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Suíça e Chernobyl: questões para responder

Strahlenschutz-Messungen im Tessin. Keystone

Vinte anos após o desastre de Chernobyl, cientistas ainda não podem avaliar as conseqüências para a saúde das populações atingidas. Para eles o perigo já passou.

Cientistas reunidos em Berna afirmam que técnicas de medição de radioatividade melhoraram nos últimos anos.

O acidente ocorreu em 26 de abril de 1986 na Usina Nuclear Vladimir Lênin, Pripyat, Ucrânia, 18 km ao noroeste da cidade de Chernobyl, 16 km da fronteira com a Bielorússia, e cerca de 110 km ao norte de Kiev. Nesse dia fatídico o quarto reator da usina sofreu uma catastrófica explosão de vapor que resultou em incêndio, uma série de explosões adicionais, e um derretimento nuclear.

Considerado o pior acidente nuclear da história da energia nuclear, ele produziu uma nuvem de radioativa que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia, Reino Unido e outras regiões do continente. Grandes áreas da Ucrânia, Bielorússia e Rússia foram contaminadas, resultando na evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil pessoas.

Na Suíça, vinte anos depois, cientistas continuam pesquisando para descobrir quais são as conseqüências a longo prazo para a saúde das populações vitimadas. A primeira delas é a sua própria saúde, através de doenças como o câncer da glândula tireóide.

– Precisamos de cinco a dez anos para poder chegar a uma conclusão – avalia o médico epidemiologista Jean Michel Lutz, membro da Associação Suíça de Registro do Câncer, durante um encontro realizado recentemente em Berna pelos profissionais do setor.

As estatísticas de câncer da glândula tireóide são consideradas fracas e muitas das pesquisas contraditórias. Nenhum dos participantes chegou uma conclusão sobre as tendências nessa área, já que outras pesquisas semelhantes realizadas no Canadá mostram divergências. Ao contrário da Suíça, o país vizinho dos EUA não detectou grandes incidências de radiação depois do acidente de Chernobyl.

Sem registro nacional

O tema é complexo, reforçam os participantes do encontro, que ainda lembram o fato da incidência de câncer ser sempre maior com o avanço da idade. A população que estava na faixa dos vinte anos em 1986, tem hoje apenas 40.

Os registros de câncer na Suíça são de responsabilidade cantonal e não federal. Como alguns cantões não recolhem os dados, as estatísticas atuais só avaliam a situação de 60% da população.

Na Suíça, a carga adicional de radiação provocada por Chernobyl é 240 vezes menor do que o emitido por fontes naturais de radiação. Devido aos resultados das medições atuais, o Departamento Federal de Saúde (BAG, na sigla em alemão) chegou à conclusão de que menos de um por cento dos casos de câncer poderia ser associado ao acidente nuclear na Ucrânia. Esse cálculo é feito segundo critérios de risco utilizados pela Comissão Internacional graças ao estudo das estatísticas dos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki.

Proibição do consumo de peixe

Na época, o caso Chernobyl havia provocado uma crise de confiança entre a população e o governo helvético. O ápice ocorreu apenas quatro dias após a catástrofe, em 30 de abril de 2004, quando uma gigantesca nuvem radioativa atingiu a Suíça.

No Tessin havia chovido durante quase todo o dia. Por isso o cantão de língua italiana acabou sendo o mais atingido pela radioatividade. Porém, em dimensões menores, outras regiões sofreram como as que estão nas cercanias do Lago de Boden (Bodensee) e no Jura.

O governo não deixou de tomar medidas: no Lago de Lugano foi proibida a pesca (mas apenas na parte italiana), assim como o abatimento de carneiros e cabras (mas só até o final de agosto do ano). As autoridades recomendaram também às gestantes, mulheres que davam de mamar aos seus filhos e pequenas crianças, que não consumissem leite fresco ou legumes.

Leite processado em outras regiões

O leite de vaca produzido no Tessin foi levado para as regiões centrais da Suíça, onde deveria ser processado para produção de queijo, creme e manteiga. O iodo – esse foi o argumento utilizado na época – precisaria decompor até que as mercadorias pudessem ser colocadas nas prateleiras. Apenas parte do césio iria junto.

– Hoje já não faríamos isso. Muitos produtores e consumidores reagiram de forma sensível a essa notícia – afirma Werner Zeller, diretor do departamento de radioatividade no BAG.

Até hoje césio 137 (meia-vida de 30 anos) é encontrado na natureza. Os radionuclídeos penetraram profundamente nas camadas de terra, mas até hoje seus traços são detectados em quantidades ínfimas nos porcos selvagens ou cogumelos das florestas.

Pílulas de iodo para a população

Chernobyl já não é mais tema para a população suíça.

– O césio tem uma meia-vida muito maior do que a memória humana. Além disso, nos últimos vinte anos a proteção contra radioatividade melhorou consideravelmente na Suíça – acrescenta Zeller.

O técnico explica que as medições são atualmente mais exatas e abrangentes. Por medida de segurança, a população que vive num perímetro de 20 quilômetros ao redor das usinas nucleares recebe regularmente pílulas de iodo (ler matéria acima).

Para Zeller, o que ainda precisa ser melhorado na Suíça é o sistema de gerência de crises.

– Um acidente nuclear pode ocorrer a qualquer momento. Os exercícios que fazemos regularmente mostram que ainda precisamos melhorar em vários pontos.

swissinfo, Andreas Keiser

Tessin identificou em 1986 50.000 Becquerel Césio 137, o que faz o cantão a área mais radiativa da Suíça.

Três radionuclídeos (denominação que se dá normalmente aos átomos instáveis) contribuíram a essas taxas: iodo (meia-vida de oito dias), Césio 134 (meia-vida de dois anos) e Césio 137 (meia-vida de oito anos).

Em 1986, ano do acidente de Chernoby, as autoridades suíças proibiram a pesca no Lago de Lugano e desaconselharam o consumo de peixe, laticínios e legumes para grupos de risco da população.

O governo federal foi obrigado posteriormente a indenizar os pescadores e agricultores pela queda nas vendas.

A Ucrânia e a Bielorrússia foram os países mais atingidos pela tragédia de Chernobyl.
Números atuais dizem que mais de 7 milhões de pessoas ainda sofrem conseqüências da radiação provocada pelo acidente.
Até hoje muitas vítimas adoecem de câncer.
Segundo os especialistas, apenas em 2016 será possível avaliar a amplitude da tragédia e o número total de vítimas.

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