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Quando férias de esqui terminam no hospital

Todos os dias mil esquiadores vão parar no hospital. Keystone

Alarme nas montanhas: cerca de 44 mil pessoas viajando pela Suíça nesse inverno devem terminar suas férias de esqui no hospital.

Mais grave que as estatísticas é a tendência dos esquiadores terem ferimentos cada vez mais graves.

Um helicóptero vermelho e branco do Socorro Aéreo Suíço (REGA) pousa sobre o hospital de Interlaken.

Ele está carregando uma mulher, cujo rosto está coberto de sangue. Ela é levada para o setor de emergências, onde médicos entram em ação para costurar o profundo ferimento na sua testa.

“Ela colidiu com outro esquiador e agora está com um sério ferimento na parte superior do rosto”, afirma o médico Paul Günter. “Ela contou que o outro esquiador envolvido no acidente estava tão rápido que ela nem conseguiu vê-lo chegando”.

Estamos em meados de fevereiro, um dos principais períodos na temporada de inverno. Os hotéis das estações de esqui estão lotados, assim como os leitos de hospital. Em Interlaken, uma entre quatro camas estão ocupadas por um esquiador ferido.

Günter conta que, quando as pistas estão cheias, ele costuma tratar até 20 pacientes nesses dias.

Raios X

“Aproximadamente a metade deles mostra ferimentos de menor importância como um dedo torcido ou antebraço quebrado, porém o resto é muito mais sério”, revela Günter, olhando ao mesmo tempo a radiografia de um joelho fixado através de pinos de metal (ver a foto).

“Essa é uma fratura de tíbia, uma fratura do fêmur e do joelho”, ele explica.

“O joelho precisa ser reconstruído, um trabalho que será feito por um cirurgião especializado. Se o tratamento não for realizado corretamente, o joelho não irá funcionar corretamente e a pessoa terá artrose em alguns anos”.

“Isso é o que acontece quando você bate em alguma coisa em alta velocidade e esse tipo de ferimento é o que estamos vendo com mais freqüência”.

Cada vez mais rápidos

O médico suíço mostra que os ferimentos estão cada vez mais parecidos com aqueles encontrados nos acidentes automobilísticos. Isso não é uma surpresa desde que os esquiadores estão andando mais rápidos do que nunca. “Eles podem alcançar com facilidade os 80 km/h”.

Como deputado federal no Parlamento suíço, Günter está planejando apresentar uma moção na sessão de primavera com o objetivo de tornar a prática do esqui mais segura.

Ele pede a criação de uma polícia especial para atuar nas estações de esqui e punir os esquiadores que não fazem atenção às regras de segurança.
Sua opinião de que os acidentes estão se tornando cada vez mais graves é apoiada pela direção da REGA.

Se os helicópteros desse serviço de salvamento estão transportando menos pessoas com pernas quebradas, mas cada vez mais com ombros deslocados, joelhos torcidos ou ferimentos nas costas.

As estações de esqui não se motivam muito para a idéia da criação de uma patrulha da neve, sobretudo devido aos custos elevados que elas iriam provocar. Na opinião dos seus responsáveis, o número de feridos não cresceu nos últimos anos.

De acordo com o Serviço Suíço de Prevenção de Acidentes, cerca de 110 mil pessoas (66 mil residentes no país e 44 mil turistas estrangeiros) se acidentam anualmente ao praticar esqui. Esses números pouco se modificaram desde que a contagem estatística começou em 1998.

Um detalhe interessante é que a freqüência nas pistas de esqui sofreu uma redução de 5% nos últimos cinco anos, como revelou a Associação Suíça de Teleféricos. Porém esse número não trouxe uma diminuição do número de acidentes de esqui.

Perspectiva legal

Markus Hostettler, diretor do Teleférico de Adelboden, afirma que os números elevados de acidentes devem ser vistos de uma outra perspectiva. Nos dias cheios, mais de seis mil esquiadores costumam utilizar suas instalações.

“Imagine quantos acidentes não ocorreriam se essas pessoas estivessem andando de bicicleta ou jogando futebol no mesmo local, ao mesmo tempo”.

“É verdade que os esquiadores esperam de nós a perfeita conservação das pistas. Todos os dias nós as aplainamos com máquinas. Assim muitos não resistem em aumentar a velocidade”, ele admite.

Hostettler também apóia o ponto de vista suíço de que cada pessoa tenha de assumir responsabilidades por suas próprias ações, tendo consciência do risco que correm.

Perda de controle

De acordo com os especialistas do Serviço Suíço de Prevenção de Acidentes, nove entre dez acidentes não são causados pelas colisões nas pistas, mas sim pela perda de controle de muitos esquiadores devido o excesso de velocidade.

“Acreditamos que a maioria dos acidentes ocorrem pois as pessoas superestimam suas habilidades de esquiar ou pois não estão em boas condições de saúde”, analisa o diretor Rolf Moning.

De maneira surpreendente, os responsáveis acreditam que álcool tem um papel insignificante no problema, mesmo se este pode ser encontrado em abundância em qualquer estação de esqui.

O Serviço Suíço de Prevenção de Acidentes se esforça atualmente para reduzir o número de ferimentos de cabeça, que correspondem a 10% do número total. Para isso, eles lançaram uma campanha para promover o uso de capacetes nas pistas.

Capacetes

Pesquisas mostram que apenas 13% dos esquiadores e 20% dos snowboarders utilizam regularmente capacetes. A justificativa é que eles se esquecem ou consideram desconfortável essa proteção.

O médico Günter recomenda a utilização de capacetes para crianças, mas acredita que os esquiadores não podem ter uma falsa impressão de segurança. “Na verdade a proporção de maus esquiadores que não usa capacete é muito maior do que a dos bons que os utilizam”.

“Eu sei que existe o perigo de acidentes”, afirma um snowboarder alemão em Adelboden. Ele confirma que chega a atingir até os 60 km/h na sua prancha. “Na vida a gente já corre muitos riscos, então por que não mais um que pelo menos me diverte?”.

swissinfo, Dale Bechtel
traduzido por Alexander Thoele

O Serviço Suíço de Prevenção de Acidentes estima que 110 mil pessoas se acidentam praticando esqui ou snowboard durante o inverno.

Especialistas acreditam que a grande maioria dos acidentes é causado pelo fato dos turistas superestimarem suas capacidades: muitos não conseguem se manter sobre os esquis ao andar em alta velocidade.

Médicos e representantes do Socorro Aéreo Suíço (REGA) creditam na alta velocidade praticada pelos esquiadores a culpa pelos ferimentos cada vez mais graves.

O médico-chefe do hospital de Interlaken irá apresentar uma moção no Parlamento suíço solicitando a criação de uma polícia do esqui.

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