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Setor se desenvolve em um “Vale da Saúde”

Com o projeto Campus Biotech, o empresário suíço Ernesto Bertarelli volta a ocupar a sede de sua antiga empresa Serono. Keystone

Com o apoio de bilionários suíços, uma grande iniciativa de pesquisa em biotecnologia, em Genebra, deve aumentar ainda mais o chamado “Health Valley” da Suíça. Criado após grandes perdas de emprego na região, o novo "Campus Biotech" foi acolhido com cautela.

Dentro do elevado hall de vidro da entrada da antiga sede da Merck Serono em Genebra dá para ouvir um alfinete cair.

“Os últimos funcionários deixaram o local na semana passada”, explica a recepcionista solitária.

Pouco mais de um ano atrás, a empresa químico-farmacêutica alemã Merck causava um enorme estrondo no setor da biotecnologia da região com o anúncio do fechamento de sua sede de desenvolvimento de medicamentos de Genebra, transferida para a cidade alemã de Darmstadt. A decisão acabou com 1250 postos de trabalho.

No final de maio, o empresário suíço Ernesto Bertarelli, que havia vendido a então Serono ao grupo Merk, anunciou que havia comprado de volta o parque de 40 mil metros quadrados com a participação de outro bilionário suíço, Hansjürg Wyss.

Os dois empresários formaram um consórcio com a Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) e a Universidade de Genebra para criar um novo instituto de bio e neuro engenharia no local, financiado por uma doação de 100 milhões de francos suíços (103 milhões de dólares) da Wyss Foundation.

Os novos proprietários parecem prestes a se mudar para o alastrado complexo a partir do final de junho. Quando o projeto estiver funcionando, um terço do espaço será ocupado por laboratórios que empregarão 300 pesquisadores e o restante deve abrigar diversas startups e outras empresas do promissor ramo das “ciências da vida”, diz o consórcio.

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Ponto de partida

A comunidade suíça de biotecnologia e os políticos em geral saudaram a notícia que poderá dar nova vida à indústria da biotecnologia e consequentemente ao mercado de trabalho.

O reitor da Universidade de Genebra, Jean-Dominique Vassalli, disse que o novo campus vai permitir que eles realizem pesquisas “que nunca teriam imaginado possíveis antes”.

Jürg Zürcher, consultor em biotecnologia da Ernst and Young, se mostrou mais cauteloso. “O fechamento da Merck Serono no ano passado teve um grande impacto sobre a indústria biotecnológica suíça. O novo campus não vai compensar de um dia para o outro as perdas de emprego da Merck Serono e será preciso tempo para obter de volta a confiança e uma clara compreensão do que eles querem fazer.”

O especialista reconhece, no entanto, que o complexo é um bom ponto de partida e uma excelente infraestrutura. “O campus pode se tornar um hub de talentos. No médio e longo prazo, acredito que vai ter um impacto positivo em Genebra, na região do Lago de Genebra e na Suíça como um todo”, disse Zürcher.

Biotecnologia é a ciência do uso de organismos vivos para melhorar medicamentos, cultivos, combustíveis e outros produtos.

A maioria das empresas do setor estão agrupadas em torno das regiões de Basileia e Zurique, mas também há grupos significativos nos cantões de Genebra e Ticino.

A indústria gerou vendas de 4.7 bilhões de francos suíços em 2012 e investiu 1.3 bilhões em pesquisa e desenvolvimento.

A indústria emprega mais de 13.700 pessoas.

Fonte: relatório 2013 Swiss Biotech

Convergência

Desde o início da década de 2000, a Suíça ocidental tem assistido a convergência da biotecnologia com tecnologias médicas promovida por pessoas como o presidente da EPFL Patrick Aebischer para formar o chamado “Health Valley”.

Este aglomerado de rápido crescimento, que se estende do cantão do Valais até Genebra, incluindo Neuchâtel e Berna, compreende 750 startups e empresas multinacionais de biotecnologia e bioengenharia, tais como Baxter, Debiopharm e UCB Farchim e 20 instituições de pesquisa e universidades, empregando 25 mil pessoas. O polo está entre os três principais centros europeus de pesquisa do ramo ao lado de Cambridge e Oxford.

Benoit Dubuis, presidente da BioAlps, uma associação que tem liderado o vale da saúde suíço, disse que a iniciativa lançada em Genebra não seria “uma revolução”, mas demonstra bastante reconhecimento para o que estava sendo feito na região.

“Wyss poderia ter escolhido Cingapura ou Xangai para a criação de seu instituto, mas preferiu Genebra, já que encontrou parceiros credíveis como a EPFL, a Universidade de Genebra e Bertarelli”, observou.

O objetivo não é duplicar o que já está sendo feito no Wyss Institute for Biologically Inspired Engineering de Harvard, disse Dubuis.

Benoit Dubois observa que a abordagem de Wyss de “inovação, colaboração e tradução da tecnologia” se encaixam perfeitamente com o que estava sendo feito na região suíça do Health Valley, principalmente na área da pesquisa interdisciplinar e nas sinergias mais estreitas com a indústria que geram os desenvolvimentos ‘bioconvergentes”, a reunião da farma e da bioengenharia.

As principais raízes da indústria de bioengenharia suíça evoluíram da relojoaria e da indústria de máquinas.

Cerca de 1.600 empresas na Suíça fazem parte da indústria de engenharia hospitalar. 51.000 funcionários trabalham no setor, com uma taxa de crescimento anual de mais de 1,5% nos últimos dois anos.

O setor medtech representa 2,1% do PIB suíço, 1,1% do total de empregos e de 5,5% do valor total das exportações.

As empresas suíças de medtech investem, em média, 13% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento, o que tem se mantido estável nos últimos cinco anos.

Cerca de 60% dos fabricantes suíços de medtech colaboram com as dez universidades e dois institutos federais de Tecnologia (ETH/EPFL).

Fonte: Relatório Swiss Medtech 2012

Concorrência

Embora a iniciativa Campus Biotech deva impulsionar a indústria local, Zürcher adverte que a Suíça é muito pequena para a região do Lago de Genebra poder competir contra outras regiões suíças como Basileia e Zurique.

Basileia é consideravelmente maior. De acordo com a BioValley Basel Association, a região noroeste possui cerca de 50.000 funcionários trabalhando em ciências da vida, bem como 15 mil cientistas, baseados em universidades, centros de pesquisa e parques tecnológicos. Ao todo, 900 empresas farmacêuticas e empresas “medtech”, de engenharia hospitalar, estão baseadas lá, incluindo gigantes como Novartis e Roche. Globalmente, isso representa 40% de todas as empresas farmacêuticas do mundo.

Zurique também tem um setor medtech próspero, embora menor do que o Health Valley. Cerca de 21.000 pessoas estão empregadas lá, o que representa cerca de quatro por cento do produto interno bruto do cantão de Zurique.

Juntas, essas três regiões formam a mais densa rede de empresas de biotecnologia em todo o mundo.

“A própria Suíça é um conglomerado. O país está bem posicionado a nível mundial, mas precisa se concentrar em seus pontos fortes e pensar sobre o que cada região pode fazer de melhor”, acrescentou.

O especialista em ciências da vida disse que os profissionais do país devem prestar atenção à concorrência do leste, especialmente da Índia e da China. Zürcher observa que Xangai abriu recentemente um segundo centro de inovação biotecnológica e levou para lá os chineses que trabalhavam na costa oeste dos Estados Unidos.

“Os profissionais vão para onde as condições de trabalho são melhores, com acesso à ciência e ao financiamento. Nós temos tudo isso na Suíça, mas precisamos aproveitar mais, promovendo mais as ciências da vida na Suíça”, disse.

Adaptação: Fernando Hirschy

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