar Floralp em Cuenca, Equador.

Em 2002 a empresa recebeu o certificado de qualidade ISO 9000-2000 e introduziu um sistema de análise de risco e controle de produção (HACCP).

Em 2005 Norbert assumiu a gestão dos negócios da família com quatro fábricas. Três no Equador, São Gabriel (Carchi), Zuleta e Ibarra (Imbabura) e uma em Oxapampa, no Peru.

Em 2007 a Floralp ganhou o prêmio PYME (Pequenas e Médias Empresas) Andina 2006-2007 concorrendo com 176 empresas de quatro países andinos.

Em 2010 a empresa produz 30 diferentes tipos de queijos. Entre eles estão o Gruyère, o Tilsit, a Mussarela, o Brie, o Camembert e o Parmesão. São 140 empregos diretos e mais de 1.000 empregos indiretos no Equador e Peru.

Recentemente os Putschert iniciaram a preparação para passar a Floralp à terceira geração com um volume de negócios de mais de 7 milhões de dólares.

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