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Pesquisadores suíços ajudam serviço secreto americano

Melhor proteção para o presidente americano Barack Obama graças à Suíça. Keystone

Cartas suspeitas escritas ao presidente americano Barack Obama e outros membros do governo americano são analisadas através de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Lausanne.

Sua principal base é um banco de dados digital com mais de 10 mil diferentes provas de tinta, arquivadas nos últimos quarenta anos pelo serviço secreto.

“O serviço secreto americano lida com todos os tipos de correspondência suspeita como cartas anônimas ao presidente ou membros influentes do governo”, explica Christophe Champod, professor na Escola de Ciências Criminais da Universidade de Lausanne.

“Muitas vezes eles têm de lidar com documentos manuscritos. E as principais informações que lhes interessam são as que eles podem repassar para seus agentes de campo como tipo de caneta que foi utilizada”.

Esse tipo de informação pode ajudar os agentes a selecionar em uma lista de suspeitos. Provas da tinta ajudaram a identificar, por exemplo, o pesquisador de armas biológicas Bruce Ivins como a pessoa responsável pela criação e envio por correio de esporos bacterianos que mataram cinco pessoas nos ataques de antrax nos Estados Unidos.

Uma equipe de pesquisadores de Lausanne, juntamente com a empresa Camag, sediada na Basiléia e líder mundial em cromatografia (N.R.: processo através do qual moléculas presentes em misturas complexas podem ser separadas com base na solubilidade em diferentes solventes), levaram dois anos para elaborar um banco digital de tintas para o serviço secreto americano. A tecnologia é utilizada desde fevereiro de 2009.

O banco de dados foi criado de uma coleção de tintas pertencente ao serviço secreto americano, cujas origens estão nos anos 1960.

“Basicamente os agentes foram às lojas, compraram canetas e analisaram as tintas”, revela o cientista forense Cédric Neumann.

Coletando pistas

Ao utilizar a cromatografia, os cientistas são capazes de revelar os componentes químicos de um certo tipo de tinta e reconstruir pistas para detectar sua origem, quando foi introduzido no mercado e até mesmo o tipo de caneta utilizado.

O conjunto de 10 mil diferentes tipos de amostras de tinta e suas informações relacionadas era habitualmente guardado em centenas de arquivos em grandes armários.

A procura manual e análise de tintas específicas eram, por esse motivo, um processo laborioso, afirma Neumann.

“Elaboramos uma sistema que pode medir e analisar a informação digitalmente, permitindo armazená-la em um disco rígido avaliar os arquivos automaticamente através do uso de matemática e estatística”, completa.

O tempo necessário para analisar uma amostra de tinta suspeita foi reduzido de dois dias para apenas cinco minutos.

Origens do projeto

As origens desse projeto ultra-sensível remontam ao ano 2000, quando o serviço secreto americano bateu na porta de Neumann em Lausanne.

“Existem laços antigos entre o serviço secreto dos EUA e a Universidade de Lausanne”, explica o pesquisador. “Seu cientista chefe vem à Suíça uma ou duas vezes por ano. Ele nos visitou em 2000 e eu mostrei-lhe o que estava fazendo.”

A Escola de Ciências Criminais, que este ano celebra seu 100º aniversário, tem laços estreitos com várias polícias e serviços secretos de outros países, incluindo a CIA, o FBI e o Serviço Britânico de Ciências Forenses.

Neumann foi convidado a entrar para o serviço secreto americano em 2001 como funcionário interno. Mas depois dos ataques de 11 de setembro, ele foi forçado a mudar seus planos e continuar o projeto a partir da Suíça.

“Devido minha nacionalidade eles não puderam me manter, porém continuaram interssados no meu trabalho. Assim, eles financiaram minha pesquisa”, diz. “Foi realmente uma boa experiência. A partir do momento que ganhei a confiança deles, tinha uma grande liberdade de entregar aquilo que esperavam de mim.”

De qualquer maneira, o serviço secreto permanece discreto em relação ao seu novo brinquedo de alta tecnologia. “Isso faz parte do sigilo geral”, completa Champod. “Não existe um retorno operacional.”

Atualmente Neumann está trabalhando para o Serviço Britânico de Ciências Forenses em um novo sistema para medir estatísticas de impressões digitais para mostrar como traços de impressões digitais mantém são confiáveis.

“Estamos agora terminando os cálculos e eu tenho uma equipe trabalhando em um software parecido com uma TV, onde você coloca uma imagem no computador e marca diferentes características”, diz ele.

“Existe uma enorme distância entre a série americana de TV (CSI: Crime Scene Investigation), e o mundo verdadeiro da ciência forense. Porém somos poucos os que estão tentando fazer dessa série a realidade”, brinca Neumann.

Simon Bradley, swissinfo.ch

A Escola de Ciências Criminais na Universidade de Lausanne foi fundada por Rodolphe Archibald Reiss em 1909.

Ela foi a primeira escola científica de polícia no mundo e continua sendo uma das poucas instituições na Europa a oferecer treinamento completo em ciências forenses. Também é a única instituição universitária na Suíça a oferecer treinamento completo em criminologia.

A escola oferece bacharelado e mestrado em ciências forenses, um mestrado em justiça criminal e questões legais, crime e segurança em novas tecnologias, assim como um PhD em ciência forense e criminologia.

A escola tem dez professores, 70 pesquisadores assistentes e cerca de 400 estudantes.

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