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“Faltam sistemas de alerta”

Para Olivier Lateltin, um sistema de alerta poderia ter salvado a vida de muitas pessoas. RTS

Estatísticas da morte no Sudeste asiático já falam de 40 mil mortos e centenas de desaparecidos. Para um especialista suíço, a instalação de um sistema de alarme poderia ter salvado muitas vidas.

swissinfo entrevista Olivier Lateltin, especialista do Departamento Federal de Águas e Geologia do governo suíço.

De acordo com as estatísticas mais recentes e estimativas, pelo menos 40 mil pessoas devem ter morrido no sudeste asiático vítimas de ondas gigantes (tsunamis) que varreram as regiões costeiras do Oceano Índico, poucas horas depois do terremoto de 8,9 graus na escala Richter na manhã de domingo.

Milhares ainda estão desaparecidos. Na Tailândia, o vice-ministro do Interior Sutham Sangprathum declarou que 700 turistas estrangeiros pereceram durante a catástrofe.

Em meio ao caos, muitos se perguntam se não teria sido possível salvar mais vidas. Para Olivier Lateltin, especialista do Departamento Federal das Águas e Geologia, a tragédia prova a necessidade de se investir em sistemas de alarme como já existem em outras partes do globo.

Na sua opinião teria sido possível prever o abalo sísmico submarino nas proximidades da ilha de Sumatra?

Não acredito. A zona de sutura entre as placas tectônicas eurasiana e indiana é conhecida, assim com as fortes atividades vulcânicas na região, porém é impossível prever a data e a intensidade de terremotos.

Porém teria sido possível de tomar providências no espaço de tempo entre o abalo sísmico e a chegada das ondas gigantes nas zonas costeiras?

É nesse ponto que está o principal problema. O Instituto Geológico dos EUA realiza um trabalho de vigilância constante dos tremores de terra no mundo inteiro e somos informados em questão de segundos, logo no momento que ocorre um terremoto.

Porém o problema é a difusão das informações e o alerta. Se já existe um sistema de alerta operacional para as zonas de risco em caso de ciclones, falta por outro lado um sistema de prevenção contra as ondas gigantes (tsunamis) no Oceano Índico.

Não existe um chamado “early warning system” (sistema de alerta antecipado). Essa é uma lacuna grave que precisa ser solucionada o mais rápido possível. No caso do Sri Lanka, por exemplo, teria sido possível salvar algumas vidas se as pessoas tivessem sido alertadas logo depois que foram medidos os primeiros tremores de terra até o momento que as ondas estouraram nas suas praias.

Você acredita que agora, depois da catástrofe, os governos irão adotar as primeiras medidas de prevenção?

Para responder, eu preciso ser irônico: o poder de decisão está nas mãos de políticos, cuja memória têm uma média de duração de quatro anos. Ora, a memória da Terra é muito maior. Ela se mede em milhões, milhares de anos.

Falando mais sério, eu penso que a solução do problema não está nas mãos dos cientistas, pois estes já possuem há muito tempo o botão de alarme. Porém é necessário que os políticos lhe dêem atenção, tanto na Ásia como na Suíça ou em outros países.

O diálogo deve ser restaurado, mesmo sabendo que a prevenção de catástrofes não é um tema muito sexy nos programas políticos. O tema é urgente!

Como os cientistas podem aproveitar-se da tragédia de domingo para encontrar mais respaldo?

Infelizmente nós precisamos de catástrofes nessa amplitude para fazer entender a necessidade da prevenção no mundo. Na Suíça, por exemplo, foi necessário assistirmos aos terremotos de Kobé (1995) e Izmit (1999) para que avançássemos na questão da prevenção de desastres naturais.

Qual foi a amplitude do terremoto de domingo nas proximidades da ilha de Sumatra numa perspectiva histórica?

Esse foi um sismo de grande magnitude, cujos efeitos do maremoto provocado são catastróficos. Porém é importante lembra que tais abalos sísmicos provocam regularmente a morte de milhares de pessoas: não muito distante de nós na Europa, o terremoto de Bam, no Irã, foi igualmente devastador.

Eu espero somente que nós tenhamos agora um período de calma para trabalhar em medidas efetivas, sejam elas no sentido da prevenção, da pesquisa e desenvolvimento de sistemas de alertas mais eficazes.

No caso da Suíça, nós terminaremos um período de planificação de quatro anos em 31 de dezembro. Depois iremos encontrar os representantes do governo federal no início de janeiro para discutir sobre as medidas para o futuro. Espero que a catástrofe asiática seja um tema nas reuniões.

Existe o risco de outros terremotos nessa magnitude e efeitos semelhantes como o de domingo em outros pontos do globo?

Isso é quase garantido, pois o solo marinho movimentou-se quase cinco metros no terremoto próximo à ilha de Sumatra. Dessa forma é possível que ocorram outros sismos em nível local nas fissuras entre as placas eurasiana e indiana e nas dorsais do Japão. Acredito que eles terão menor intensidade e essa movimentação deve ter conseqüências para as outras fissuras na crosta da Terra.

swissinfo, Mathias Froidevaux
traduzido por Alexander Thoele

– O forte abalo sísmico ocorreu no domingo às 07:58 em hora local (e 01:58 na Suíça) próximo a Sumatra, ilha da Indonésia, e atingiu 8,9 graus na escala Richter.

– O maremoto provocado atingiu logo depois o Sri Lank, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia, Myanmar (Birmânia) e as Ilhas Maldivas. As últimas estatísticas falam de 40 mil mortos. Centenas de pessoas ainda estão desaparecidas.

– Trata-se do terremoto mais forte desde 1900, só não superando em termos de magnitude o que ocorreu no Alaska em 1964 (9,2 na escala Richter).

– O terremoto no Sudeste asiático ocorreu exatamente um ano depois daquele que atingiu a região de Bam, no Irã, e que causou a morte de mais de 35 mil pessoas.

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