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“Estou esperando o convite do Lula”

Nicolas Hayek posando para uma coleção de relógios dedicada aos filmes de James Bond.

Ao contrário do que foi publicado nos jornais brasileiros, o grupo suíço Swatch não planeja investir 100 milhões de dólares no Brasil. Em entrevista exclusiva à swissinfo.ch, o presidente do conselho administrativo Nicolas George Hayek explica as condições para retornar ao país.

Uma delas é um convite oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O anúncio publicado através das agências de notícia do possível investimento da Swatch no Brasil foi amplamente divulgado na imprensa internacional. Porém ao questionar Nicolas Hayek, presidente do conselho de administração do Grupo Swatch, este desmente com veemência a informação.

Poucos dias depois de anunciar que a Omega continuará a ser a cronometrista oficial dos Jogos Olímpicos até 2020, o legendário “salvador” da indústria relojoeira suíça explica porque a marca já era famosa nos anos 1930.

swissinfo.ch: Na semana passada a imprensa informou que o Grupo Swatch investiria 100 milhões de dólares no Brasil. Isso é verdade?

Nicolas Hayek: Em primeiro lugar, não foi uma entrevista oficial que dei ao jornalista. Eu falei com ele durante uma coletiva de imprensa organizada por nós juntamente com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o seu presidente, o senhor Jacques Rogge, para anunciar que a Omega continuará a ser o cronometrador olímpico até 2020.

E como surgiu a questão relacionada ao Brasil?

Depois da coletiva de imprensa, os jornalistas se precipitaram aos quatro oradores da coletiva. Então este outro me perguntou se eu ainda estava chateado com o presidente Lula. Eu disse que não, pelo contrário: ele está fazendo um bom trabalho e você deve felicitá-lo da minha parte. Então ele me perguntou se eu iria retornar ao Brasil, país que abandonamos há alguns anos devido a…

Problemas de corrupção, não?

Sim. Era uma fábrica da Tissot em Manaus. Então eu disse ao jornalista que se o presidente Lula me convidasse a ir ao Brasil para discutir comigo e meu filho, ficaríamos felizes de poder encontrá-lo. O jornalista me perguntou quanto então eu investiria no Brasil e a minha resposta foi: eu não sei, nós costumamos investir muito dinheiro em todos os países do mundo como, por exemplo, na rede de lojas, no Belenos, o projeto de um veículo à base de células de combustível, e outros.

Se o governo brasileiro convidar o Grupo Swatch a discutir a possibilidade de investir mais uma vez no país, o que concretamente será falado?

É saber se teremos condições normais como em outros países. E se tivermos essas condições, poderemos investir no Brasil, um país importante que vemos como muito importante. Veja: o senhor Chirac (n.r.: ex-presidente francês, Jacques Chirac) veio me perguntar se eu não poderia montar uma fábrica na França, o senhor Helmut Kohl (ex-chanceler alemão) também. Os políticos discutem sempre conosco sobre esses temas. Se houver uma discussão, estamos dispostos a retornar seriamente ao Brasil.

E quais são essas condições?

Não vou ditar as condições ao senhor Lula antes de ir ao país.

Quais eram os problemas tidos pelo Grupo Swatch no Brasil?

Eles nos perturbavam sem parar com todo tipo de formalidades. Se em um papel de importação faltava uma vírgula, então nos multavam em meio ou um milhão. Os fiscais aduaneiros sempre insistiam, dizendo que se não déssemos dinheiro para eles, eles sempre encontrariam erros nos papéis para nos pegar.

Qual o potencial de investimento no Brasil para os seus negócios?

É um potencial tão bom quanto em outros países da América Latina, mas não é algo extraordinário.

Haveria a possibilidade de construção de uma fábrica?

Não, de forma alguma. Os relógios suíços são fabricados exclusivamente na Suíça. Montamos fábricas no exterior para sistemas solares, fotovoltaicos ou do setor automobilístico, mas nunca de relógios. No Brasil tínhamos apenas uma fábrica de montagem. Quando assumi a indústria relojoeira suíça, ela tinha fábricas no exterior. Eu as fechei imediatamente. Nicolas Hayek sempre disse sempre que os relógios suíços são feitos na Suíça e nunca fora dela.

Qual é o mercado mais importante para o Grupo Swatch?

Todos os mercados são importantes.

O acordo entre o Grupo Swatch e o COI firma a presença da Omega nos Jogos Olímpicos?

Nos Jogos Olímpicos são necessários entre 350 a 400 pessoas para medir o tempo. Os jogos exigem a medição em até um centésimo de segundo e isso deve ser feito por alguém. O comitê olímpico não é capaz de fazê-lo, pois não tem os relógios necessários ou as instalações necessárias. Elas custam muito dinheiro. Então eles nos pediram para fazê-lo.

O senhor também entregou a Jacques Rogge um antigo cronômetro?

Sim. Quando as Olimpíadas de 1932 em Los Angeles foram organizadas, eles nos pediram para fornecer os cronômetros. Era a tecnologia que utilizávamos na época. Nós demos um desses cronômetros e uma carta do Comitê Olímpico de Los Angeles nos felicitando pela exatidão dos nossos relógios ao Museu Olímpico em Lausanne.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Faturamento bruto do Grupo Swatch (2008): 5,96 bilhões de francos (US$ 5,78 bilhões)
Lucro operacional (2008): 1,2 bilhões de francos (US$ 1,16 bilhões)
Lucro líquido (2008): 838 milhões de francos (US$ 812 bilhões)

Resultados da primeira metade de 2009

Faturamento bruto: 2,48 bilhões de francos (-15,3% em comparação com o mesmo período em 2008).
Lucro líquido: 301 milhões de francos (-28% em comparação com o mesmo período em 2008).

Marcas do Grupo Swatch: Breguet, Blancpain, Glashütte-Original, Jaquet Droz, Léon Hatot, Omega, Tiffany & Co., Longines, Rado, Union Glashütte,Tissot, ck Calvin Klein, Certina, Mido, Hamilton, Balmain, Swatch, Flik Flak e Endura.

Nicolas George Hayek nasceu em 19 de fevereiro de 1928 em Beirute, Líbano. Ele é um empresário suíço, fundador e presidente do conselho de administração do Grupo Swatch.

Ele estudou Matemática, Química e Física em Beirute, onde conheceu posteriormente sua esposa, a suíça Marianne Mezger. Devido à oposição da sua família ao casamento, Hayek emigrou à Suíça em 1949, como revela o biógrafo Jürg Wegelin.

Sua primeira experiência profissional como executivo ocorreu na empresa do sogro. A partir de 1950, trabalhou em uma empresa de seguros. Em 1957, fundou sua própria empresa de consultoria na área de engenharia.

O Grupo Swatch foi co-fundado por ele em 1983 a partir da fusão de duas empresas relojoeiras suíças.

Graças à experiência acumulada na indústria automobilística, Hayek construiu há vinte anos um veículo solar, o “Spirit of Biel” (Espírito de Bienne).

Ele também foi responsável pelo design do Smart Car, projeto da construtora alemã Daimler e que, inicialmente, havia sido projetado para ser um veículo híbrido. A idéia foi abandonada antes que o Smart fosse lançado no mercado.

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